Ministério dos Direitos Humanos apaga nota sobre mortes no Jacarezinho
Pasta de Damares Alves retirou do ar uma publicação em que dizia lamentar as mortes de 28 pessoas durante operação policial
atualizado
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Após ser criticado por apoiadores do governo federal, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos retirou do ar uma nota em que lamenta as mortes ocorridas na operação policial realizada na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. O caso ocorreu na última quinta-feira (6/5) e resultou na morte de 28 pessoas, incluindo um policial.
“O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos lamenta as mortes ocorridas em operação policial na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro (RJ), nesta quinta-feira”, divulgou a pasta em nota enviada à imprensa na sexta (7/5).
No mesmo texto, a pasta defendeu “urgência no combate ao crime organizado, tráfico de drogas e às demais atividades marginais que ocorrem na cidade”. “Entendemos, também, que essas devem ocorrer de forma a proteger a vida de todos, especialmente dos moradores, que, também, são vítimas e reféns de atividades criminosas”, completou o ministério na nota.
A manifestação provocou reação imediata entre apoiadores do governo, que criticaram o posicionamento. Nesta segunda-feira (10/5), o link onde estava hospedada a nota publicada pelo ministério foi tirado do ar.
O Metrópoles acionou o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para comentar a remoção da publicação e aguarda retorno. O espaço está aberto.
“Ofensa ao povo”
Nesse domingo (9/5), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se manifestou a respeito da operação policial. Por meio de seu Twitter, o mandatário do país defendeu que “ao tratar como vítimas traficantes que roubam, matam e destroem famílias, a mídia e a esquerda os iguala (sic) ao cidadão comum, honesto, que respeita as leis e o próximo”.
“É uma grave ofensa ao povo que há muito é refém da criminalidade. Parabéns à Polícia Civil do Rio de Janeiro!”, escreveu o presidente. A operação já foi alvo de pedido de investigação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por indícios de ‘execução arbitrária’”.
A operação
Deflagrada para cumprir mandados contra pessoas ligadas ao tráfico, a incursão, na prática, resultou em pouco resultado efetivo e muitas mortes. Em alguns casos, segundo representantes da Defensoria Pública e de moradores, há indícios de mortos sem confronto ou que já estavam feridos e rendidos. Defensores falam em “execução” e classificam o episódio como uma chacina.
Na sexta-feira (7/5), o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, classificou como “bandidos” os mortos na operação policial. “Tudo bandido! Entra um policial numa operação normal e leva um tiro na cabeça de cima de uma laje. Lamentavelmente, essas quadrilhas do narcotráfico são verdadeiras narcoguerrilhas, têm controle sobre determinadas áreas e são um problema da cidade do Rio de Janeiro”, declarou o militar ao chegar para despachar no Palácio do Planalto.
Também na sexta-feira, o ministro Edson Fachin, do STF, pediu ao procurador-geral da República, Augusto Aras, uma investigação sobre o episódio, que para o ministro do Supremo teve indícios de “execução arbitrária”. “Os fatos relatados parecem graves e, em um dos vídeos, há indícios de atos que, em tese, poderiam configurar execução arbitrária”, afirmou Fachin.