Militar pagou excesso de bagagem por trazer “presentes” para Bolsonaro
Ex-assessor de ministro de Bolsonaro disse, em depoimento à Polícia Federal (PF), que, além das joias, trouxe outros presentes sauditas
atualizado
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O militar Marcos André dos Santos Soeiro, que foi barrado pela Receita Federal ao tentar entrar ilegalmente no Brasil com joias avaliadas em R$ 16,5 milhões, disse à Polícia Federal (PF) que precisou pagar excesso de bagagem para trazer ao país “tantos presentes” ofertados pelo governo da Arábia Saudita ao Estado brasileiro no governo Jair Bolsonaro (PL).
Soeiro era assessor do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque. Em outubro de 2021, após viagem da equipe do ministro à Arábia Saudita, sem a presença do ex-presidente Bolsonaro, o Fisco apreendeu um pacote de joias que estava na bagagem do grupo, por tentativa de entrada ilegal no país.
Ele integrou a comitiva liderada pelo ministro de Minas Energia, que representou o presidente da República.
O assessor disse que, ao regressar ao Brasil, o grupo trazia, além das joias, coisas como “caixas grandes com muitas frutas, cafés e óleos”. Alguns desses itens também foram retidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As informações são do jornal O Globo.
Detalhes
À PF, o ex-assessor de Bento Albuquerque relatou como recebeu as joias para trazê-las ao Brasil. Segundo ele, no último dia da missão oficial na Arábia Saudita, em 25 de outubro de 2021, Bento Albuquerque participou de um jantar restrito oferecido pala família real saudita, evento que, segundo ele, se estendeu até tarde.
Às 23h, Soeiro falou por telefone com o ex-ministro, pois o retorno ao Brasil estava programado para ocorrer em poucas horas. Albuquerque teria dito a ele que “o príncipe regente saudita falou que enviaria ainda um outro presente para o hotel, porém, o ministro disse não saber o que era”.
O ex-assessor afirmou à PF que, por volta de meia-noite, um emissário do príncipe foi ao hotel onde a comitiva brasileira estava hospedada com duas caixas embrulhadas em papel especial com brasão da família real.
Soeiro telefonou para Albuquerque, que ainda se encontrava no jantar oficial, para informar que “as caixas chegaram e estavam lacradas”. Diante da quantidade de presentes, o ex-assessor avisou que não tinha mais espaço na sua bagagem.
O ministro, então, decidiu que levaria um pacote e que o assessor transportaria o outro. Apenas o ajudante foi retido pela Receita ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Ao passar pela alfândega no Brasil, o ex-assessor foi selecionado por um servidor da Receita para uma inspeção. Bento Albuquerque seguiu normalmente.
O repreentante do Fisco avisou que faria a abertura das caixas, “pois aparentava ter joias”. Bento Albuquerque, que não estava mais no local, decidiu retornar e afirmou que tratava-se de um presente para a então primeira-dama Michelle Bolsonaro, mas peça foi retida e lá permanece até hoje.
Entenda
Até agora, descobriu-se que Bolsonaro recebeu pelo menos três conjuntos de joias do país árabe. Há uma investigação em curso sobre o primeir, que foi uma coleção feminina, com colar de R$ 16,5 milhões. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Já o segundo conjunto é um grupo de joias masculinas, que veio na bagagem do ex-ministro Bento Albuquerque, também em 2021.
Um outro conjunto havia sido recebido anos antes por Bolsonaro, em mãos, durante viagem que fez em outubro de 2019. A confirmação veio da defesa do ex-presidente: “Os bens foram devidamente registrados, catalogados e incluídos no acervo da Presidência da República conforme legislação em vigor”.
A lista com os itens recebidos por Bolsonaro na viagem que incluiu Japão, China, Emirados Árabes e Arábia Saudita, em outubro de 2019, já havia sido obtida pelo Metrópoles, em novembro daquele ano. Nesse rol, consta um relógio de pulso, um anel, um par de abotoaduras, uma caneta e uma Masbaha, espécie de rosário árabe.
Em 24 de março a defesa de Bolsonaro entregou joias e armas que o ex-mandatário ganhou de autoridades árabes e incorporou a seu acervo pessoal.
Depoimentos
De volta ao Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro deverá depôr à PF na próxima quarta-feira (5/4). Está marcada para o mesmo horário a oitiva de Mauro Cid, considerado braço direito do ex-mandatário.