Militância pró-Moro se separa do bolsonarismo e cria rede virtual
Grupos em aplicativos de mensagens e no Facebook se formam para apoiar o ex-ministro Sergio Moro, mas esbarram na falta de estrutura
atualizado
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O bolsonarismo está ganhando mais um oponente na batalha das redes sociais: o morismo. O movimento ainda é tímido, mas nasce de um racha ocorrido com o ruidoso pedido de demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro na última semana, e pode crescer com o apoio de outros ex-aliados do presidente Jair Bolsonaro que viraram inimigos, como a deputada Joice Hasselmann. Seus limites podem estar na falta de uma estrutura de produção de conteúdo de propaganda, área em que o bolsonarismo joga pesado.
Quando Moro deixou o governo fazendo graves acusações, na manhã de sexta (24/04), as redes bolsonaristas demoraram a reagir e grupos bolsonaristas registraram fuga de membros em aplicativos como WhatsApp e Telegram. Parte dessas pessoas criou grupos pró-Moro ou de protesto contra o presidente, com nomes como “Bolsonaro Traidor”.
O fenômeno também está presente no Facebook, onde a página pública “Sergio Moro presidente 2022” tinha 10 mil curtidas até a noite de quarta (29/04). No espaço virtual, os moristas estão travando um embate com bolsonaristas que agora rejeitam o ex-ministro, considerado por eles um traidor.
Veja registros do morismo nas redes sociais:
A dificuldade imediata que o morismo enfrenta é a falta de uma estrutura de produção de material. Enquanto o bolsonarismo conta com dezenas de sites, canais no YouTube e produtores de conteúdo, os apoiadores de Sergio Moro sofrem com a falta de material sobre ele. São poucos memes sobre o ex-juiz da Lava Jato para competir com a artilharia bolsonarista, por exemplo.
Se quisesse jogar esse jogo, o ex-ministro Moro teria que investir tempo e dinheiro, afirma o pesquisador e consultor Victor Trujillo, especialista em marketing político. “Teria que ter profissionais sustentando um engajamento. Mas duvido que o próprio Moro vá se envolver, porque, ainda que ele tenha objetivos eleitorais, seria queimar a largada. E a militância vai se ressentir da falta de uma liderança direta dele, por isso é um desafio a criação de uma militância virtual para o Moro”, opina.
Para Trujillo, a provável submersão do ex-ministro do debate político, ao menos neste primeiro momento, tem um preço. “A perda de protagonismo arranha a imagem. O ex-juiz carrega uma biografia memorável da Lava Jato, apesar de um pouco manchada pela Vaza Jato, mas, a cada mês, essa glória vai ficando no passado, vai sumindo um pouco da memória das pessoas. E, sem cargo, sem partido, ele fica um pouco sem voz”, avalia.
A falta da liderança pessoal de Moro em uma estratégia digital pode ser preenchida, em parte, por aliados com mandato. Além da já citada deputada federal Joice Hasselmann (SP), líder do PSL na Câmara, que já disse abertamente que quer fazer campanha para Moro presidente em 2022, o senador e ex-candidato à presidência Álvaro Dias (Podemos-PR) já se coloca como cabo eleitoral do ex-ministro – e quer atraí-lo para o seu partido.
Apesar dessa ajuda, as limitações do morismo virtual frente ao bolsonarismo podem ser exemplificadas na imagem abaixo. Em um período de algumas horas, os grupos de apoio ao presidente conseguem produzir um volume muito maior de mensagens. E, na internet, tamanho é documento.