Miami Herald cita Paulo Octávio em esquema de lavagem de dinheiro
Uma extensa reportagem publicada na versão on-line do periódico americano Miami Herald denuncia o envolvimento do empresário e ex-governador do DF Paulo Octávio em um suposto esquema de lavagem de dinheiro em solo estrangeiro
atualizado
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O empresário e ex-governador do Distrito Federal Paulo Octávio e o dono de postos de gasolina no DF Marcos Pereira Lombardi foram citados na investigação Panama Papers. A série de reportagens que começou a ser divulgada neste domingo (3/4) apontou 128 políticos e funcionários públicos de diversos países entre os envolvidos em um esquema de corrupção mundial.
A Panama Papers denuncia a abertura de offshores (contas e empresas no exterior) para lavagem de dinheiro e sonegação de impostos, entre outros crimes. O escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca é um dos maiores criadores de offshores no mundo e foi contratado por vários políticos e empresários para intermediar negócios suspeitos.Uma força-tarefa formada por 370 jornalistas de 76 países obteve acesso a todos os documentos desse escritório de advocacia do Panamá, entre 1977 e o fim de 2015. Com esses dados em mãos, o jornal Miami Herald publicou uma extensa reportagem em sua versão on-line sobre o envolvimento suspeito dos empresários brasilienses com o escritório panamenho.
Segundo a publicação americana, Paulo Octávio teria, em 2011, comprado um apartamento de US$ 3 milhões (cerca de R$ 10,6 milhões) no condado de Miami, em nome de uma empresa criada pela Mossack Fonseca. O texto afirma que se trata de um imóvel luxoso, com serviço de quarto 24 horas para os moradores e mordomos particulares. De acordo com o Miami Herald, a propriedade pertence à Isaias 21 Property, com sede em Miami Beach, e teria sido paga em dinheiro vivo.
Ocorre que, o responsável legal pela Isaias 21 é uma outra empresa, a Mateus 5 International Holding. A Mateus 5 é também uma offshore com sede nas Ilhas Virgens britânicas, onde os donos não precisam revelar seus nomes. O jornal americano revelou que a Mateus 5 pertence a Paulo Octávio.
A publicação alega que, por meio dessas offshores, estrangeiros alimentam a construção de imóveis ultraluxuosos em Miami Beach vendidos a preços exorbitantes, com dinheiro possivelmente “sujo”, já que os donos são investigados ou respondem por crimes de corrupção em seus países de origem.
“Os arquivos vazados da Mossack Fonseca oferecem uma janela ao sigiloso mundo do mercado imobiliário de luxo no sul da Florida”, diz o jornal. “É uma gota no oceano do mercado de luxo de Miami. A Mossack Fonseca é uma das muitas empresas que abrem offshores. E especialistas dizem que a falta de controle nas negociações imobiliárias em dinheiro vivo fez de Miami um imã para dinheiro duvidoso”, continua a reportagem.
De acordo com a publicação, os compradores desses apartamentos usam offshores para adquirir os imóveis porque a negociação via esse tipo de empresa é mais discreta e vantajosa financeiramente do que se feita em nome de pessoas físicas.
Vale destacar que as firmas podem ser legais ou ilegais, mas têm em comum o fato de operarem em paraísos fiscais, para pagar menos impostos e dificultar que as autoridades descubram os verdadeiros donos.
“De Brasília a Bal Harbour”
De acordo com o critério adotado pelo Miami Herald em sua reportagem, Paulo Octávio reúne duas características que lhe tornariam suspeito de estar envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro em solo americano. Ele comprou o imóvel em dinheiro vivo por intermédio de uma offshore e responde por corrupção na Justiça brasileira.
Paulo Octávio é um dos réus da operação Caixa de Pandora, que em 2009 revelou extenso esquema criminoso de desvio de recursos públicos, do qual participavam políticos, empresários e servidores do governo da capital federal.
Miami Herald cita que Paulo Octávio, filho de um dentista, fez fortuna construindo shoppings e hotéis no Brasil. Foi vice-governador na gestão de José Roberto Arruda, que acabou preso em decorrência da operação Caixa de Pandora. Quando o titular perdeu o cargo, Paulo Octávio assumiu o posto de governador por menos de duas semanas, pressionado por denúncias de participação no mesmo escândalo.
A reportagem americana, inclusive, reproduz trechos das filmagens que vieram a público durante a investigação do esquema. O texto ainda lembra outros personagens envolvidos no escândalo, como o ex-deputado distrital Leonardo Prudente. Com apuração detalhada, o periódico chega a informar que Prudente “estufou os bolsos” com o suposto dinheiro da corrupção.
A mesma reportagem também aponta Marcos Pereira Lombardi, investigado por formação de cartel em postos de combustível no DF, como dono de outros apartamentos em Miami comprados via offshore. Sobre Marcola, o Herald diz que o empresário gastou US$ 2,7 milhões (aproximadamente R$ 9,6 milhões) em dois apartamentos em Miami, nos condomínios Trump Towers I e II. O jornal de Miami conversou com Marcola.
Por e-mail, o empresário disse ao Miami Herald que comprou as propriedades porque enxergou ali uma “oportunidade de negócio”, já que os preços eram “atraentes” e que “ama os Estados Unidos e Miami”. Ele disse também que paga todos os seus impostos em dia.
“Lombardi, conhecido por ‘Marcola’, é investigado no Brasil por supostamente ter obtido vantagem em negociações na compra de terras do governo e por formação de cartel no preço da gasolina, acusações que ele nega. Ele comprou uma unidade na Trump Tower por meio de uma companhia na Flórida em que aparece como administrador e outra como pessoa física”, diz a reportagem.
O Miami Herald também procurou Paulo Octávio, mas não obteve resposta do empresário. Ao Metrópoles, a assessoria de imprensa do ex-governador confirmou que a Mateus 5 International Holding de fato pertence a Paulo Octávio, mas que a firma está devidamente declarada no Imposto de Renda do empresário, disponível para consulta no escritório dele. Ainda segundo a assessoria, Paulo Octávio criou a offshore justamente para a compra do imóvel. O apartamento foi adquirido em 2011, na época em que o filho mais novo do empresário passou a estudar na cidade norte-americana.
Como funciona o esquema envolvendo brasileiros, segundo o Miami Herald
O nome de Paulo Octávio caiu numa teia de investigação do governo americano sobre o uso do mercado imobiliário de alto padrão para a lavagem de dinheiro. Segundo as informações publicadas no jornal americano, Miami é o condado dos Estados Unidos com a maior incidência desse tipo de operação ilegal.
O Miami Herald usa uma ilustração para exemplificar como se dá o crime financeiro. Segundo o gráfico utilizado pela publicação, quando investidores brasileiros querem comprar imóveis em Miami, procuram uma offshore porque ela oferece sigilo e vantagens de taxas estaduais. Em seguida, o empresário busca orientação de um escritório de advocacia em Miami. Essa empresa por sua vez aciona o Mossak Fonseca para criar uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, onde os donos das companhias não tem de revelar seu nome.
A partir de então, a firma de Miami cria uma companhia baseada na Flórida que é de propriedade da offshore. Tudo isso para manter o anonimato de quem está disposto a fazer uma signigicativa compra em dinheiro vivo, dinâmica que para os investigadores tem sido muito utilizada no processo de lavagem de dinheiro.