Mesmo com Marcelo Odebrecht preso, propinas continuaram a ser pagas
A manutenção do esquema foi considerada uma “ousadia” pela procuradora da República Laura Gonçalves Tessler. Pagamentos ocorreram até novembro do ano passado
atualizado
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Mesmo com o presidente da empreiteira, Marcelo Bahia Odebrecht, preso a Operação Lava Jato descobriu indícios de que os pagamentos de propina do Grupo Odebrecht ocorreram até novembro de 2015, aponta o Ministério Público Federal. A manutenção do esquema de propina foi considerada uma “ousadia” pela procuradora da República Laura Gonçalves Tessler, durante entrevista coletiva nesta terça-feira (22/3), para explicar os desdobramentos da 26ª etapa da Operação Lava Jato, batizada de Xepa.
“Apurou-se que as tratativas acerca dos pagamentos de vantagens indevidas se estenderam até, pelo menos, novembro de 2015, conforme comprovado por troca de e-mails entre os investigados”, informou a força-tarefa da Lava Jato. “Esse setor de operações estruturadas tinha trabalhadores voltados exclusivamente para as atividades ilícitas. Verificamos também o envolvimento direto de Marcelo Odebrecht no pagamento de propina”, destacou a procuradora.A nova etapa da operação foi deflagrada na manhã desta terça no Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Piauí, em São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco e na Bahia. Cerca de 380 policiais federais cumpriram 110 ordens judiciais, sendo 67 mandados de busca e apreensão, 28 mandados de condução coercitiva, 11 mandados de prisão temporária e quatro mandados de prisão preventiva. As sedes da Odebrecht no DF e em Salvador foram um dos alvos da operação.
Operações estruturadas
Os pagamento se davam, segundo as evidências surgidas após a Operação Acarajé – 23ª fase deflagrada em 22 de fevereiro, por meio de uma estrutura do Grupo Odebrecht “profissionalmente organizada” chamado “setor de operações estruturadas”.
“Este setor tinha dentre suas missões viabilizar, mediante ‘pagamentos paralelos’, atividades ilícitas realizadas em favor da empresa. Para operacionalizar o esquema ilícito, foi instalado dentro do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht um sistema informatizado próprio, utilizado para armazenar os dados referentes ao processamento de pagamentos ilícitos e para permitir a comunicação reservada entre os executivos e funcionários envolvidos nas tarefas ilícitas.”
Marcelo Odebrecht foi condenado no mês passado pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos em primeiro grau da Lava Jato, a 19 anos de prisão, na primeira ação pena envolvendo o grupo. A nova fase complica a vida do empreiteiro – detido desde 19 de junho, em Curitiba, alvo da 14ª fase batizada de Operação Erga Omnes.
“Dentre as razões que embasaram as prisões preventivas estão as novas evidências de pagamentos de propinas vultosas, disseminadas e sistematizadas como modelo de negócio, até data recente, mesmo após a 14ª fase da Lava Jato, a qual focou sobre a atividade ilícita da Odebrecht”, informa o MPF.
“Os indicativos de obstrução à investigação, com a destruição de arquivos e informações; bem como as provas de mudança para o exterior, por conta da empresa e após a deflagração da Lava Jato, dos funcionários responsáveis pela estruturação dos pagamentos ilícitos.”
Acarajé
A Operação Xepa é desdobramento da Acarajé, em que foi preso o marqueteiro do PT João Santana e sua mulher, Mônica Moura. Eles receberam pelo menos US$ 3 milhões da Odebrecht em conta secreta na Suíça. A partir dessas investigações, foram descobertas as planilhas secretas da empreiteira com pagamentos de propina e codinomes.
“A partir das planilhas obtidas e das anotações contidas no celular de Marcelo Odebrecht, obtiveram-se mais evidências contundentes de que este, então Presidente da Organização Odebrecht, não apenas tinha conhecimento e anuía com os pagamentos ilícitos, mas também comandava diretamente o pagamento de algumas vantagens indevidas, como, por exemplo, as vantagens indevidas repassadas aos publicitários e também investigados Monica Moura e João Santana”, informou o MPF.