Marina critica Lula em pesquisas: “Justiça tem de ser respeitada”
Candidata da Rede deu a declaração durante visita a Belém (PA), onde defendeu proteção a museus e à floresta amazônica
atualizado
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Enviado especial a Belém (PA) – Em visita à capital paraense nesta quarta-feira (5/9), a presidenciável Marina Silva (Rede-PV) disse que os institutos de pesquisa devem realizar consultas apenas com os nomes dos concorrentes que, de fato, têm direito a aparecer na cédula de votação.
“Há uma decisão da Justiça de não colocar o nome de candidatos que não estão de acordo com o processo legal da eleição. A Justiça tem de ser respeitada”, declarou a postulante ao Palácio do Planalto ao Metrópoles.
Ainda sobre o mesmo assunto, ela declarou que as pesquisas, embora revelem apenas um momento da intenção dos eleitores, são importantes para que as pessoas “façam suas escolhas com base naquilo que está de acordo com a lei”. Esses comentários foram feitos antes da divulgação, pela TV Globo, da pesquisa Ibope que havia sido adiada por causa de dúvidas em relação à legalidade da presença do nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os presidenciáveis, visto que, por 6 votos a 1, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou em 1º/9 o registro de candidatura do petista.
Segundo essa sondagem eleitoral, Marina está empatada com Ciro Gomes (PDT), com 12% das intenções dos eleitores, e atrás de Jair Bolsonaro (PSL), que tem 22%. Geraldo Alckmin (PSDB) aparece em quarto, com 9%, e Fernando Haddad (PT), substituto de Lula, com 6%. Marina concedeu entrevista debaixo de chuva na porta do Museu Paraense Emílio Goeldi, onde esteve durante mais de uma hora para conversar com pesquisadores.
Patrimônio e sustentabilidade
A candidata da Rede decidiu visitar a instituição depois do incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, no último domingo (2). Nesse compromisso, ela focou em temas relacionados a pesquisa e ao desenvolvimento “sustentável” da Região Norte do país. “Na Amazônia há lugar para um programa de desenvolvimento que possa gerar emprego, renda, qualidade de vida para as pessoas e ao mesmo tempo preservar a nossa imensa riqueza natural e a nossa diversidade cultural”, afirmou.
Em seguida, Marina falou sobre a preservação do patrimônio nacional. “Esta é uma visita de respeito a uma das maiores contribuições à ciência brasileira, que infelizmente foi negligenciada com a tragédia da queima do Museu Nacional”, disse a candidata. “Meu programa de governo prioriza a recuperação dos museus, o respeito pela nossa cultura, pela nossa história, pelo nosso patrimônio histórico”, acrescentou.
Também na entrevista, a presidenciável disse que durante sua passagem pelo Ministério do Meio Ambiente, nos governos Lula, o desmatamento na Amazônia foi reduzido em 80%. “Infelizmente, depois da minha saída, foram abandonados os planos, as operações integradas entre Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e Polícia Federal, e o desmatamento voltou a crescer, sobretudo em terra pública”, afirmou.
A proposta de Marina é “implementar” o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, com apoio às atividades produtivas que não impactem o meio ambiente. Ela também prometeu realizar concessões de florestas públicas para o manejo “em bases sustentáveis”. “Vamos trabalhar para que se tenha apoio à agricultura, mas usando as tecnologias disponíveis na Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], onde não será mais necessário ampliar área para aumentar a produção. Vamos aumentar a produção com ganhos de produtividade e, com isso, chegar ao desmatamento zero”, disse.
De acordo com as propostas da candidata, devem ser priorizadas as áreas de proteção integral e as reservas extrativistas: “Que os produtores não precisem mais abrir novas áreas porque iremos usar com alta produtividade as áreas que já foram abertas. Sobretudo no caso da pecuária, é possível dobrar a produção utilizando as técnicas já disponíveis pela Embrapa”.
Marina também prometeu proteger os índios com demarcação das terras e não permitindo nenhum tipo de invasão. Sobre esse tema, ela disse que pretende criar um fundo de regularização fundiária para indenizar as pessoas que foram levadas para áreas indígenas por programas de governo. Segundo a assessoria da candidata, ela se referia a fazendeiros do Mato Grosso do Sul que, durante o governo Getúlio Vargas, compraram áreas indígenas. A indenização seria para retirar esses proprietários das áreas e os índios poderem voltar para suas terras.
Museu Goeldi
Fundado em 1866, o Emílio Goeldi é o segundo museu de ciências mais antigo para o Brasil, perde apenas para o Museu Nacional do Rio de Janeiro, incendiado na noite de domingo (2). Com mais de 4,5 milhões de itens tombados, a instituição agora ocupa o primeiro lugar do país nesse quesito.
Voltadas para estudos científicos da Amazônia, as coleções do museu incluem 120 mil objetos e 2 milhões de fragmentos da região, 20 mil itens referentes a cerca de 80 línguas e etnias indígenas, 350 mil livros e 20 mil documentos. O Parque Zoobotânico possui 1.700 animais de 80 espécies.
Segundo nota divulgada nesta quarta-feira (5), cortes nos orçamentos quase provocaram o fechamento de duas unidades do Emílio Goeldi. Hoje, o museu tem 127 projetos em andamento. Desse total, 82% são relacionados a pesquisas e o restante trata de educação, comunicação e extensão.