Marcos Rogério afirma que apresentará relatório “paralelo” na CPI
Defensor do governo não descarta indiciar quem “apresentou notícias falsas” para atacar o governo e aponta “teoria do crime impossível”
atualizado
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O senador Marcos Rogério (DEM-GO), um dos principais defensores do governo na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado, informou que já se articula para apresentar um relatório paralelo ao do senador Renan Calheiros (MDB-AL), ao fim dos trabalhos da comissão. Segundo ele, seu relatório também apresentará uma lista de pedidos de indiciamento, que, em sua visão, acabaram por levantar notícias falsas contra o governo.
O senador não aceitou detalhar quem seriam, no entanto apontou que seu texto conterá nomes de pessoas que, de uma forma ou de outra, levantaram “calúnias” sobre o atual governo. Ele não descartou apontar testemunhas ouvidas pelo colegiado até o momento, mas disse que só revelará o nome quando apresentar o texto.
“Não faço como o relator (Renan Calheiros), que prejulga”, disse o senador.
“Nós estamos diante da situação clássica da teoria do crime impossível. A CPI está fazendo barulho, construindo uma narrativa, mas não há o mínimo de elemento que induza sequer a suspeita. Não dá. É forçação de barra. É claro que posso pedir indiciamento. Para isso, basta ter elementos que apontem nessa direção, e isso a gente tem. A CPI está até agora fazendo barulho”, disse.
O senador faz segredo de nomes que poderiam constar como indiciados. “Fui relator do caso do Eduardo Cunha e não adiantei em nada o meu parecer”, lembrou.
Um dos pontos já destacados por Marcos Rogério diz respeito à gestão do governador Wilson Lima, no Amazonas.
Ele revelou que, caso Renan Calheiros deixar de registrar as informações colhidas nesta terça-feira pela CPI, com o depoimento do deputado Fausto Júnior, ele colocará em seu texto.
O deputado, que foi relator de uma CPI na Assembleia Legislativa do Amazonas, apontou irregularidades no contrato do hospital de campanha Nilton Lins, como que teriam sido cobradas 40 toneladas de roupa, em uma unidade que contava com apenas quatro pacientes, o que significaria um possível superfaturamento de 10.000%.
“Me admira o governador Wilson Lima ainda não ter sido afastado depois de todas essas denúncias e evidências. Não se trata de suspeita e suposição, e sim de algo concreto”, afirmou o senador Marcos Rogério.
Estratégia
Marcos Rogério afirmou ainda que o governo tem por estratégia também apontar quem mais teria interesse na compra da vacina indiana Covaxin. Com isso, ele encaminhou um convite para dois deputados do PCdoB: Orlando Silva (SP) e Renildo Calheiros (PE), líder do partido na Câmara e irmão do relator Renan Calheiros (MDB-AL)
“Apresentei requerimento pedindo a oitiva deles como convite, porque são parlamentares e gozam de imunidade”, destacou. “Esse princípio, no entanto, não está sendo respeitado para o líder do governo na Câmara, que os senadores querem votar sua convocação”, reclamou.
O senador se referiu à nova estratégia governista inaugurada nesta semana para tentar desviar o foco da investigação sobre as suspeitas de compra superfaturada de vacinas.
Defensores do governo querem envolver parlamentares de oposição, que chegaram a apresentar emendas na Câmara para a compra da vacina. Entre esses parlamentares está o próprio presidente da CPI, Omar Aziz, que foi autor do projeto de conversão da medida provisória no Senado.
Na manhã de segunda-feira (28/6), o próprio presidente Bolsonaro deu o tom dessa nova estratégia. Em conversa com seus apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que a emenda que possibilitou a importação da vacina Covaxin foi de autoria de Aziz, de Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e de Renildo Calheiros.
“Inventaram a corrupção virtual, né? Não recebemos uma dose, não pagamos um centavo. Mas a emenda para a Covaxin veio deles, Randolfe como relator, do irmão do Renan e do próprio Omar Aziz”, disse ele. Também afirmou que ninguém que quer superfaturar algo faz um preço 1.000% maior, pois todos iriam perceber.
Bolsonaro se referia às emendas à MP (medida provisória) 1026/2021, de fevereiro deste ano. A medida permite a importação e distribuição de vacinas que ainda não tem o registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e conta com emendas de diversos congressistas.