“Mar de lama” virá, diz Dominguetti, que denunciou propina por vacina
Luiz Paulo Dominguetti denunciou, em junho do ano passado, proposta de propina de diretor do Ministério da Saúde em negociação da vacina
atualizado
Compartilhar notícia
O cabo da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) Luiz Paulo Dominguetti Pereira (foto em destaque) – que denunciou ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose de imunizante em contrato com o Ministério da Saúde – afirmou, em conversa com o Metrópoles, que um “verdadeiro mar de lama” ainda virá à tona.
Questionado se pretende concorrer a algum cargo político em 2022, Dominguetti disse não pensar nisso no atual momento. E completou:
“Tem muita coisa ainda para acontecer. Muita coisa ainda virá à tona. Coisas estarrecedoras. Um verdadeiro mar de lama. Não posso dar detalhes. A CPI não foi nada. Neste momento, só digo: a verdade será estarrecedora. Vocês nem imaginam quanto valia a vida! A CPI foi fundamental. Um patrimônio. Um pontapé.”
Ele, contudo, não quis antecipar qualquer uma das “coisas estarrecedoras” que antevê vindo à tona.
Dominguetti se tornou figura emblemática na CPI da Covid-19 ao denunciar ter recebido, como representante da empresa de vacinas Davati Medical Supply, proposta de propina do Ministério da Saúde.
A oferta teria partido do então diretor de Logística da pasta, Roberto Ferreira Dias, durante um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, região central da capital federal, em 25 de fevereiro do ano passado. O caso foi revelado pela repórter Constança Rezende, do jornal Folha de S. Paulo.
Dominguetti teria buscado a pasta para negociar 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) com proposta de US$ 3,5 por dose (depois disso, passou a US$ 15,5).
“Vida normal”
O cabo da PMMG conversou com o Metrópoles na quinta-feira (20/1) e na sexta-feira (21/1), por telefone e WhatsApp.
Quase três meses após o fim da CPI da Covid-19, Dominguetti relata ter voltado à sua vida normal – enquanto o processo na PMMG que avalia se ele feriu o Código de ética da corporação ao comercializar vacinas com o governo federal ainda não tem conclusão.
Em 30 de junho do ano passado, dia seguinte à publicação da denúncia pela Folha de S. Paulo, a PMMG informou ter aberto um Relatório de Investigação Preliminar contra Dominguetti para apurar possíveis condutas que ferem o Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado de Minas Gerais e o Estatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais.
“Cabe destacar que a Lei 14.310/2002 considera como transgressão disciplinar o militar da ativa que participe de firma comercial ou de empresa industrial de qualquer natureza, ou nelas exerça função ou emprego remunerado”, explicou a corporação.
Hoje, mais de seis meses depois, a PMMG ainda não concluiu a investigação.
Em nota ao Metrópoles, a Polícia Militar de Minas Gerais esclareceu que o Relatório de Investigação Preliminar foi solucionado pela instauração de um processo acusatório (Procedimento Administrativo Disciplinar), ainda em curso, “que possibilita ao cabo o direito à ampla defesa e ao contraditório”.
“A vida agora é a mesma de sempre, voltou ao normal. Continuo trabalhando na Polícia Militar de Minas, em Belo Horizonte. Não estou me aventurando em mais nada”, afirma Dominguetti. O militar trabalha na área administrativa da corporação.
“Se eu tivesse aceitado a propina, fazer parte do esquema, estaria com uma vida muito melhor, mas não era a minha índole me corromper”, relata Dominguetti. “Eu não poderia colocar debaixo do tapete.”
Elogios à CPI
Mesmo a CPI da Covid tendo pedido, no relatório final, o indiciamento de Dominguetti por corrupção ativa, o cabo afirma viver com tranquilidade e não ter medo de ser preso. Ao contrário, elogia a atuação da comissão e indica distância de eventual apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), como suas redes sociais deixavam transparecer, ou a qualquer outro político.
“As pessoas aqui em Belo Horizonte têm curiosidade em saber como era a CPI, como funcionava, agradecem pela coragem, outros criticam, falando que não precisava daquilo”, relata o policial militar.
“Eu não gosto de entrar nessa seara, se apoio ou não apoio o presidente, mas acredito que a CPI foi muito importante e teve um papel fundamental para a sociedade brasileira. Pegaram coisa minha de 2019 e 2017 no Facebook, mas hoje não apoio nem A, nem B, nem C. Quando eu comecei a conhecer Brasília, eu aprendi que as coisas não são bem do jeito que parecem ser”, sintetizou Dominguetti.