Major Olímpio diz que Guedes é “bola da vez, com missa encomendada”
Para o líder do PSL, a permanência do ministro é incompatível com planos de Bolsonaro de gastar com projetos dos militares
atualizado
Compartilhar notícia
Irritado com o tratamento dado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, aos senadores que votaram pela derrubada do veto do presidente Jair Bolsonaro na proposta que trata do congelamento dos salários de servidores públicos, o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), disse não acreditar na permanência do ministro na pasta, apesar dos elogios públicos ao ministro por parte do presidente.
Segundo o senador, toda a cena provocada por Bolsonaro já faz parte da “missa de corpo presente” de mais um assessor.
Na próxima semana, o Senado espera ouvir explicações de Guedes sobre as declarações de que os parlamentares teriam cometido “um crime contra o país” ao derrubar o veto do presidente, decisão posteriormente revertida na Câmara. Senadores, que antes estavam com o governo e agora se tornaram críticos de Bolsonaro, esperam sangrar o “Posto Ipiranga” do presidente. Um convite para que ele compareça já foi feito. “Se ele não comparecer, será convocado”, avisou Olímpio.
O ex-aliado de Bolsonaro aposta na mudança na condução da Economia. “Eu não tenho dúvida. Já estão fazendo a missa de corpo presente dele. Bolsonaro está apenas testando, mas o que vai acontecer é a mesma coisa que ocorreu com o ministro Mandetta e com Moro (ex-ministros da Saúde e da Justiça, respectivamente). Não tenha dúvida. Bolsonaro vive do conflito. Ele vive de colocar um contra o outro, até mesmo no time dele, na assessoria dele. Então ele vive de alimentar os ministros militares e mais o Tarcísio (ministro da Infraestrurura)”, argumentou.
Para Olímpio, a presença de Guedes no governo é incompatível com os planos do presidente de reeditar, segundo ele, um plano de infraestrutura semelhante ao do regime militar. “Ele quer reativar o ‘Pra Frente Brasil”, do Médici, em 1970″, observou. “Bolsonaro gostou de andar de capacete branco em obra e de subir em jumento. Já o Guedes está tentando segurar a chave do cofre”, disse.
“Mas não vai dar certo isso aí. O time do presidente manifesta que não suporta mais o Guedes”, destacou o senador em entrevista ao Metrópoles.
Pandemia
A semana terminou com os ânimos acirrados devido às declarações do ministro. Com isso, senadores já preparam denúncias para serem colocadas publicamente em sua audiência, caso ela ocorra. O líder do ex-partido de Bolsonaro pretende levantar a discussão sobre o uso das verbas destinadas ao combate à pandemia, que hoje estão sob investigação do Tribunal de Contas da União (TCU).
Para ele, na tentativa de conseguir fidelidade da base, o governo ofereceu verbas destinadas ao combate à pandemia de coronavírus para que fossem usadas pelos parlamentares em seus redutos eleitorais.
“Criminoso é o governo, que ofereceu para a gente verba da Covid-19. Era para destinarmos para onde a gente quiser. Foi um toma-lá-dá-cá pior, criminoso, com verba marcada ‘ação Covid-19’. Eu não aceitei e ainda denunciei. Safadeza com dinheiro público”, destacou. “Segundo consta, 51 senadores fizeram a destinação. Tem município que recebeu R$ 6 milhões e não tem caso de Covid-19”, disse o senador.
Polícia
Outro assunto que virá a tona é a demora do presidente em publicar o veto ao projeto. Para Olímpio, Bolsonaro postergou a publicação para poder dar reajustes de salários para a Polícia Militar do Distrito Federal. Os reajustes ocorreram em maio deste ano, por meio de uma Medida Provisória. “Bolsonaro levou 20 dias para fazer o veto para poder aprovar o aumento salarial da Polícia Federal e da polícia do Distrito Federal, e agora ele vem com a safadeza de dizer que nós estamos promovendo gastos”, reclamou.
Desafio
Irritado com o fato de o ministro ter dito que o Senado cometeu um crime ao votar contra o veto do presidente Jair Bolsonaro, na quarta-feira, Olímpio diz que o ministro mentiu ao informar que a liberação de reajustes para os servidores públicos acarretaria uma despesa de R$ 120 bilhões aos cofres do governo.
“Estou desafiando o Paulo Guedes porque ele disse que o Senado praticou um crime. Eu estou dizendo que é mentira ele ter afirmado que teria um aumento de despesa de R$ 120 bilhões. Eu desmascaro a mentira na medida em que todos os estados hoje já estão acima do 60% do limite prudencial em relação ao gasto com folha. Então, nenhum estado brasileiro pode dar reajuste nenhum”, disse o senador, que sustenta ter participado, junto com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e com o então líder da Maioria na Câmara, Aguinaldo Ribeiro, da construção do texto aprovado, com o próprio Paulo Guedes e o assessor especial da pasta, Esteves Colnago.
“Quem deu aval para esse texto foi o próprio Guedes. Eu acompanhei isso. O texto que está lá, inclusive incluindo as Forças Armadas, é texto meu e da minha assessoria, feito com o Paulo Guedes, com o Colnago, o Davi Alcolumbre e o Fernando Bezerra”, relatou.
“Era meramente autorizativo. Além disso, pelo Pacto Federativo, a União não pode restringir nem facultar o que vai ser a política salarial do estado. Até porque ela não paga”, argumentou. “É uma tremenda de uma canalhice quando ele afirma que foi um crime porque ele [Guedes] autorizou o texto.”