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Lupa: Marina erra ao se apresentar como única apoiadora da Lava Jato

Agência identificou falhas e acertos da candidata nas sabatinas do Jornal Nacional, da TV Globo, e no Jornal das 10, da GloboNews

atualizado

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Rafaela Felicciano / Metrópoles
Marina Silva 2
1 de 1 Marina Silva 2 - Foto: Rafaela Felicciano / Metrópoles

Na noite da quinta-feira (30/8), Marina Silva, candidata da Rede à Presidência da República, foi entrevistada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, e pelo Jornal das 10, da Globonews. A Lupa checou algumas de suas falas e poderá atualizar esta publicação ao longo das próximas horas.

A assessoria de imprensa de Marina foi avisada sobre as checagens da agência e poderá enviar seus comentários para esta reportagem a qualquer momento. Veja a seguir o resultado da verificação:

JORNAL NACIONAL

“Eu fui a única candidata, até agora, a ir até a Transparência Internacional”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 30 de agosto de 2018


Apesar de ter sido a primeira presidenciável a se reunir com a campanha Unidos Contra a Corrupção, formada pelo Contas Abertas, Instituto Cidade Democrática, Instituto Ethos, Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral-MCCE, Observatório Social do Brasil e a Transparência Internacional – Brasil, Marina Silva não foi a única.

Na última quarta-feira, o grupo recebeu Guilherme Boulos, candidato do PSOL. No encontro, realizado em São Paulo, Boulos prometeu avaliar as propostas e disse que poderia incorporar alguns dos 70 pontos de combate à corrupção a seu plano de governo.

Todos os candidatos foram convidados a se reunir com representantes do movimento.

Procurada, Marina não retornou.

“Eu sou a única candidata que disse que apóia a Lava Jato, que defende o Ministério Público”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 30 de agosto de 2018


Desde o início da campanha eleitoral deste ano, vários candidatos à presidência declararam apoio à Operação Lava Jato – inclusive nas entrevistas do Jornal Nacional.

Na quarta-feira (29), Geraldo Alckmin (PSDB) disse: “Defendo a Lava Jato. Defendo as investigações. A sociedade vai amadurecer, e sair desse episódio melhor”. Na segunda-feira (27), Ciro Gomes (PDT) foi questionado por aparentemente criticar e defender a Lava Jato ao mesmo tempo. Em resposta, afirmou: “Apoio a Lava Jato porque é uma virada de página”. Jair Bolsonaro (PSL) cita a Lava Jato e o juiz Sérgio Moro com frequência em entrevistas, discursos e postagens nas redes sociais. Alvaro Dias (Podemos) diz que pretende “institucionalizar a Lava Jato” e já chegou a convidar publicamente o juiz Sérgio Moro para ser ministro da Justiça.

Procurada, Marina não retornou.

“A UFMG fez um estudo que [mostra que] 80% das atividades domésticas são feitas por mulheres”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 30 de agosto de 2018


Tese de doutorado defendida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com base em dados extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013 e de 2016 conclui que as mulheres são responsáveis por 85% dos afazeres domésticos. A autora ainda estima que atividades do lar não remuneradas gerariam o equivalente a 10% do PIB nacional.

Dados mais recentes, da Pnad 2017, mostraram que, no ano passado, as mulheres trabalharam 20,9 horas por semana em afazeres domésticos e no cuidado de pessoas, enquanto os homens dedicaram a esse tipo de atividade 10,8 horas por semana.

“[A licença para] As hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau foram dadas durante a minha gestão [como ministra do Meio Ambiente]”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 30 de agosto de 2018


A licença prévia para a construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, foi expedida no dia 9 de julho de 2007. Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente de janeiro de 2003 até maio de 2008.

“Eles [Transparência Internacional] produziram mais de 70 propostas para combate à corrupção”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 30 de agosto de 2018


A Transparência Internacional, de fato, apresentou 70 medidas de combate à corrupção, que estão divididas em 12 blocos. Ao todo, 373 instituições e mais de 200 especialistas foram consultados para realizar esse documento.

“No problema da idade mínima, nós vamos manter a diferença entre homens e mulheres”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 30 de agosto de 2018


O programa de governo registrado por Marina Silva no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que tem 46 páginas, não diz que ela, se eleita, buscará manter a diferença de idade mínima para aposentadoria entre os dois sexos. Ao falar sobre reforma da Previdência, o documento da Rede cita apenas que, no início do governo, Marina pretende incluir “a definição de idade mínima para aposentadoria”.

Procurada, Marina não retornou.

“Nós [Marina e Eduardo Jorge] nunca tivemos divergências”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 30 de agosto de 2018


Num primeiro momento, ao falar sobre Eduardo Jorge (PV), candidato à vice-presidência em sua chapa, Marina negou qualquer divergência com o político. Na mesma resposta, no entanto, voltou atrás: “Nós temos muitas convergências, algumas divergências”.

Eduardo Jorge e Marina Silva foram rivais na corrida presidencial de 2014. Ele pelo PV, ela pelo PSB. Naquele ano, ao ser questionado pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre o fato de já terem sido companheiros de partido no PV e no PT, Eduardo Jorge disse que tinha diferenças com Marina “no campo de direitos humanos e culturas de paz”.

Quatro anos antes, quando Marina concorreu à Presidência da República pelo PV, Jorge lembrou a existência de outras divergências. “Havia alguns pontos do programa nosso que, por uma questão filosófica e religiosa, ela não aceitava… Mas os pontos continuaram no nosso programa [do partido]”.

Os agora aliados também divergem publicamente sobre a descriminalização do aborto. Perguntado sobre o tema pelo jornal O Globo, em 2014, Jorge defendeu a legalização irrestrita da interrupção da gravidez. “É uma coisa inacreditável que o Brasil tenha uma lei machista e cruel como essa para punir mulheres (…). Revogar essa lei é uma questão urgente de saúde pública. Já Marina tem afirmado, desde 2010, que é contra o aborto, mas que defende a realização de um plebiscito para discutir o tema, como disse neste ano à RedeTV.

A mesma divergência se dá em relação à descriminalização do uso da maconha. Na campanha de 2014, Jorge afirmou que a legalização da maconha seria “um avanço tremendo para o Brasil” e “daria um golpe na economia do crime”. Já Marina disse que um plebiscito seria a melhor forma de discutir o assunto.

Procurada, Marina não retornou.

JORNAL DAS 10

“De cada 10 alunos, sete não têm proficiência em língua portuguesa e não sabem resolver operações simples de matemática”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 30 de agosto de 2018


De acordo com o último levantamento do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), de 2017, cerca de 70% dos estudantes terminam a educação básica sem conseguir ler e entender um texto e sem conhecimentos básicos de matemática.

“Na maioria dos municípios, você tem apenas uma escola de Ensino Médio”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 30 de agosto de 2018


O Brasil tem 5.570 municípios. De acordo com a Sinopse Estatística da Educação Básica, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 51,5% deles têm duas ou mais escolas de ensino médio. São 2.859 cidades nessa situação, enquanto 2.702 só têm uma escola de ensino médio. Outras nove localidades aparecem sem qualquer instituição desse tipo nos registros do Inep. Confira a lista completa aqui.

“Hoje nós temos uma população carcerária de mais de 700 mil presos”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 30 de agosto de 2018


O sistema Geopresídios, do CNJ, informa que a população carcerária do Brasil é de 690.582. O sistema contabiliza presos em regime fechado, semiaberto, aberto e provisórios.

O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), do Ministério da Justiça, informa, por sua vez, que, em junho de 2016 (último dado disponível), 726.712 pessoas estavam presas.

Segundo o World Prison Brief, o Brasil tem a terceira maior população carcerária, com 682 901 presos.

“Eu tenho claramente defendido que é preciso que se tenha uma ajuda humanitária para a população da Venezuela”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 30 de agosto de 2018


A candidata da Rede, Marina Silva, afirmou em seu Twitter no dia 1º de agosto que a Venezuela já não vive em um regime democrático e destacou a necessidade de uma ação conjunta e diplomática na América Latina para realizar um socorro humanitário aos venezuelanos. Dias depois, a candidata ressaltou o papel do Brasil nessa ação e criticou o governo por não ter tomado nenhuma medida até então.

“Agora mesmo, a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior] teve um corte enorme para pesquisa”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 30 de agosto de 2018


A Capes, responsável pelo fomento da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), tem tido sucessivas reduções em seu orçamento, de acordo com dados do Siga Brasil, disponível para consulta no site do Senado. Neste ano, o orçamento autorizado para a pasta é 52,7% do liberado em 2015. São R$ 3,9 bilhões contra R$ 7,4 bilhões de três anos atrás.

Recentemente, um ofício enviado pelo órgão ao Ministério da Educação relatou a possibilidade de corte de quase 200 mil bolsas de pós-graduação, pesquisa e iniciação à docência em 2019, em virtude de cortes no orçamento.

No dia 3 de agosto, porém, os ministérios da Educação e do Planejamento divulgaram nota conjunta na qual informaram que não haveria suspensão das bolsas no ano que vem.

“Em 2014 [na campanha], a ex-presidente Dilma tinha proposta para tudo”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 30 de agosto de 2018


Antes da entrevista do Jornal das 10, Marina esteve no Jornal Nacional e, ao falar das eleições que disputou há quatro anos, afirmou o seguinte: “Dilma e Temer não apresentaram nada (em termos de programa de governo)”. Essa não foi a única vez que Marina pontuou a falta de propostas políticas da ex-presidente Dilma na última campanha.

No dia 29 de janeiro de 2018, em entrevista à Rádio Super Notícia, a candidata da Rede criticou: “É um absurdo que a presidente Dilma ganhou o governo em 2014 sem apresentar um programa”.

No Jornal das 10, no entanto, Marina chegou a contar nos dedos as propostas apresentadas por Dilma em 2014, classificando-as como “sem propósito”.

Procurada, Marina não respondeu.

“Desde que ele [Temer] entrou, [o déficit público] só aumentou”
Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Rede, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 30 de agosto de 2018


Entre 1997 e 2013, o Brasil fechou todos os anos com superávit primário, ou seja, resultado primário positivo. Há quatro anos, no entanto, o Brasil acumula déficits primários de forma sucessiva. Em 2014, foram R$ 23,4 bilhões. Em 2015, um total de R$ 120,5 bilhões. No ano seguinte, já na gestão de Michel Temer, de R$ 161,3 bilhões. Mas, em 2017, ao contrário do que disse Marina, o déficit diminuiu – para R$ 124,2 bilhões.

O déficit nominal, por sua vez, também não aumentou durante a gestão de Temer. Em 2015, o Brasil teve o maior déficit da série histórica: R$ 513,8 bilhões. Em 2016, foi de R$ 477,8 bilhões e, em 2017, R$ 459,3 bilhões. Os dados são da Secretaria do Tesouro Nacional.

A diferença entre os resultados primário e nominal é que o primeiro computa receitas e despesas primárias, isso é, não financeiras, e o segundo computa também receitas e despesas financeiras.

Procurada, Marina não respondeu.

Reportagem: Chico Marés, Clara Becker, Leandro Resende, Nathália Afonso e Plínio Lopes. Edição: Cristina Tardáguila e Natália Leal

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