Lupa: Alckmin ignora ordens de líderes presos do PCC em São Paulo
Agência identificou falhas e acertos do tucano nas sabatinas do Jornal Nacional, da Tv Globo, e no Jornal das 10, da GloboNews
atualizado
Compartilhar notícia
Na noite da quarta-feira (29), Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência da República, foi entrevistado pelo Jornal Nacional, da TV Globo, e pelo Jornal das 10, da GloboNews. A Lupa checou algumas de suas falas e poderá atualizar esta publicação ao longo das próximas horas.
A assessoria de imprensa do tucano foi avisada sobre as checagens da agência e poderá enviar seus comentários para esta reportagem a qualquer momento. Veja a seguir o resultado de verificação:
Jornal Nacional
“Não tem, não tem, não tem [ordens de líderes do PCC sendo dadas de dentro dos presídios de SP]”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 29 de agosto de 2018
Em julho, o Ministério Público de São Paulo denunciou 75 pessoas por atuarem como executores de ordens dadas por líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) de dentro das cadeias. De acordo com o MPSP, a partir dos presídios paulistas, os líderes ordenavam “execuções de agentes do Estado, queima de ônibus e assassinato de rivais”. De acordo com a denúncia, as ordens saídas dos presídios tinham por objetivo expandir a facção. As denúncias são resultado da Operação Echelon e começaram quando agentes penitenciários encontraram cartas trocadas por líderes do grupo presos na penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de SP. Em uma delas, membros da facção de outros estados planejavam ir a SP para aprender a montar bombas. Em julho, a Folha também revelou que líderes do PCC comandaram ações criminosas por telefone, de dentro do presídio de Valparaíso, no interior paulista. Levantamento dos pesquisadores Camila Nunes Dias e Bruno Paes Manso mostrou que o PCC já domina o crime em oito estados e disputa o controle em outros 14.
A assessoria de Alckmin disse que a denúncia citada comprova a efetividade do serviço de inteligência da Secretaria de Administração Penitenciária, que iniciou a investigação.
“Nós [SP] temos a melhor polícia do país”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 29 de agosto de 2018
Não há pesquisas ou estudos no Brasil que avaliem, de forma comparativa, a atuação das polícias militar e civil nos estados. O que existe é um ranking, de 2013, sobre a confiança da população nas polícias de suas respectivas unidades da federação. Trata-se da Pesquisa Nacional de Vitimização, publicada pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Nela, a Polícia Militar de SP foi a sétima colocada – 19,2% dos paulistas disseram “confiar muito” em sua atuação. O primeiro lugar ficou com a PM de Minas Gerais. A Polícia Civil paulista apareceu, por sua vez, em 18º lugar, com 15,8% da população dizendo “confiar muito” nela.
Em nota, a assessoria de Alckmin disse que “nenhuma outra polícia do país derrubou a taxa de homicídios em quase 80% desde 2001”.
“O PTC não me apoia. Ele apoia outro candidato”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 29 de agosto de 2018
O PTC, de fato, não integra a coligação “Para Unir o Brasil”, que apoia Alckmin. Os partidos que fazem parte da aliança são PSDB, PTB, PP, PR, DEM, Solidariedade, PPS, PRB e PSD. O PTC, partido de Fernando Collor, apoia Alvaro Dias, do Podemos.
“Você sabe quantos presos nós temos em SP? 228 mil presos (…) 35% da população carcerária”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 29 de agosto de 2018
O sistema Geopresídios, do CNJ, informa que a população carcerária de SP é de 231.491 pessoas, o que representa 33,5% total de presos do Brasil. O sistema contabiliza, por exemplo, presos em regime fechado, semiaberto, aberto e presos provisórios.
O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), do Ministério da Justiça, informa, por sua vez, que, em 2016 (último dado disponível), SP tinha 240.061 pessoas presas, o que representava 33,1% da população prisional do Brasil.
“O Aécio Neves era o presidente do partido. Ele foi afastado da presidência do partido”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 29 de agosto de 2018
Aécio não foi afastado da presidência do PSDB. Ele se afastou por conta própria, no dia 18 de maio de 2017. Em nota enviada à imprensa, o tucano declarou: “decidi licenciar-me hoje da Presidência do PSDB, que ocupo há mais quatro anos, com extrema honra e dedicação”. O senador cearense Tasso Jeireissati assumiu interinamente o posto (posteriormente, foi substituído por Alberto Goldman), e a eleição para presidência da sigla só ocorreu em dezembro. Procurado, Alckmin não retornou.
“[Vou implementar] voto facultativo”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 29 de agosto de 2018
O programa de governo que o candidato registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não cita, em momento algum, o voto facultativo como uma de suas diretrizes. O único ponto do documento que se relaciona ao assunto diz o seguinte: “promover a reforma política e o voto distrital para reduzir o número de partidos e reaproximar o eleitor do seu representante”. Procurado, Alckmin não retornou.
“As minhas campanhas sempre foram feitas de maneira simples”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 29 de agosto de 2018
De acordo com dados do TSE, a campanha de Alckmin para governador de São Paulo, em 2014, foi a segunda mais cara entre os candidatos ao cargo. O tucano declarou ter gasto R$ 40.394.332,54 no pleito. A campanha mais cara foi a de Alexandre Padilha, do PT, com R$ 47,9 milhões. Em terceiro lugar, ficou Paulo Skaf, do PMDB, com R$ 29,19 milhões.
Na disputa de 2010, Alckmin foi o que mais teve despesas entre os nove candidatos que postulavam o cargo de governador de SP. Declarou ter gastado de R$ 34.221.236,96, segundo o TSE. Em segundo lugar ficou a campanha de Aloizio Mercadante (PT), com 20,2 milhões e a de Skaf, com 18,2 milhões. Procurado, Alckmin não retornou.
“O ano passado, [o número de assassinatos em São Paulo caiu para] 3.503”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 29 de agosto de 2018
Em 2017, SP realmente registrou uma redução no número de homicídios dolosos (3.504 no total), mas, em sua fala, novamente, Alckmin desconsiderou outros tipos de mortes violentas e intencionais ocorridas no estado, no período.
De acordo com levantamento do Instituto Sou da Paz, se incluídos os latrocínios, os casos de lesão corporal seguida de morte e as mortes em decorrência da ação das polícias militar e civil, o total de mortes violentas intencionais registradas em SP no ano passado sobe para 4.834 casos. Veja os dados completos aqui.
Quando a Lupa checou essa frase pela primeira vez, a assessoria de Alckmin enviou nota informando que o candidato falava apenas de homicídios e que, por isso, não tinha sido impreciso nem errado.
Jornal das 10
“Se nós crescermos 50 pontos no Pisa (…), nós vamos crescer 1% no PIB em caráter permanente, pelos ganhos de produtividade”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 29 de agosto de 2018
O estudo “Universal Basic Skills: What Countries Stand to Gain” (Competências Universais Básicas: o que os países ganham em sustentá-las), da Universidade de Stanford, de fato, conclui que, no Brasil, um crescimento de 50,9 pontos no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) adicionaria um ponto percentual ao crescimento de longo prazo do Produto Interno Bruto do país.
A pesquisa, que se deteve sobre os ganhos econômicos a partir do investimento em educação, foi publicada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2015.
“Nós [no Brasil] temos hoje 440 mil crianças de 4 e 5 anos fora da pré-escola”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 29 de agosto de 2018
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc) de 2017, cerca de 443 mil crianças de 4 a 5 anos, faixa que corresponde à pré-escola, estão fora da escola. Esse número equivale a 8,3% do total de crianças nessa faixa etária.
“Se você pegar o dinheiro do MEC [Ministério da Educação], o dinheiro federal, só 30% é para a educação básica”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 29 de agosto de 2018
Segundo o estudo Aspectos Fiscais da Educação no Brasil, publicado pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), a União gastou R$ 117,2 bilhões com educação. Desse total, R$ 34,6 bilhões – ou 29,5%, foi para a educação básica.
“Hoje, de cada 100 alunos, 41 não terminam o ensino médio. Você tem uma evasão escolar de 41%”
Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, em entrevista ao Jornal das 10, da Globonews, no dia 29 de agosto de 2018
De acordo com a ONG Todos Pela Educação, 41,5% dos jovens não concluem o ensino médio até os 19 anos. Contudo, vale ressaltar que o conceito de evasão escolar foi usado de forma equivocada pelo candidato. Não é sinônimo da taxa de alunos que não terminam o ensino médio.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), taxa de evasão escolar é o percentual de alunos matriculados em uma série que não se matriculam na série seguinte.
Estudo comparativo feito pelo instituto com base nos dados do Censo Escolar 2014/2015 mostra que a evasão escolar no Ensino Médio foi de 11,2% no Brasil.
Reportagem: Chico Marés, Clara Becker, Leandro Resende, Nathália Afonso e Plínio Lopes. Edição: Cristina Tardáguila e Natália Leal