Lula discursa pela primeira vez sobre sua condenação por Sérgio Moro
O petista discursou na sede do PT em São Paulo. Ele foi sentenciado a nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem no caso do triplex
atualizado
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Cercado de militantes e correligionários na sede do PT, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou nesta quinta-feira (13/7), pela primeira vez, sobre sua condenação a nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP).
Sem abrir perguntas para aos jornalistas presentes, Lula falou por 30 minutos. Tratou as acusações contra ele como “mentira” e disse que “o Estado Democrático de Direito é jogado na lata de lixo” com a sua condenação.
O petista criticou o juiz federal Sérgio Moro, que o sentenciou na quarta-feira (12). Lula afirmou que o magistrado deve prestar contas com a história. “Eu acreditava que o Moro iria recusar a mentira contada pelo Ministério Público”, disse. “A sentença de ontem (quarta) tem um componente político muito forte”, acrescentou.
Como esperado, o tom do discurso de Lula foi político. Em determinado momento, o petista se voltou para a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, e disse que se coloca como pré-candidato em 2018. “Se pensam que me tiraram do jogo com essa sentença, saibam que estou no jogo.”Lula destacou que o PT sempre apoiou a investigação da Lava Jato. E prosseguiu com as críticas a Moro e à imprensa. “A Rede Globo é a disseminadora do ódio no país”, disparou.
O ex-presidente insinuou que o juiz tomou a decisão com base na opinião pública e da imprensa. “Desde que esse processo começou, o Moro proferiu várias entrevistas sentenciando que era preciso forte cobertura da imprensa”, disse o presidente. O petista acrescentou que o magistrado já tinha pronta a “concepção da condenação” quando ouviu delatores, como Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.
No pronunciamento, o PT reuniu a cúpula do partido em São Paulo e parlamentares, para mostrar solidariedade a Lula. A possibilidade de o ex-presidente concorrer, no ano que vem, à chefia do Executivo nacional deve ser mantida. A condenação, em primeira instância, não impede o ex-presidente de participar da disputa.
“Essa possibilidade (de o Lula não poder concorrer) não passa pela nossa cabeça. Nós só temos um plano, o plano A”, afirmou o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, na noite de quarta-feira (12), após a condenação.
O ex-ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais e Saúde) e o ex-presidente do PT Rui Falcão estavam entre os apoiadores que prestaram solidariedade a Lula na sede do PT. Do lado externo do prédio, manifestantes gritavam frases de apoio ao ex-presidente e o incentivavam a sair candidato à Presidência nas próximas eleições.
Os advogados do ex-presidente chegaram mais cedo ao local. Cristiano Zanin Martins, defensor do petista nas audiências com Sérgio Moro, confirmou que irá recorrer da sentença. Ele, porém, não deu detalhes da estratégia a ser adotada.
Lula diz que está pronto para encarar a sua batalha jurídica dentro do PT, para ser candidato, e nas ruas. “Estou disposto a brigar do mesmo jeito de quando tinha 30 anos. Estou prestes a completar 72, tomando vitamina de manhã e com energia para continuar lutando”, garantiu, arrancando risos e aplausos dos correligionários.
Na sentença, Moro não decretou a prisão de Lula. Segundo o juiz, “a prudência recomenda que se aguarde o julgamento pela Corte de Apelação antes de se extrair as consequências próprias da condenação”. O petista é o primeiro ex-presidente da República a ser condenado por corrupção.
Essa também é a primeira condenação de Lula na Lava Jato. O ex-presidente responde como réu em outro processo aberto por Moro, em Curitiba, e ainda um na Justiça Federal do DF. Segundo Sérgio Moro, Lula recebeu R$ 2,25 milhões de propinas da OAS, por meio da compra e da reforma do triplex do Guarujá. O magistrado observou ainda que “todas as suas decisões foram tomadas no exercício regular da jurisdição.”
Na mesma sentença, o magistrado condenou Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS, e Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor-presidente da área internacional da empreiteira.
Foram absolvidos Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula; Paulo Valente Gordilho, arquiteto e ex-executivo da OAS; Fábio Yonamine, ex-presidente da OAS Investimentos; e Roberto Ferreira, ligado à empreiteira.