Lista de Fachin implode apostas para as eleições 2018 no DF
Para analistas e políticos, delações de executivos da Odebrecht terão impacto direto na composição das chapas para a disputa no próximo ano
atualizado
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Depois do tsunami causado pela divulgação da Lista de Fachin, que atingiu políticos de todas as legendas e de praticamente todas as unidades da Federação, os partidos políticos começam a assimilar o golpe e pensar no futuro. No Distrito Federal, onde nomes de peso estão entre os citados por delatores da Lava Jato, não é diferente. Especialistas e presidentes de legendas avistam um ano pré-eleitoral difícil e opções reduzidas para o pleito de 2018.
Em seus depoimentos à Justiça, executivos e ex-dirigentes do Grupo Odebrecht citam repasses de recursos não contabilizados para campanhas dos ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT); do ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), do ex-deputado federal Geraldo Magela (PT); e do ex-senador Gim Argello (sem partido) – o único que está preso e já condenado a 19 anos de cadeia.
O analista político do Instituto Lampião-Reflexões e Análises da Conjuntura, Melillo Dinis, destaca que o cenário não é bom para quem está citado nas delações. “As consequências para a imagem desses políticos é muito ruim, principalmente pela figura de corrupto. Cada partido que tiver sua imagem relacionada também terá prejuízos. Até o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), que não está na lista, se não tomar atitudes em relação ao malfeito dos demais, como os elefantes brancos deixados (Centro Administrativo e estádio Mané Garrincha), poderá ser punido pelas urnas”, afirma Melillo Dinis.
PT e PMDB
O presidente do PT local, Roberto Policarpo, afirma que o partido ainda não se debruçou sobre as acusações feitas aos integrantes da legenda no DF: o ex-governador Agnelo Queiroz, que teria recebido R$ 1 milhão em propina da Odebrecht ligada ao Centro Administrativo do GDF, e o ex-deputado federal Geraldo Magela, R$ 1,4 milhão vinculado ao conjunto habitacional Jardins Mangueiral.
No cenário nacional, o PT tem 16 políticos citados nas delações dos executivos da empreiteira, além dos ex-presidentes da República Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Policarpo não esconde o desconforto com a situação. Comenta que as denúncias ainda serão alvos de investigação na Justiça, e que as eleições só deverão ser debatidas pelo partido ano que vem.
No entanto, para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leandro Gabiati, a sigla que mais sentirá o potencial destrutivo da Lista de Fachin no Distrito Federal é o PMDB. Isso se deve às citações dos delatores da Odebrecht a Tadeu Filippelli. Presidente licenciado do partido no DF, ex-vice-governador, atual assessor de Michel Temer e pré-candidato ao Buriti, ele teria recebido R$ 2 milhões de propina pelo Centro Administrativo.
Se ele for atingido e chegar à eleição, será prejudicado. Ele era o único com candidatura colocada e teria, por sua experiência, a chave da vitória. Agora, Brasília não terá opções certas. O PT não tem nome e (o governador Rodrigo) Rollemberg parece que não terá chances de reeleição
Leandro Gabiati, cientista político da UnB
Tadeu Filippelli não retornou o contato do Metrópoles até a última atualização desta matéria.
Prejuízo
Presidente do PSDB-DF e pré-candidato ao Palácio do Buriti em 2018, o deputado federal Izalci Lucas considera (e lamenta) que mesmo políticos sem relação direta com as denúncias da Odebrecht possam ser estigmatizados como corruptos. O tucano acredita que metade dos nomes delatados ficará fora do acolhimento de denúncia na Justiça mas, até lá, a imagem deles já estará desgastada.
O prejuízo é muito grande. Ninguém acredita mais nos políticos. Todos que estão nela (Lista do Fachin) acabam taxados de corruptos. Daí, pode aparecer um aventureiro e acabar eleito, como o [ex-presidente Fernando] Collor, que combatia marajás, acabou ganhando, mas sofreu um impeachment
Izalci Lucas, presidente do PSDB-DF
Considerada polêmica, a tese do tucano é rebatida pelo presidente do PR-DF, José Salvador Bispo. “Os partidos possuem outros nomes além dos citados. E o fato de eles terem sido nominados não significa que são culpados”, sustenta. “O que não pode continuar é essa ladroagem”, diz o líder da sigla de Arruda, que teria recebido R$ 966 mil como caixa 2 para a campanha de 2014, na qual tentava retornar ao Buriti.
Recentemente eleito para presidir o PSB no Distrito Federal, Jaime Recena também acredita que o impacto nas eleições de 2018 no DF será grande. Para ele, “a Lava Jato vai implodir muitas candidaturas e inviabilizar outras que já estavam postas”. Recena alerta ainda que as próprias legendas terão que escolher bem para não correrem o risco de perder espaço na política local.