“Levy saiu, mas a austeridade continua”, diz Edinho Silva, ministro da Secretaria de Comunicação Social
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, logo após o anúncio da troca de comando nos ministérios da Fazenda e do Planejamento, Edinho Silva afirmou que a crise de hoje é uma oportunidade para voltar a crescer em breve
atualizado
Compartilhar notícia
Na tarde desta sexta-feira (18/12), Joaquim Levy deixou o Ministério da Fazenda. Foi substituído pelo então titular do Planejamento, Nelson Barbosa. Levy é considerado mais linha dura. Barbosa, mais flexível. Do ponto de vista oficial, no entanto, a orientação da política econômica deve seguir a mesma. Foi o que afirmou o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.
“Os objetivos econômicos do governo continuam os mesmos: buscar o equilíbrio fiscal, manter a política de austeridade”, pontuou o ministro.
Minutos após receber a autorização da presidente Dilma Rousseff para confirmar oficialmente as substituições no primeiro escalão, Edinho Silva fez um balanço da situação política e econômica do país com exclusividade para o Metrópoles.O ministro comentou o desgaste de Levy diante da crise política, falou sobre a necessidade de união dos partidos em torno de uma reforma da Previdência e comemorou a decisão do Supremo Tribunal Federal, que, na última quinta-feira (17/12), concedeu ao Senado o poder de decidir sobre o processo de impeachment.
Para ele, a crise de agora será uma oportunidade de crescimento logo mais: “Se não enxergarmos nessa crise uma janela de oportunidade para o Brasil se tornar um país mais competitivo, ficaremos discutindo apenas a pequena política, a picuinha”.
Por que Levy deixou o cargo?
Acompanhei de perto toda sua dedicação para que tivéssemos os instrumentos necessários para a superação da crise. Mas agora ele sofreu um desgaste imenso físico e pessoal, porque foi um ano de muita instabilidade política. Numa situação como essa, é muito difícil aprovar as medidas necessárias para o equilíbrio fiscal e para retomar o crescimento econômico. Ele, em comum acordo com a presidenta Dilma, resolveu sair. Levy tem uma carreira brilhante, é um profissional da área de economia muito respeitado nacionalmente, inclusive, internacionalmente.
O que o brasileiro deve esperar da política econômica com a troca de ministros na Fazenda?
Penso que os objetivos econômicos do governo continuam os mesmos até porque quem tem liderado a política econômica é a presidenta Dilma. Então, não tenho nenhuma dúvida de que vamos continuar buscando o equilíbrio fiscal e também construindo instrumentos que demonstrem segurança à sociedade e aos investidores. Portanto, tudo que a presidenta Dilma já havia orientado continua. É fundamental que tenhamos uma política de austeridade e possamos buscar medidas para que efetivamente exista o equilíbrio entre entre a receita e a despesa.
A decisão do STF que deu autonomia ao Senado para barrar ou não o processo de impeachment foi uma importante vitória para o governo, certo?
Foi uma vitória para a democracia. O Supremo deixou muito claro quais são as regras, qual o rito e de que forma o processo de impeachment deve se dar. Penso que a democracia e a institucionalidade saíram fortalecidas desse processo.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, diz que o PT é um partido que assaltou o país. O que o senhor pensa dessa declaração?
O presidente da Câmara tem a liberdade para emitir a opinião dele. Evidente que nós estamos falando de um partido com uma folha de serviços prestados ao povo brasileiro. Um partido que mudou a lógica das políticas públicas, que criou e desenvolveu políticas de inclusão social, rompendo com o ciclo vicioso. Estamos também falando de um partido que tem de corrigir erros, rotas e reciclar suas bandeiras, como todos os demais partidos brasileiros.
Vivemos uma crise política sem precedentes no país?
Inegável que se trata de uma grave crise. Estamos diante de um processo de investigação importante e doloroso para o país, porque atinge partidos e lideranças políticas que tiveram um papel fundamental na história recente do país. Tudo isso gera uma instabilidade muito grande. Mas não tenho dúvida de que o Brasil sairá fortalecido deste processo que precisa respeitar o princípio do contraditório, do estado democrático de direito, além de se garantir o amplo direito de defesa.
Como exatamente o Brasil pode sair melhor disso tudo?
A crise política cria as condições para reformas do Estado brasileiro, mudanças de representatividade, que é algo que está na agenda desde junho de 2013 e ainda não conseguimos encarar de frente. O mesmo serve para a crise econômica. O principal motivo de déficit estruturante no Brasil é a Previdência. Então, se queremos acabar com o déficit nas contas públicas, devemos tratar de uma reforma previdenciária em que trabalhadores e empresários sejam ouvidos.
O senhor tem um discurso otimista. Quando as pessoas vão sentir reflexos dessa perspectiva positiva?
Não acredito em magia, acredito em um processo. O governo está trabalhando para que haja uma solução da crise política pela via democrática. No caso da presidenta Dilma, o pedido de impeachment não tem nenhum lastro legal. Hoje, o que estão propondo, de forma inconsequente e irresponsável, é a saída de uma crise política e econômica por meio de uma ruptura institucional no país. Querem abrir um precedente histórico para que, toda vez que tivermos uma instabilidade política, a saída seja pela via autoritária do desrespeito à vontade popular expressa em votos. Há momentos em que os interesses partidários foram colocados em segundo plano e as prioridades para o país, em primeiro. Isso ocorreu no período de redemocratização, na reforma constitucional de 1988 e na década de 1990, quando foi implementada uma nova moeda. Também ocorreu na agenda de inclusão social do governo Lula. Apesar das críticas, todos os governantes fizeram um pacto pelo combate à exclusão social. Em momentos como esses, os interesses do país têm de ser colocados acima dos político-partidários, acima de interesses meramente conjunturais.