Leia a transcrição da conversa telefônica entre Bolsonaro e Kajuru
No diálogo, Bolsonaro pediu a ampliação da CPI da Covid, ofendeu senador Randolfe Rodrigues e estimulou impeachment de ministro do STF
atualizado
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O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) tem divulgado trechos de uma conversa por telefone que teve com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no último sábado (10/4), na qual trataram da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que será instalada no Senado Federal.
No diálogo, cujos primeiros trechos foram publicados redes sociais de Kajuru na tarde de domingo (11/4), o chefe do Executivo defende que o parlamentar peça a ampliação da CPI para que os governadores e prefeitos também sejam investigados e estimula esforços pelo impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O Metrópoles transcreveu os trechos divulgados.
Leia a transcrição do primeiro trecho:
Bolsonaro: Então uma CPI completamente direcionada à minha pessoa.
Kajuru: Não, presidente, a gente pode convocar governadores.
Bolsonaro: Se você não mudar o objeto da CPI, você não pode convocar governadores.
Kajuru: Tá, mas eu vou mudar. Eu quero ouvir os governadores.
Bolsonaro: Se mudar dez pra você, porque nós não temos nada a esconder.
Kajuru: Não, eu não abro mão de ouvir governadores em hipótese alguma.
Bolsonaro: Então, olha só…
Kajuru: Eu só não quero que o senhor me coloque no mesmo joio.
Bolsonaro: Olha só, você tem que fazer, tem que mudar o objetivo da CPI. Tem que ser ampla.
Kajuru: Ampla, claro.
Bolsonaro: CPI da Covid no Brasil. Daí você faz um excelente trabalho pelo Brasil.
Kajuru: Exato. O que eu quero fazer é isso. Eu não vou manchar meu nome de forma alguma.
Bolsonaro: Você não é o autor da CPI, então o objetivo do autor, que eu não sei quem é, como tá lá é investigar omissões do governo federal no combate à Covid.
Kajuru: Não é meu caso.
Bolsonaro: Tudo bem!
Kajuru: Eu acabei de declarar para o Augusto Nunes, mas eu quero dizer que eu não posso ser colocado no mesmo joio, não é, presidente? Nas suas entrevistas, o senhor coloca como se todos nós fossemos iguais. Aí não é certo.
Bolsonaro: A CPI hoje é para investigar omissões do presidente Jair Bolsonaro. Ponto final.
Kajuru: O senhor pode dizer: “Não é o que pensa o senador Kajuru, que quer fazer uma investigação completa”.
Bolsonaro: Kajuru, se não mudar o objetivo da CPI ela vai só vir para cima de mim.
Kajuru: Mas não vai, presidente, tem a opinião de outros. São 11 titulares e 8 suplentes, a opinião de um não prevalece, vai prevalecer a quem concordar. Eu não concordo com coisa errada, presidente.
Bolsonaro: Kajuru, olha só: O que que tem que fazer para ter uma CPI que realmente seja útil para o Brasil: mudar a amplitude dela, bota governadores e prefeitos. Presidente da República, governadores e prefeitos.
Kajuru: Eu fui o primeiro a assinar para governadores e municípios. O senhor pode ver lá. Portanto, eu concordo da amplitude.
Bolsonaro: Tá ok. Se mudar a amplitude, tudo bem, mas se não mudar, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, para fazer um relatório “sacana”.
Kajuru: Isso aí eu não faço nunca, pela minha mãe.
Bolsonaro: Vamo lá, Kajuru, coisa importante aqui: A gente tem que fazer do limão uma limonada. Por enquanto, o limão é o que está aí, e tá para sair uma limonada. Acho que você já fez alguma coisa. Tem que peticionar o supremo pra botar em pauta o impeachment também.
Kajuru: E o que eu fiz? O senhor não viu o que eu fiz não?
Bolsonaro: Parece que você fez. Fez pensando em investigar quem?
Kajuru: O Alexandre de Moraes, ué.
Bolsonaro: Tudo bem.
Kajuru: Eu tenho que começar pelo Alexandre de Moraes, porque o do Alexandre de Moraes meu, já está lá engavetado pelo Pacheco, só falta ele liberar, correto?
Bolsonaro: Você pressionou o Supremo, né?
Kajuru: Sim, claro. Eu entrei contra o Supremo. Entrei ontem às 17h40.
Bolsonaro: Parabéns para você.
Kajuru: Eu só queria que o senhor desse crédito para mim nesse ponto.
Bolsonaro: Kajuru, de tudo o que nós conversamos aqui, nós estamos afinados, nós dois. É CPI ampla, investigar ministros do Supremo.
Kajuru: E nunca “revanchista”.
Bolsonaro:: Dez para você. Tendo a oportunidade, pode deixar que eu falo com as mídias e sinto que a minha conversa contigo, ampla CPI do Covid. E também o Supremo.
Kajuru: Exatamente. Se ele fez com a CPI tem que fazer também com o ministro.
Bolsonaro: Sim.
Kajuru: Né?! Quer dizer, então é a coisa justa. O que é difícil pra mim é que eu tenho uma posição dessa, presidente, e aí todo mundo vem contra mim porque a fala do senhor generaliza todo mundo. Não é só eu não. Todo mundo que conversar com o senhor como eu, acho que o senhor precisa separar o joio do trigo.
Bolsonaro: Kajuru, olha, qualquer pessoa que eu conversar vou dizer o seguinte: ‘O Kajuru foi bem intencionado, só que a CPI era restrita. Só que agora ele vai fazer o possível para ter uma CPI ampla. Da minha parte, não tem problema nenhum. Ele inspecionou o Supremo, que deve ser o próprio Barroso.
Kajuru: Deve ser não, tem que ser, por causa daquela palavra jurídica “pretento”, então juridicamente ele é obrigado a opinar, ele não pode colocar em nome de outro ministro.
Bolsonaro: É “prevento”. Ele vai ter que despachar.
Kajuru: Ele não pode colocar na mão de outro. Modéstia à parte, eu acho que fui bem nessa.
Bolsonaro: Bem não, você foi dez. Acho que o que vai acontecer, eles vão ponderar tudo. Não tem CPI nem tem investigação do Supremo.
Kajuru: Ou bota tudo, ou zero a zero
Bolsonaro: Eu sou a favor de botar tudo pra frente.
Kajuru: É, claro, vamo pro “pau”.
Bolsonaro: A questão do vírus, ninguém vai curar, não vai deixar de morrer gente infelizmente no Brasil. Um dia morre menos gente se os prefeitos todos pegassem recursos e aplicassem em postos de saúde, hospital.
Kajuru: Presidente, eu sou justo. Nunca pedi uma agulha para o senhor.
Bolsonaro: Estamos 100% assinados, Kajuru. Fique tranquilo!
Kajuru: Eu só quero pedir justiça, presidente.
Bolsonaro: Se você me pedir algo, sei que vai fazer bom uso disso.
Kajuru: O senhor me ajudou no que, foi o único presidente da República da história do Brasil que ajudou o diabetes. E isso aí é toma lá da cá?
Bolsonaro: Tem nada a ver.
Kajuru: Pelo amor de Deus, não é?
Bolsonaro: Tá certo.
Kajuru: Abraço para você. Bom final de semana e saúde.
Bolsonaro: Valeu, até mais!
Bolsonaro chama senador de “bosta”
Nesta segunda-feira (14/4), foi divulgada outra parte da conversa, na qual Bolsonaro ofende o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do pedido de instalação da CPI para investigar ações do governo federal na pandemia de Covid-19 e líder da oposição no Senado.
Leia a transcrição do segundo trecho:
Kajuru: Eu acabei de declarar para o Augusto Nunes, na Jovem Pan agora, o senhor pode ver aí. Eu dei uma entrevista pra ele. Eu falei pra ele que se ela for revanchista, eu faço questão de não participar dela.
Bolsonaro: Não, mas… Se você não participa, vem a canalhada lá do Randolfe Rodrigues, vai participar e vai começar a encher o saco. Daí vou ter que sair na porrada com um bosta desse.
Em resposta, o senador amapaense frisou que a declaração do mandatário não vai causar intimidação.
“A violência costuma ser uma saída para os covardes que têm muito a esconder. Não irão nos intimidar! Especialmente porque sabemos que a fraqueza desse governo está em todos os âmbitos”, escreveu Randolfe no post.
Bolsonaro reclama
Bolsonaro reclamou, na manhã desta segunda, da gravação e divulgação de conversa com Kajuru. Apesar da aparente indignação, o mandatário do país afirmou que falou de outras coisas no diálogo e pediu a publicação dos demais trechos.
“Eu fui gravado numa conversa telefônica, tá certo? A que ponto chegamos no Brasil aqui?”, iniciou Bolsonaro, ao dialogar com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.
Uma pessoa que estava no local classificou o ato como vazamento. O chefe do Executivo respondeu: “Não é vazar, é te gravar. A gravação é só com autorização judicial. Agora, gravar o presidente e divulgar… E outra: só para controle, falei mais coisa naquela conversa lá. Pode divulgar tudo da minha parte, tá?”
O senador afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que avisou ao presidente que publicaria a conversa com 20 minutos de antecedência. Pontuou ainda que o mandatário não tentou impedir a publicação. Segundo o parlamentar, Bolsonaro teria dito: “Tudo bem, tudo que falei está falado”.