Legião, Raul e novela: os hábitos que Ernesto Araújo revelou na posse
Ao discursar, o ministro das Relações Exteriores citou trechos bíblicos, músicos, escritores e séries, entre outras referências culturais
atualizado
Compartilhar notícia
Em um discurso de aproximadamente uma hora, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tomou posse na última quarta-feira (2/1). Em meio a citações bíblicas em grego e menções a escritores clássicos, como Miguel de Cervantes, ele mostrou um lado “gente como a gente” e revelou um pouco mais dos seus hábitos de lazer: músicas de Renato Russo e Raul Seixas, séries de TV e telenovelas.
O ministro começou sua fala exaltando os três princípios que, segundo ele, nortearão a sua política no Ministério das Relações Exteriores: conhecimento, verdade e liberdade. Para isso, utilizou um trecho do Evangelho de São João (8:32): “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Na ocasião, o diplomata mostrou familiaridade com línguas estrangeiras e fez a passagem em grego.
Na sequência, Araújo ficou mais mundano ao emendar a letra de uma música. “É só o amor que conhece o que é verdade” é um trecho de “Monte Castelo“, da banda Legião Urbana. Ele creditou a frase ao cantor e compositor Renato Russo. No entanto, o ministro cometeu um deslize: a citação vem da 1ª Epístola de São Paulo aos Coríntios e não da canção.
Sobre Raul Seixas, o verso veio de Ouro de Tolo: “Eu é que não me sento no trono de um apartamento / Com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”. A composição é de 1973.
Séries, novelas e filmes
O diplomata chegou a indicar uma série aos presentes na cerimônia de posse: a produção El Ministério del Tiempo, produzida por uma emissora espanhola de TV e na qual governantes espanhóis de diversas épocas viajam no tempo para evitar que a história do país seja modificada por aventureiros. “Nós temos a responsabilidade de proteger e regar este tronco histórico multissecular por onde corre a seiva da nacionalidade”, disse o ministro.
Araújo também lembrou de uma telenovela brasileira de 1964, período do regime militar, em seu discurso. Ele citou Direito de Nascer para afirmar que o Itamaraty vai defender “os direitos básicos da humanidade”. Na novela, que se passa em Havana no início do século 20, uma mãe solteira sofre preconceito e o filho dela acaba sendo criado por outra mulher.
Em memória da história do Brasil, o ministro das Relações Exteriores trouxe para a cena atual o filme Independência ou Morte, de 1972, onde Tarcísio Meira interpretou dom Pedro I. A produção reencena a independência do Brasil de Portugal. Ele afirmou que assistiu à película aos 5 anos, “maravilhado”. Araújo também comentou sobre a emoção de ver o quadro O Grito do Ipiranga, do artista brasileiro Pedro Américo, no prédio do Itamaraty.
Escritores
O ministro mencionou frases do português Fernando Pessoa para comparar poesia e relações internacionais. “O poeta superior diz o que sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que acha que deve sentir”, diz o trecho. Ao que Araújo comparou: “O mesmo talvez se possa dizer do diplomata e de um país na sua presença internacional. Por muito tempo o Brasil dizia o que achava que se deveria dizer”.
Ao falar sobre nacionalismo, Araújo citou a escritora ucraniana naturalizada brasileira Clarice Lispector. “A nossa evidente tendência nacionalista não provém de nenhuma vontade de isolamento, ela é movimento sobretudo de autoconhecimento.”
Ernesto Araújo ainda incluiu o escritor Olavo de Carvalho em seu texto de posse. Conhecido por declarações polêmicas e chamado de “guru de Bolsonaro”, Olavo segue uma linha conservadora. O ministro elogiou o filósofo e disse que, após o presidente, ele talvez seja um dos principais responsáveis “pelo que o Brasil está vivendo”.