Lava Jato teria usado denúncia contra Lula para ajudar Janot
Na ocasião, a equipe do ex-PGR era bombardeada devido a um áudio vazado da colaboração premiada de executivos da JBS que atingia Temer
atualizado
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Procuradores da Lava Jato teriam programado a divulgação da denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para distrair a população das críticas que atingiam a Procuradoria-Geral da República (PGR). Na época, o órgão era chefiado por Rodrigo Janot.
As informações são do site The Intercept Brasil e tem como base mensagens trocadas entre procuradores que foram obtidas por fonte anônima. Os diálogos fazem parte da série de matérias conhecida como Vaza Jato, que tem denunciado suposta troca de colaboração entre procuradores da força-tarefa com o então juiz Sergio Moro.
Na ocasião, a equipe de Janot era bombardeada devido a um áudio vazado da colaboração premiada de executivos da JBS que atingia o então presidente Michel Temer (MDB). Meses depois, problemas mais graves teriam levado o próprio Janot a pedir que o acordo fosse rescindido.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima teria dito aos colegas, de acordo com a reportagem, que a acusação que atribuía a Lula a posse do sítio de Atibaia poderia “criar distração” sobre a conversa gravada entre Temer e Joesley Batista, dono da JBS.
A denúncia do sítio estaria pronta para ser apresentada em 17 de maio de 2017. Contudo, o coordenador da operação no Paraná, Deltan Dallagnol, teria decidido adiar a divulgação da acusação contra Lula. Isso porque, um dia antes, o jornal O Globo publicou reportagem acusando Temer de dar aval a Joesley para a compra de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara.
“Quem sabe não seja hora de soltar a denúncia do Lula. Assim criamos alguma coisa até o laudo”, teria dito Santos Lima, em referência a laudo da Polícia Federal sobre o áudio entre Temer e Joesley. “Vamos criar distração e mostrar serviço”, completaria o procurador, após aval de Deltan Dallagnol.
A denúncia contra Lula foi apresentada à Justiça e divulgada à imprensa no fim da tarde do dia seguinte, 22 de maio. Dallagnol teria avaliado que a acusação seria “engolida pelos novos fatos”, ou seja, os desdobramentos das revelações contra Temer.
Um dia antes, Janot enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) manifestação afirmando que o áudio contra Temer “não contém qualquer mácula que comprometa a essência do diálogo”.