metropoles.com

Lava Jato: suposto lobista do PMDB recebeu até R$ 20 milhões de empresas investigadas

O dinheiro veio de empresas do cartel que fatiava obras na Petrobras, pagando propinas a agentes públicos, partidos e políticos

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Foto: Comunicação Social/JFPR
1 de 1 Foto: Comunicação Social/JFPR - Foto: null

Uma empresa de João Augusto Rezende Henriques, apontado como o mais novo operador de propinas do PMDB e preso nesta segunda-feira (21/9), alvo da Operação “Ninguém Durma”, 19.ª fase da Lava Jato, recebeu pelo menos R$ 20,2 milhões de empresas do cartel que fatiava obras na Petrobras, pagando propinas a agentes públicos, partidos e políticos.

Os pagamentos podem levar a descoberta de propina em obras de plataformas e na construção do novo centro de pesquisa da estatal, no Rio. “A partir do cruzamento do nome do representado com as informações bancárias e fiscais disponíveis das empreiteiras disponíveis no banco de dados da Operação Lava Jato, identificou-se mais de R$ 20 milhões recebidos pela empresa Trend Empreendimentos, de propriedade de João Augusto Rezende Henriques e Miloud Alain Hassene Daouadji, tendo como remetentes companhias que possuíam obras com a Petrobras”, sustentam os procuradores da República, no pedido de prisão do operador de propinas.

A Trend Empreendimentos e Participações tem sede no Rio e foi um dos alvos de busca. “Dessas empresas depositantes, a grande maioria era integrante do cartel das empreiteiras, como a Andrade Gutierrez, a Mendes Junior, a UTC e Engevix. Outra, a Promon, também esporadicamente interagia com as empresas do cartel.”

Os pagamentos podem levar a Lava Jato para novas descobertas em contratos de construção de plataformas de exploração de petróleo em alto mar e também na construção da nova sede do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio.

“Dentre as transferências mencionadas, constata-se que há indícios concretos de ilicitude nos valores depositados pelo Consórcio CENPES entre 2008 e 2009 (R$ 6,5 milhões) e no montante transferido pela Mendes Junior (R$ 7,5 milhões depositados).”

Segundo o pedido de prisão, o Consórcio Novo Cenpes era formado pela OAS (líder), a Schahin, Construbase, Carioca Christiani-Nielsen e Construcap. “A obra foi orçada em R$ 1 bilhão, mas ao final acabou custando R$ 2,5 bilhões, sendo que o contrato com o Consórcio Cenpes tinha valor de R$ 849,9 milhões, mas passou por nove aditivos que fizeram o valor final do contrato totalizar R$ 1.023.570.295,403”.

Cota do PT

O ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco – que era cota do PT no esquema de corrupção na estatal – confessou em delação premiada com a Lava Jato que houve pagamento de propina nas obras do Novo Cenpes.

“Na Diretoria de Serviços, cujo diretor era Renato Duque, houve contratos para a construção do novo CENPES – Centro de Pesquisa e o novo Centro de Processamento de Dados, cujo porcentual de propina foi de 2%, sendo que 1% teria sido destinado para o caixa do Partido dos Trabalhadores, representado por João Vaccari Neto, e outro 1% para a ‘Casa’, representada por Renato Duque e o declarante”, registrou a Polícia Federal, no termo de delação 3, de Pedro Barusco.

No lado do PMDB, a Lava Jato considerou indícios os fatos de outro delator, Mário Góes, ter confessado o recebimento de propina nesses contratos do consórcio, bem como o conflito de atuações entre a Trend, que era especializada no setor óleo e gás, e os recebimentos pela obra do Cenpes.

“A área de atuação da empresa Trend nada tinha a ver com a consultoria de engenharia, mas sim, conforme declarado pelo próprio João Augusto Rezende Henriques, com a consultoria na área de óleo e gás. Em razão disso, não se verifica causa legítima para o relacionamento entre a empresa Trend Empreendimentos e o Consórcio Novo Cenpes”, registra o MPF.

“Resta materializado o recebimento de vantagem indevida por João Augusto Rezende Henriques na obra do Centro de Pesquisa da Petrobras”, afirma a força-tarefa. “Em que pese Mário Goes tenha afirmado que intermediou parte do pagamento da propina devida pelo Consórcio NOVO CENPES, é certo que o pagamento em favor da empresa TREND representou outra parte da transferência da propina.”

Plataformas

No setor de obras off-shore, as suspeitas de intermediação de propina envolvendo o novo operador do PMDB recaem sobre as construções das plataformas tipo FPSOs P-67 e P-70. O contrato envolve a Mendes Jr e um pagamento de R$ 7 milhões.

“Com o aprofundamento das investigações da denominada Operação Lava Jato, restou evidenciado que o representado João Augusto Rezende Henriques participou de forma sistemática da corrupção na Diretoria Internacional, inclusive operando contas ocultas no exterior, cuja correta localização é ignorada”, sustenta o Ministério Público Federal, no pedido de prisão do lobista. “Para a consumação de seus crimes, João Augusto foi auxiliado pelo seu ex-sócio, Miloud Alain Hassene Daouadji.”

Prisão

Para pedir a prisão do suposto operador do PMDB, a Lava Jato considerou os indícios de recebimento de propina em contrato de navio-sonda Titanium Explorer, de US$ 1,8 bilhão, feito na Diretoria Internacional, que era cota do partido. Na época, a diretoria Internacional da estatal era conduzida por Jorge Luiz Zelada, preso na Operação Lava Jato por suspeita corrupção, evasão de divisas e lavagem.

João Henriques é o segundo suposto lobista do PMDB preso na Lava Jato. Em novembro de 2014, na Juízo Final, 7º desdobramento da operação, Fernando “Baiano” Soares foi detido preventivamente. A prisão de Henriques foi decretada em regime temporário pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato.

Segundo a denúncia, a propina de US$ 31 milhões foi dividida em dois contratos, no valor de US$ 15,5 milhões, cada. No entanto, brigas societárias teriam levado à redução do montante acertado para US$ 20,8 milhões.

“O pagamento de vantagem indevida destinada ao partido PMDB ocorreu por intermédio do lobista João Augusto Rezende Henriques mediante um segundo contrato de Comission Agreement também no valor de U$ 15,5 milhões, que foi assinado na mesmo ano do primeiro, entre a sociedade Valencia Drilling Corporation (Marshall Islands), empresa subsidiária do Grupo TMT e uma offshore indicada por João Augusto Rezende Henriques”, aponta a Procuradoria na denúncia formal contra Zelada e mais 5 investigados.

Defesa

O criminalista José Claudio Marques Barboza Junior, que defende João Henriques, disse que ainda não teve acesso à denúncia do Ministério Público Federal. “Não vi os termos da acusação. Também não tomei ciência do pedido de bloqueio. Assim que acessar à denúncia e o requerimento de bloqueio vou poder me manifestar.”

Já a assessoria de imprensa do PMDB negou todas as acusações e disse que a sigla nunca autorizou quem quer que seja a ser intermediário do partido para arrecadar recursos.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?