Itamaraty monitora matérias internacionais que ligam Bolsonaro à milícia
As embaixadas em Estocolmo e em Roma já mandaram relatórios sobre o assunto ao Ministério das Relações Exteriores em Brasília
atualizado
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Publicações sobre o clã Bolsonaro em veículos de imprensa internacionais são monitorados pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), órgão máximo da diplomacia brasileira, a mando do Palácio do Planalto.
O corpo diplomático está rastreando, inclusive, possíveis associações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de seus filhos — Eduardo (deputado federal pelo PSL-RJ), Carlos (vereador pelo Republicanos-RJ) e Flávio (senador pelo Republicanos) — com milícias no Rio de Janeiro.
A informação veio à tona após parlamentares solicitarem informações ao ministro das Relações Exteriores, o chanceler Ernesto Araújo, sobre a existência ou não de instruções do governo para os integrantes de postos no exterior sobre como tratar questões relativas ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), executada em março de 2018.
Neste sábado (18/7), o jornalista Jamil Chade, colunista do portal Uol, publicou parte de documentos sobre o assunto. O embaixador brasileiro na França se recusou a participar de um evento que homenagearia a vereadora.
Após uma mudança do Palácio do Itamaraty na classificação de sigilo dos documentos, que passaram de “reservado” para “ostensivo”, o que permite o acesso na íntegra as telegramas se tornaram públicos. A modificação ocorreu em 6 de julho de 2020.
Um dos documentos internos da chancelaria revelam que o Itamaraty está monitorando a imprensa estrangeira de uma forma detalhada, inclusive quando o assunto é a suposta relação da família Bolsonaro com milícias.
Um dos exemplos é de março de 2019. A embaixada do Brasil em Estocolmo informou ao Itamaraty que uma matéria no jornal sueco Dagens Nyheter traz “graves insinuações de vínculos do senhor presidente com facções criminosas do Rio supostamente envolvidas no crime”.
Em 13 de fevereiro deste ano, a embaixada do Brasil em Roma informou ao Itamaraty sobre um artigo no jornal La Repubblica, no qual se fazem “ilações difamatórias” em relação ao presidente Bolsonaro.
O Metrópoles ouviu fontes que Itamaraty que confirmaram a reação dos embaixadores e que elas caracterizam “praxe” no governo. “É a função do embaixador defender a imagem do país em que ele está”, afirmou um funcionário do órgão. As embaixadas acompanham as publicações relacionadas ao Brasil, ao presidente e seu entorno.
Vigilância também no Brasil
Em fevereiro, o Metrópoles mostrou que a Secretaria de Governo da Presidência e a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência foram escaladas pela presidência para montar uma estratégia de monitoramento sobre a repercussão dos atos contra e favoráveis ao governo. À época, protestos estavam marcados para os dias 15 e 18 de março.
A intenção era medir os efeitos e como a imprensa trataria os movimentos, como isso refletiria na popularidade de Bolsonaro e como os servidores públicos — peça central nos atos daquele mês — se comportariam.
Versão oficial
O Metrópoles entrou em contato com o Palácio do Planalto e com o Palácio do Itamaraty para saber a abrangência do monitoramento, o que justifica e quais são objetivos do governo brasileiro. Até a última atualização desta reportagem, os órgãos não responderam. O espaço continua aberto para esclarecimentos.