Imprensa é alvo de Bolsonaro no Twitter a cada 3 dias
Desde a posse, presidente utiliza sua conta na rede social para 29 publicações nas quais ataca ou questiona a imprensa
atualizado
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Em pouco mais de dois meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro usou sua conta no Twitter para publicar ou compartilhar mensagens nas quais critica, questiona ou ironiza o trabalho da imprensa brasileira. Foram 29 publicações desde a posse até esta segunda-feira (11/3), uma média de uma vez a cada quase três dias na rede social que o presidente tem utilizado como principal meio de comunicação com a população.
Quase metade das críticas e acusações contra a imprensa que aparecem na conta de Bolsonaro é feita por meio de retuíte de aliados e familiares, como dos filhos Carlos e Eduardo e as páginas que costumam reunir simpatizantes do presidente.
Foi o caso do site Terça Livre, que neste domingo (10), publicou texto que falsamente atribui à repórter do Estadão Constança Rezende a declaração “a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”, ao tratar da cobertura jornalística das movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador e filho mais velho do presidente.
Na noite de domingo, o próprio Bolsonaro escreveu no Twitter: “Constança Rezende, do “O Estado de SP” diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o Impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otavio, profissional do “O Globo”. Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos”.
A gravação do diálogo, porém, mostra que Constança em nenhum momento fala em “intenção” de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas. Só trechos selecionados foram divulgados.
O texto publicado no Terça Livre tem como origem uma postagem no site francês Mediapart, que disse nesta segunda-feira que as informações que serviram de base para o tuíte de Jair Bolsonaro “são falsas”. O texto original é assinado por Jawad Rhalib, que se apresenta como “autor, cineasta, documentarista e jornalista profissional”. A publicação no site brasileiro é assinada por Fernanda Salles Andrade, que ocupa cargo no gabinete do deputado estadual Bruno Engler (PSL), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Entidades
O caso envolvendo a repórter do Estado ganhou repercussão internacional e enfática reação de entidades que representam empresas de comunicação, jornalistas profissionais e a liberdade de expressão.
Nesta segunda, a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) emitiram nota conjunta em que lamentam o ataque do presidente ao jornal e à repórter Constança Rezende.
As entidades afirmaram que os ataques à repórter têm o objetivo de desqualificar o trabalho jornalístico. “Abert, Aner e ANJ assinalam que a tentativa de produzir na imprensa a imagem de inimiga ignora o papel do jornalismo independente de acompanhar e fiscalizar os atos das autoridades públicas”, diz a nota.
Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o episódio mostra por parte do presidente o “descompromisso com a veracidade dos fatos” e se caracteriza como “o uso de sua posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas”.
Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga afirmou que o ataque é um atentado à liberdade de imprensa. “O presidente e seus seguidores tentam intimidar os profissionais jornalistas por meio de agressões verbais e ameaças”, declarou.
Procurados nesta segunda, integrantes do governo Bolsonaro não quiseram comentar o caso.
Ao eleger a imprensa e veículos de comunicação como alvo, o presidente costuma fazer comentários em tom irônico e acusações de fake news. Em quatro postagens, consideradas em levantamento anterior da reportagem, Bolsonaro também divulgou entrevistas que concedeu à TV Record e a um canal italiano, e um discurso seu em que fala sobre liberdade de imprensa.
Veja, cronologicamente, alguns ataques do presidente Jair Bolsonaro à imprensa no Twitter:
1º de janeiro – Acusação de fake news contra a Revista Veja:
Não é a primeira fakenews do ano, mas vale uma risada! Kkkkkkk…. vamos pra Rampa! Selva! ???? pic.twitter.com/N7EA22lqy8
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 1 de janeiro de 2019
2 de janeiro – Ataque contra a revista Época:
Via @CarlosBolsonaro – Infelizmente, este está sendo o nível de maior parte do jornalismo brasileiro! pic.twitter.com/cdC3eu8rQI
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 3 de janeiro de 2019
5 de janeiro – Ataque ao portal Metrópoles:
Não há nenhum limite de alguns setores da mídia para inventarem mentiras 24h por dia sem a menor preocupação com a informação: pic.twitter.com/MLNBIRHJoz
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 5 de janeiro de 2019
27 de janeiro – Retweet de ironia sobre conteúdo do “Jornal Nacional”, da TV Globo:
Será que sai no JN? https://t.co/RCTzHvUpQG
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 27 de janeiro de 2019
10 de março – Publicação de declarações falsas para atacar Estadão e a repórter Constança Rezende
Constança Rezende, do “O Estado de SP” diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o Impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otavio, profissional do “O Globo”. Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos. pic.twitter.com/1iskN3Az2F
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 10 de março de 2019