Haddad busca “pontes” para o segundo turno contra Bolsonaro
Além dos partidos de esquerda (PDT, PSB e Psol), estratégia petista tentará conquistar apoio de Marina Silva e do PSDB por meio de FHC
atualizado
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Enquanto o segundo turno das eleições presidenciais foi se desenhando nas pesquisas de intenções de votos entre o petista Fernando Haddad e o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, as campanhas começaram a reencontrar “pontes” com o objetivo de firmar apoios na segunda fase da disputa. No PT, a expectativa é de que PDT, que defendeu Ciro Gomes no primeiro turno; PSB, que se manteve neutro na campanha presidencial, priorizando os arranjos estaduais, e PSol, que levou a candidatura de Guilherme Boulos, estejam inteiros no apoio formal a Haddad.
Em relação ao restante das legendas, o partido mobiliza sua base nos estados e parlamentares para buscar lideranças “no varejo”, de acordo com um integrante da cúpula petista ouvido pelo Metrópoles.
Dificilmente, no entender do PT, a Rede de Marina Silva e o PSDB de Geraldo Alckmin devem apoiar Haddad contra Bolsonaro. No entanto, atitudes individualizadas de membros importantes dos dois partidos serão estimuladas e são consideradas possíveis pelos petistas.
Tucanos
Na última semana do primeiro turno, Alckmin enfrentou uma debandada de sua coligação, principalmente em favor de Bolsonaro. No entendimento dos petistas, caso o PSDB libere seus integrantes para apoiar qualquer candidato, serão bem-vindas as declarações públicas de críticas de tucanos tradicionais “em favor da democracia” e contrárias às “ameaça aos Direitos Humanos”.
Para estimular estes posicionamentos, o PT argumenta que os valores democráticos foram construídos não só nos governos petistas, mas também durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É com este argumento que Haddad incluiu em sua série de telefonemas a serem feitos no domingo (7/10) à noite, após o resultado, uma ligação para o ex-presidente tucano, com quem sempre dialogou bem.
O PT enxergou esse espaço de diálogo em recentes declarações de fundadores do PSDB e da cúpula do partido e nas repercussões de movimentos de tucanos no final do primeiro turno. O próprio ex-presidente FHC declarou durante o primeiro turno que, caso houvesse um segundo turno entre o petista e Bolsonaro, seu apoio seria de Haddad.
As declarações de FHC foram consideradas inapropriadas pelos tucanos no momento em que Alckmin lutava para crescer nas pesquisas. Haddad, no momento da declaração, consolidava-se em segundo lugar e Alckmin patinava em seus 5% ou 6%, em 4º lugar.
Canais
O cearense Tasso Jereissati, com seus recentes reconhecimentos de erros dos tucanos, também é um canal de diálogo mapeado pelo PT. Seu posicionamento de pontuar equívocos cometidos pelos tucanos nos últimos anos foi bastante explorado por Haddad em respostas sobre os erros do PT no primeiro turno. Agora, Jareissati entra no rol de políticos a serem afagados pela campanha petista.
Jereissati enfatizou que os tucanos erraram ao questionar o resultado das eleições, em 2014, na vitória da petista Dilma Rousseff sobre Aécio Neves. Erraram também, segundo ele, ao apoiar e entrar no governo de Michel Temer e ainda ao aprovarem aumentos sucessivos de despesas para o governo no momento em que Dilma lutava para diminuir gastos, referindo-se às chamadas “pautas-bomba” no Congresso.
Outro canal imaginado pelo PT é o ex-ministro da Justiça e titular da Secretaria Nacional de Direitos Humanos de FHC, o jurista José Gregori, um dos fundadores do PSDB, que também declarou, ainda no primeiro turno, ser um “equívoco” a aproximação de alas do partido com Bolsonaro.
Até mesmo com Alckmin, o diálogo é pensado dentro do PT. A três dias da eleição, ele declarou que temia que Bolsonaro pudesse agravar a crise pela qual o país passa, sinalizando que não pretende ficar ao lado do candidato do PSL no segundo turno. No entanto, segue firme na exploração do antipetismo, estratégia que adotou durante toda a campanha. Some-se a isso, a saída de Xico Graziano, ex-chefe de gabinete de FHC, do partido, para apoiar Bolsonaro. O movimento foi lido como sintoma de racha entre os tucanos.
Marina
De Marina, o PT espera neutralidade, embora haja, por parte de alguns membros do partido, disposição para conversar com a ex-ministra e com outros integrantes da Rede em busca de apoio. Esse papel poderá ser desempenhado por Eduardo Suplicy, amigo pessoal de Marina e ainda pelos irmãos petistas Jorge e Tião Viana, do Acre, que mantém com a liderança da Rede uma boa interlocução.
Marina não poupou críticas severas a Bolsonaro no primeiro turno. Ela também fez as críticas costumeiras ao PT e lembrou os motivos que a fizeram deixar a legenda. No entanto, o PT espera argumentar com a presidenciável o “risco Bolsonaro” em relação aos valores construídos até agora durante o período democrático.
Neste caso, na avaliação de petistas, trata-se de uma situação diferente de outras disputas, nas quais havia visões diferentes de projetos de desenvolvimento. No entanto, não havia um claro caminho de retrocesso no campo das ideias, costumes e, principalmente, dos Direitos Humanos.
Integrantes do partido não falam, nem em conversas reservadas sobre o segundo turno. No entanto, a cúpula da legenda marcou uma reunião para definir os rumos do partido para segunda-feira (8/10).
Dispersão do centrão
A aposta do PT é de que o Centrão, bloco formado pelo SD, PR, PP, DEM e PRB, não se manterá coeso e os articuladores petistas, principalmente parlamentares, buscam diálogo com as principais lideranças desse grupo.
No DEM, o PT pretende buscar a parceria do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ). Apesar de pertencer a um partido do campo da direita, não compartilha dos valores defendidos por Jair Bolsonaro e tem uma boa relação com deputados do PT, como José Guimarães, um grande articulador da campanha, e Orlando Silva, do PCdoB. Embora haja um clima de ceticismo em relação ao DEM, para convencer Maia, os emissários argumentam a “inviabilidade” de Bolsonaro, do ponto de vista democrático.
O PT também retomou o diálogo com o senador Ciro Nogueira (PP) que declarou apoio a Haddad. Da mesma forma, no PTB, o pernambucano Armando Monteiro também é uma dissidência do Centrão que decidiu pelo apoio ao petista. No Solidariedade, as tentativas miram Paulinho da Força.
MDB
As tradicionais parcerias no MDB são as “pontes” que serão utilizadas na busca de apoio, ou seja, as dissidências emedebistas no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff são os canais do PT nos estados para alavancar votos. O senador Roberto Requião, no Paraná, Renan Calheiros e Renan Filho, em Alagoas.
No Ceará, Eunício Oliveira é um contato importante da campanha e em Sergipe, o governador Jackson Barreto é um apoiador fiel do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e dos governos petistas.
Cid e Ciro
Com o PDT, o caminho de diálogo vem sendo pavimentado há bastante tempo, inclusive com o protagonismo dos irmãos Ciro e Cid Gomes, que nos últimos anos controlam um grupo importante da política cearense. O PDT participou das alianças que elegeram Lula e Dilma nas três disputas anteriores e nos governos petistas, comandou políticas importantes de geração de empregos, no Ministério do Trabalho.
Pelos irmãos cearenses passaram também projetos fundamentais da política petista, como a integração nacional, com a transposição do Rio São Francisco, e a própria política de Educação, no breve segundo mandato de Dilma Rousseff.
Cid deixou a pasta da Educação enfrentando o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, hoje preso pela Operação Lava Jato. No episódio, deixou clara a barganha imposta por Cunha sobre o governo da ex-presidente.
A proximidade entre Cid, Ciro e Carlos Lupi, presidente da legenda, com os quadros do PT vai além das participações no governo e independentemente dos ataques de Ciro ao petista Haddad, entendido pelos petistas como seu papel de candidato.
Veto que pode ser usado no segundo turno
As relações mais recentes datam do período pré-campanha. Na fase de definição das candidaturas, para beneficiar Cid na disputa ao Senado, o PT barrou a candidatura à reeleição do senador José Pimentel. Com isso, as duas vagas ao Senado no Ceará ficaram com o peemedebista Eunício Oliveira e Cid Gomes. Pimentel aceitou a definição do partido e não se candidatou a nenhum cargo. Este é um gesto que o PT espera ver reconhecido pelos irmãos Gomes.
Antes, nas eleições de 2014, a escolha do petista Camilo Santana, atual governador do Ceará, como o candidato apoiado por Cid e Ciro também foi um gesto de fidelidade. A escolha foi comunicada por Cid e Ciro em reunião no Palácio da Alvorada à presidente Dilma Rousseff. Filiado ao PT, mas filho de um integrante importante do PSB, na época, Santana era quase desconhecido pela cúpula petista.
Nesta semana, a sinalização de Lupi de que caminhar com Haddad seria o “caminho natural” repercutiu no PT como uma porta aberta para a retomada das conversas.
PSB
A posição de neutralidade negociada com o PSB na primeira fase da disputa não ocorrerá no 2º turno. Os socialistas deram garantias que estarão no apoio a Haddad. Esse aval foi dado pelo presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira, e pelo governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.
O PSol, partido que também deverá vir em peso para a candidatura de Haddad, a interlocução é com o próprio Boulos, com o deputado federal Ivan Valente e com o ex-deputado estadual, Marcelo Freixo, do Rio de Janeiro.