Guedes diz que é possível “consertar” erros de Bolsonaro na economia
A declaração vem um dia após o presidente admitir que interferiu no reajuste de preços de diesel na Petrobras
atualizado
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que é possível “consertar” caso o presidente Jair Bolsonaro faça alguma coisa “que não seja razoável” na economia. “Uma conversa conserta tudo”, afirmou neste sábado (13/4).
A declaração vem um dia após Bolsonaro admitir que interferiu no reajuste de preços de diesel, ao telefonar para o presidente da Petrobras e pedir para cancelar o reajuste de 5,7% no preço do óleo diesel. A empresa perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado depois disso.
Na sexta, Guedes sugeriu que não havia sido informado pelo presidente sobre a decisão. Neste sábado, após insistência de jornalistas, o ministro afirmou que Bolsonaro já disse que não é um especialista em economia e que o presidente deve ter se preocupado com efeitos políticos.
“O presidente já disse para vocês que ele não era um especialista em economia, então é possível que alguma coisa tenha acontecido lá. Ele, ao mesmo tempo, é preocupado com efeitos políticos, estamos falando em greve de caminhoneiro, esse tipo de coisa, então é possível que ele esteja lá tentando manobrar com isso”, disse o ministro da Economia.
Questionado, na sequência, que tipo de mensagem o governo passa ao ceder rapidamente a uma demanda dos caminhoneiros, ele respondeu: “Eu vou me informar. E eu concordo com suas preocupações”.
Segundos depois, já de dentro do carro em frente ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro chamou os jornalistas para complementar: “Ao mesmo tempo em que eu concordo com suas preocupações e indagações, eu acho que o presidente tem muitas virtudes. Fez muita coisa acertada, e ele já disse que não conhece muito economia. Se ele, eventualmente, fizer alguma coisa que não seja razoável eu tenho certeza que nós conseguimos consertar. Uma conversa conserta tudo”.
A entrevista com Guedes foi feita enquanto o ministro caminhava, de maneira apressada, na saída do FMI. Ele evitou responder às primeiras perguntas sobre o tema. Questionado, por exemplo, se era contraditório que um governo com política econômica liberal tenha feito uma intervenção nos preços de combustível, ele retrucou: “Eu não vou dizer isso que você está pedindo”.
Guedes afirmou que as conversas nos Estados Unidos têm sido importantes e usadas para debater “como é que vão ser as coisas daqui para a frente no Brasil”. O ministro da Economia esteve em Nova York na quarta-feira e em Washington desde então, onde participa de reuniões de primavera do FMI e encontros com investidores, economistas e ministros de outros países.
“Nós estamos conseguindo reverter uma imagem ruim”, disse Guedes, que afirmou ter se reunido com “excelentes interlocutores”, como a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, com integrantes do Banco Mundial, Tesouro americano, presidente do Federal Reserve e “presidentes dos bancos centrais do mundo inteiro”.
“O Brasil vai progredir rapidamente em vários frontes. Aí tem uma notícia lá embaixo que eu não estava lá e não sei o que houve exatamente. Eu prefiro não comentar, só isso, eu prefiro me informar melhor. Evidente que houve um efeito ruim lá embaixo e estou preferindo trabalhar nos frontes onde eu consigo construir alguma coisa”, afirmou o ministro.
Ele disse que também teve conversas sobre a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na visita de Bolsonaro aos EUA, o presidente americano, Donald Trump, se comprometeu com o endosso da candidatura do Brasil à organização, um pleito da equipe econômica.
Guedes afirmou que a economia mundial está conseguindo “atravessar um desfiladeiro estreito” e evitar que a crise financeira virasse uma depressão mundial. “Ao mesmo tempo, se a economia estivesse crescendo muito e houvesse uma ameaça de inflação seria terrível, os juros estariam subindo, teria uma desalavancagem forte, teria uma bolha dos bônus estourando. A economia mundial poderia de repente cair num desastre”, disse.
O ministro afirmou que, com a desaceleração moderada da economia mundial, e a volta do crescimento do Brasil, haverá um horizonte de investimentos no País, especialmente em vários setores como petróleo, gás e infraestrutura, com destaque para saneamento.
Segundo o ministro da Economia, ele não foi questionado durante as reuniões do FMI sobre a decisão relativa ao diesel no Brasil. O diretor do departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, afirmou nesta sexta-feira que tudo o que impedir uma “operação comercial saudável” da Petrobras pode gerar problemas à empresa.