metropoles.com

Governo Temer culpa vazamento da JBS por fracasso na Previdência

Publicação das conversas gravadas no Palácio do Jaburu teriam colocado a perder trabalho que criaria condições para votação da reforma

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Michael Melo/Metrópoles
Monumentos de Brasília – Palácio do Planalto
1 de 1 Monumentos de Brasília – Palácio do Planalto - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Sem mencionar explicitamente o fato, o governo federal culpa o vazamento das conversas do empresário Joesley Batista (J&F) com o presidente Michel Temer (MDB), em maio do ano passado, pelo fracasso na aprovação da reforma da Previdência.

O documento “Encontro com o Futuro”, que será lançado nessa terça-feira (22/5) em evento que deverá confirmar pré-candidatura do ministro da Fazenda Henrique Meirelles ao Palácio do Planalto, diz que o governo tinha a aprovação da proposta “quase assegurada” a determinada altura do ano passado.

“A oportunidade se perdeu pelo oportunismo de iniciativas no campo judicial, que desviaram, talvez propositadamente, a atenção do sistema político.” O documento não diz que iniciativas são essas. Mas pessoas mais próximas de Temer repetem que o vazamento das conversas gravadas no Palácio do Jaburu colocaram a perder o trabalho político que criara condições para a votação da reforma, com boas chances de aprovação.

“A ideia da injustiça e da insustentabilidade dos nossos sistemas de previdência, no entanto, incorporou-se definitivamente à agenda política do país e sua reforma será a principal pauta de qualquer ajuste fiscal definitivo”, diz o documento, o terceiro de uma série iniciada com o “Ponte para o Futuro” e que teve em seguida o “Travessia Social.”

O próprio documento aponta para a falta da reforma da Previdência, um ponto de fragilidade da economia brasileira apontado também por especialistas e analistas de mercado, como o principal desafio a ser superado. “O ajuste fiscal e as reformas de Estado não são um fim em si mesmo”, diz o documento. “Seu propósito é tornar o crescimento possível.”

Em entrevista exclusiva publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, no último dia 12, Temer disse que, após o resultado das eleições, pretende convidar seu sucessor para retomar a negociação da reforma da Previdência e tentar aprová-la ainda este ano.

Serviço público
Além da reforma da Previdência, o documento “Encontro com o Futuro”, elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães, defende uma reforma do serviço público, sem detalhar medidas.

O texto, no entanto, aponta para o crescimento dos chamados gastos obrigatórios do governo, dos quais previdência e folha salarial são os principais, como um obstáculo ao reequilíbrio das contas públicas e à implantação de políticas que combatam a desigualdade no país.

“As despesas da União com pessoal e gastos previdenciários no Orçamento de 2018, por exemplo, absorverão 73% da receita federal líquida”, diz o documento. “E não beneficiarão a imensa maioria da população necessitada.” Ele acrescenta que, “acima de qualquer outra medida”, é necessário alterar as regras que determinam o aumento das despesa previdenciárias e as que “regulam os custos do serviço público em geral.”

Tais mudanças abririam espaço, inclusive, para aumentar a parcela do orçamento federal sobre a qual os parlamentares podem opinar e decidir, diz. Hoje, os gastos se concentram em despesas sobre as quais não há margem de manobra, como salários e benefícios previdenciários.

O governo Temer tenta, no Congresso, autorização para adiar reajustes salariais já concedidos ao funcionalismo. Boa parte desses reajustes foram negociados no governo de Dilma Rousseff e mantidos pela atual gestão.

Superávit
Meirelles diz que será necessário alcançar um saldo positivo (superávit primário) nas contas públicas equivalente a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para que a dívida brasileira comece a cair.

Atualmente, o saldo é negativo em 2,5% do PIB. Isso significa que para alcançar o cenário ideal será necessário buscar um ganho em termos de aumento de receita e corte de gastos equivalente a 5% do PIB. Isso deverá ocorrer “em algum momento da próxima década”, informa.

Além das reformas da Previdência e do Serviço Público, o documento cita a revisão de incentivos ao setor produtivo, como subsídios e desonerações fiscais, como uma medida necessária para o ajuste das contas públicas. “Estas despesas não produziram resultados em termos de aumento da competitividade e chegaram a consumir mais de 6% do PIB nos últimos anos”, informa

Com esse objetivo alcançado, haverá espaço e recursos “para o investimento público e os gastos verdadeiramente sociais, como em educação, saúde e segurança pública.” O documento cita um relatório elaborado pelo Banco Mundial, chamado “Um Ajuste Justo”, que aponta para a má qualidade e o mau direcionamento dos gastos públicos no Brasil, e sugere uma série de mudanças para garantir que os beneficiados sejam realmente os mais pobres.

O relatório do Banco Mundial avalia os resultados das políticas de apoio às empresas adotadas principalmente pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) e conclui que, com poucas exceções, elas não atingiram os objetivos propostos. E, nas áreas sociais, toca em “vacas sagradas” da sociedade brasileira.

Por exemplo, para a concentração de gastos federais no ensino superior gratuito, ao qual os realmente pobres têm pouco acesso. Ou para o grande volume de receitas que o governo deixa de arrecadar por causa dos abatimentos com despesas e planos de saúde no Imposto de Renda, que tampouco beneficiam as famílias de menor renda.

“As políticas sociais de educação, saúde e combate à pobreza, bem como os serviços de segurança pública, precisam continuar a ser reformadas”, diz o documento do MDB. “Mas é inegável que será necessário, em alguns casos, também um aumento dos gastos.”

Saúde
O documento fala, por exemplo, em investir mais na informatização do sistema de saúde. Diz que o atual governo empregou perto de R$ 1,5 bilhão para instalar equipamentos e treinar pessoal em 17 mil unidades básicas de saúde, e a intenção é chegar a 43 mil até o fim do ano.

Assim, o potencial de economia foi calculado em R$ 22 bilhões ao ano. “Nos próximos anos será necessária uma maior integração do Sistema, de modo a reduzir custos e ineficiências, já fartamente detectadas, e aperfeiçoar as portas de entrada, através do programa de Saúde da Família.”

Educação
Já na área de Educação o problema não é tanto a falta de recursos, mas seu uso. O “Encontro” diz que o Brasil gasta perto de 6% do PIB na área, o que é superior à média dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Isto significa que a falta de resultados efetivos não está na falta de recursos, como muitas vezes se alega.”

Para melhorar a qualidade, a aposta “para os próximos anos” é a qualificação de professores e “incentivos remuneratórios, baseados em resultados efetivamente avaliados, para que as mudanças sejam de fato implementadas.”

Será dada ênfase também aos primeiros anos de escola, com universalização da educação infantil e o ensino em tempo integral, “especialmente para as crianças de famílias mais pobres.”

O documento cita também a necessidade de alinhar as escolas à evolução tecnológica. “Nosso ambiente educacional público é muito tradicional, ainda preso aos processos analógicos, mais caros, menos eficientes e atrativos para a juventude de hoje”, atesta.

“Nos países desenvolvidos a educação está sendo totalmente transformada, e, tal como a comunicação, a música e o entretenimento, pode estar disponível a custos extremamente baixos.”

Criminalidade
“É justo dizer que o Estado brasileiro até agora vem perdendo a luta contra a criminalidade”, diz o documento “Encontro com o Futuro”, ao tocar num dos temas que deverão pautar a campanha eleitoral deste ano.

O texto admite que os níveis de criminalidade alcançados no Brasil são “absolutamente excepcionais, muito acima de outros países equivalentes ao nosso” e registra o “cúmulo” de, em algumas localidades, haver áreas urbanas onde o Estado não pode agir.

O documento diz que a responsabilidade de mudar esse quadro recai sobre União, estados e municípios, cada um na sua área de atuação. Isso porque o agravamento da situação se deu pela “desarmonia” entre as esferas de poder, a falta de sintonia entre as instituições públicas e uma “série histórica de medidas paliativas e descontínuas”, segundo avaliou.

A grande aposta do governo para é a criação do Sistema Único de Segurança Pública e Defesa Social (Susp), que vai integrar as instituições que atuam na segurança. Assim, vai permitir o compartilhamento de informações e ações conjuntas, “dando unidade à ação pública”. A proposta já foi encaminhada ao Congresso Nacional e está em vias de ser aprovado, informa o “Encontro”.

Em 2016, diz o documento, o setor público empregou o equivalente a 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em ações de segurança pública, sendo que a parcela destinada a custeio e investimento foi inferior a 10% do total. “Todo o valor gasto com segurança foi inferior ao crescimento anual das despesas com previdência do Governo Federal nos últimos dois anos”, informa.

A intervenção militar no Rio de Janeiro é classificada como uma “medida de emergência”, num quadro de “problemas institucionais” e a escalada do crime organizado colocavam em risco a sociedade. “Foi uma mostra de como, doravante, o desafio da segurança pública será enfrentado: com prioridade, recursos financeiros e institucionais e, principalmente, com coragem e responsabilidade “

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?