General Heleno: “Reajuste do Judiciário não é derrota. É preocupação”
Para o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do presidente eleito, decisão não representa derrota para novo governo
atualizado
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O general da reserva Augusto Heleno Ribeiro, responsável pela chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Jair Bolsonaro, foi um dos primeiros a chegar à casa do presidente eleito na região central de Brasília nesta quinta (8/11). Na entrada, ele comentou a relação entre Bolsonaro e o seu futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, fez ponderações sobre a aprovação do reajuste do Judiciário e disse que dará continuidade ao trabalho já feito no GSI.
Perguntado por jornalistas se a decisão de ontem do Senado de conceder aumento salarial aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) poderia ser vista com uma derrota para o novo governo, o general, primeiro, disse que não iria comentar o assunto, por ser “fora” de seu “espectro”, mas depois afirmou: “Não é derrota, é preocupação, até pelos gastos anunciados. Mas isso tem que ser muito bem estudado, avaliado, principalmente pelo doutor Paulo Guedes”.
A aprovação contrariou a vontade de Bolsonaro. “Obviamente, não é o momento”, disse o presidente eleito horas antes da votação. “Estamos em uma fase que ou todo mundo tem ou ninguém tem. E o Judiciário é o mais bem aquinhoado.” O reajuste de 16,38% para o segmento, bem como para o Ministério Público Federal agora segue para sanção presidencial. Com isso, o teto do funcionalismo público passa de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. O aumento terá efeito cascata para a União e os estados e pode custar cerca de R$ 4,1 bilhões por ano.
Jogo aberto
Na rápida conversa, segundo Heleno, Bolsonaro e Guedes têm um relacionamento muito bom, um “jogo aberto, que é muito importante”. A avaliação se deu em resposta a uma pergunta sobre a falta de “traquejo político”, como o presidente eleito já mesmo classificou o fato de Guedes seguir fazendo declarações polêmicas. Na terça-feira (6), Guedes defendeu um “prensa no Congresso” pela aprovação da Reforma da Previdência. Depois, Bolsonaro disse que a palavra certa é “convencimento”.
Heleno foi perguntado, então, se Bolsonaro iria sempre atuar como um “moderador” junto ao seu futuro titular da Economia, e ele respondeu: “Não. Eles vão trabalhar juntos, eles têm um relacionamento muito bom. Eles são muito francos um com o outro. Essa transparência, essa lealdade entre as pessoas, isso constrói muito. Pior coisa em uma equipe de governo é você ficar preocupado com o que vai falar com outro, que vai pensar, esse jogo aberto é muito importante”, destacou.
O general declarou ainda que dará continuidade ao trabalho realizado no GSI nas gestões anteriores e elogiou seus antecessores. “Vou aproveitar o que eles fizeram, não tem que reinventar a roda no GSI”.
Bolsonaro está em seu apartamento e deve seguir mais tarde para o Gabinete da Transição Governamental, no CCBB, onde deve se reunir com a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), escolhida para o Ministério da Agricultura. Além do General Heleno, também chegou à casa de Bolsonaro o deputado federal Marcos Montes (PSD-MG), integrante da bancada ruralista. Ele já presidiu a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Recado
O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) afirmou na manhã desta quinta que a decisão do Senado de aprovar o aumento no salário dos ministros do STF é um “recado” ao novo governo. “Me pareceu que o Senado quis mandar um recado para ele (Bolsonaro), algo do tipo: veja com quem está falando”, afirmou em entrevista exclusiva à Rádio Eldorado.
De acordo com Ferraço, Bolsonaro está provocando uma mudança na ocupação dos espaços de governo e que pode ter havido certo ressentimento por parte do presidente do Senado, Eunício de Oliveira (MDB-CE), que liderou a votação. “Me parece que o presidente eleito e o economista Paulo Guedes talvez não tenham feito tanto carinho como esses políticos querem receber. Foi um pouco de ressentimento por não ter recebido os naturais afagos para massagear sua vaidade. É um absurdo”, afirmou.
A medida foi aprovada por 41 votos favoráveis, 16 contrários e uma abstenção. “Faltou responsabilidade. É um tapa na face do povo brasileiro”, criticou Ferraço.