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“Gabinete paralelo” e previsões furadas: CPI da Covid ouve Osmar Terra

Deputado é apontado como um dos responsáveis por aconselhar presidente sobre medidas de enfrentamento à pandemia

atualizado

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Reprodução/Redes Sociais
Osmar Terra e Marcelo Queiroga2
1 de 1 Osmar Terra e Marcelo Queiroga2 - Foto: Reprodução/Redes Sociais

Sob grande expectativa, a CPI da Covid ouve, na manhã desta terça-feira (22/6), o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), apontado como um dos líderes do chamado “gabinete paralelo”. A pedido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o parlamentar teve sua convocação “trocada” por convite, o que permite a ele recusar-se a comparecer ao Senado.

Se for, Terra será confrontado pelos membros da comissão a respeito de sua participação no grupo que prestava assessoramento paralelo ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre medidas de enfrentamento contra a pandemia de Covid-19. 

Defensor do “tratamento precoce” com remédios sem eficácia comprovada, o deputado será bombardeado pelos senadores devido a previsões erradas acerca da crise sanitária. Ao longo da pandemia, o parlamentar relativizou a gravidade da doença e seus impactos, colocou em dúvida a eficácia de vacinas e desestimulou a adoção de medidas de prevenção à Covid-19.

Em março do ano passado, por exemplo, Terra defendeu, sem qualquer embasamento científico, que a “epidemia” seria “menor e com muito menos dano à população do que a epidemia de H1N1” – que, entre 2009 e 2010, matou 2.098 pessoas no Brasil. A previsão não se confirmou e o país já registrou mais de 500 mil mortos pela Covid-19, um número 250 vezes maior do que o citado pelo deputado federal.

Um mês depois, em seu Twitter, o deputado disse que a pandemia acabaria no final de abril, o que, mais uma vez, não ocorreu. Na ocasião, ele ainda relativizou a eficácia da adoção de medidas não farmacológicas – como lockdown, distanciamento social e uso de máscaras – para conter o avanço e a disseminação do vírus.

Em mais uma previsão equivocada, Terra estimou, em 7 de abril de 2020, que o pico de casos e óbitos pelo novo coronavírus ocorreria “em no máximo duas semanas”.

Imunidade de rebanho

A oitiva com o ex-ministro da Cidadania de Bolsonaro será um prato cheio para os senadores oposicionistas, que sustentam a tese de que Bolsonaro apoiou a imunidade de rebanho sem aplicação de vacinas. Ou seja, estimulou o contágio e a exposição das pessoas ao vírus para que desenvolvessem imunidade “natural”.

Há o entendimento entre os senadores, de posse das informações obtidas até o momento e colhidas nos depoimentos realizados, de que coube a Terra apresentar a tese ao presidente Jair Bolsonaro.

Outra tese defendida pelo deputado é que não haveria a possibilidade de que pessoas já infectadas e curadas da doença voltassem a se contaminar com o vírus. “Não, isso não existe em epidemia, num período curto de epidemia, senão a epidemia não acabava nunca”, afirmou em entrevista ao canal Rede Viva, em 27 de maio do ano passado.

Esse posicionamento é defendido até hoje por Bolsonaro. Em live realizada na semana passada, o presidente voltou a dizer que contrair o vírus é imunização “mais eficaz” que se vacinar contra Covid-19.

“Todos que já contraíram o vírus estão vacinados. Até de forma mais eficaz que a própria vacina, porque você pegou o vírus para valer. Então, quem pegou o vírus, não se discute, está imunizado”, disse o presidente, durante transmissão ao vivo nas redes sociais.

A informação divulgada pelo chefe do Executivo federal não possui respaldo científico. Especialistas afirmam que, mesmo após vacinadas, as pessoas precisam usar máscara e evitar aglomerações.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dispensa dos cuidados básicos, como o uso da máscara, só pode acontecer quando não há mais transmissão comunitária da doença, e isso não depende apenas da vacinação.

Requerimentos

Ainda nesta terça, a CPI da Covid dedica parte da sessão para deliberar sobre a aprovação de requerimentos de convocação, quebras de sigilo e de informações. Entre os itens na pauta, está a realização de oitiva secreta com o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel – pedida por ele mesmo, ex-aliado de Bolsonaro afastado do Palácio das Laranjeiras por impeachment.

Há, também, expectativa pela aprovação da convocação do atual governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), e do secretário de Saúde do estado, Alexandre Chieppe. A ida da dupla é resultado de indícios de irregularidades na gestão da pandemia no Rio de Janeiro apontados por Witzel em depoimento ao colegiado ocorrido em 16 de junho.

Na ocasião, o ex-governador insinuou que há em curso no estado um esquema de corrupção entre o governo local e sete organizações para construção, instalação e gerência de hospitais de campanha.

Os senadores também devem aprovar a quebra de sigilo total de 12 empresas ligadas a Carlos Wizard – empresário investigado pela CPI por também integrar o “gabinete paralelo”.

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