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“Gabinete do ódio” está por trás da divisão da família Bolsonaro

Ação de grupo responsável por mídias digitais afasta irmãos Flávio e Carlos

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Bolsonaro de volta a Brasília
1 de 1 Bolsonaro de volta a Brasília - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O Palácio do Planalto abriga um núcleo de assessores que tem forte influência sobre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e é conhecido como “gabinete do ódio”. Defensores da pauta de costumes, eles produzem relatórios diários, com interpretações sobre fatos do Brasil e do mundo e são responsáveis pelas redes sociais da Presidência da República. Essa ala ideológica faz a cabeça de Bolsonaro e o incentiva a adotar um estilo beligerante no governo.

Com a senha das redes do pai, o vereador licenciado Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o filho “zero dois” do presidente, dá ordens para os assessores Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz. Os três são da confiança do vereador e também do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) — o filho “zero três”, que Bolsonaro quer emplacar na Embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos (EUA). O senador Flávio Bolsonaro (PSL- RJ), primogênito, tem horror ao trio.

Filipe Martins, o assessor para Assuntos Internacionais de Bolsonaro, também faz parte desse grupo. Tércio, José Matheus, Diniz e Filipe despacham no terceiro andar do Planalto, ao lado do presidente. Outro integrante do núcleo é Célio Faria Júnior, que Bolsonaro trouxe da Marinha e hoje é chefe da Assessoria Especial da Presidência.

Com carta-branca para entrar no Planalto, o assessor parlamentar Leonardo Rodrigues de Jesus, o Leo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro, virou uma espécie de “espião voluntário” do governo. Léo Índio já produziu dossiês informais de “infiltrados e comunistas” nas estruturas federais, como revelou o Estado. O então ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, comprou briga com Carlos e com ele. Foi demitido.

Quando Flávio saiu de férias e viajou para a Bahia, em meados de julho, auxiliares de Bolsonaro no Planalto ficaram preocupados. A portas fechadas, no segundo andar daquele prédio erguido com colunas “leves como penas pousando no chão”, como gostava de comparar o arquiteto Oscar Niemeyer, um assessor chegou a dizer que, sem Flávio em Brasília, o “gabinete do ódio” ficaria incontrolável.

O comentário reflete a tensão que tomou conta do Planalto. Nos bastidores, essa “repartição” é vista como responsável pelo afastamento cada vez maior entre Flávio e Carlos, também apelidado de “Carluxo”. Considerado o “pit bull” da família, Carlos cria estratégias para as mídias digitais do pai e sempre defendeu a tática do confronto para administrar, em oposição a Flávio, dono de estilo conciliador.

Na prática, mesmo quando não está em Brasília, o vereador comanda o núcleo ideológico, emite opiniões polêmicas, chama a imprensa de “lixo” e lança provocações contra aliados do pai, como o vice-presidente Hamilton Mourão, tido por essa ala como “traidor”.

Gabinete não aceita interferência da Secom
A equipe do “gabinete do ódio” não aceita interferências dos profissionais da Secretaria de Comunicação (Secom). Segue ordens de Carlos, que atua sob a inspiração do escritor Olavo de Carvalho, e várias vezes já convenceu Bolsonaro a adotar posição mais dura, como no fim de julho, quando ele desistiu de receber o chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, e depois apareceu em live cortando o cabelo, em um estilo “gente como a gente”.

Flávio, vira e mexe, pede para o pai baixar o tom. Às vezes é ouvido, fato que provoca a ira do “zero dois”. Mesmo investigado no caso de Fabrício Queiroz – o ex-assessor suspeito de comandar um esquema de “rachadinha” para pagar salários de servidores na Assembleia do Rio –, o senador tem atuado como articulador político do Planalto, ao lado do general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo.

Em jantares com senadores, Flávio leva o irmão Eduardo a tiracolo, diz que o conhecimento do caçula sobre os EUA vai muito além do hambúrguer e tenta apaziguar atritos provocados por Carlos nas redes sociais.

“Esse núcleo ideológico atrapalha muito nossa vida aqui no Congresso”, disse o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP). “Desse jeito, o PSL vai acabar sofrendo uma derrota atrás da outra.”

Nos últimos dias, um tuíte de Carlos azedou o clima na Câmara, no Senado e no Supremo Tribunal Federal (STF). O vereador escreveu que “por vias democráticas, a transformação que o Brasil quer não acontecerá no ritmo que almejamos”. Bolsonaro apoiou o filho. Flávio ficou em silêncio. O primogênito disse a um amigo que, se fizesse algum comentário, exporia uma crise.

Além do senador, a primeira-dama Michelle Bolsonaro também consegue fazer o marido amenizar os tuítes, de vez em quando. Foi ela, por exemplo, quem pediu para o presidente apagar comentário feito por ele em um post de internauta dizendo que a mulher do presidente da França, Emmanuel Macron, era feia. Michelle considerou a mensagem machista e deselegante.

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