Fundação Palmares exclui Marina Silva da lista de personalidades negras
“Ela não tem contribuição para a população negra do Brasil. Disputar eleições não é mérito”, diz Sergio Camargo, presidente da instituição
atualizado
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O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sergio Camargo, anunciou, nesta terça-feira (13/10), a exclusão da ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) da lista de personalidades negras da instituição.
O aviso foi feito pelo Twitter. Veja:
Marina Silva foi excluída da lista de personalidades negras da Fundação Cultural Palmares. Marina não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil. Disputar eleições não é mérito. O ambientalismo dela vem sendo questionado e não é o foco das ações da instituição. pic.twitter.com/HptlwHrX4L
— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) October 13, 2020
A ex-ministra não é a primeira a ter seu nome retirado da lista por determinação de Camargo. Ele já havia retirado o nome da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ).
Camargo disse ainda que “Marina Silva autodeclara-se negra por conveniência política” e citou outros políticos que, segundo ele, faz o mesmo. “Jean Willys, Talíria Petrone, David Miranda (branco) e Preta Gil também são pretos por conveniência. Posar de ‘vítima’ e de ‘oprimido’ rende dividendos eleitorais e, em alguns casos, financeiros”, ressaltou.
Desde que foi indicado ao cargo, Camargo se notabilizou por negar reiteradamente a existência de racismo estrutural no Brasil. Ele já defendeu a extinção do movimento negro e já afirmou que a escravidão foi “benéfica para os descendentes” de escravos no país.
Ativista ambiental
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) saiu em defesa da correligionária. “Marina Silva é reconhecida mundialmente na sua luta em defesa do meio ambiente e dos povos da floresta, sua vida é exemplo a ser seguido, a violência dos boçais do poder não é maior que a força da sua história”, afirmou.
Ativista da causa ambiental, Marina Silva foi vereadora por Rio Branco no Acre (1989-1991), deputada estadual (1991-1995), senadora (1995-2011) e ministra do Meio Ambiente, entre 2003 e 2008. Ela foi candidata à Presidência da República nas últimas três eleições – 2010, 2014 e 2018.
Arroubos autoritários
Citados como autodeclarados negros por “conveniência política”, a deputada federal Talíria Petrone (PSol-RJ) e o ex-deputado Jean Wyllys se manifestaram. “As decisões administrativas de um desqualificado não mudam a maneira como me identifico, tampouco a etnia de meus antepassados por parte da família de meu pai, fator sobre o qual ele não tem nenhuma autoridade para se manifestar. Eu sigo sendo o que sou”, afirmou Wyllys.
Já a parlamentar lamentou a postura de Camargo por “em vez de usar o cargo para desenvolver ações de preservação da memória e da cultura da população negra brasileira, perca seu tempo em atacar, pelas redes sociais, quem diverge de sua política”.
“A postura de Sérgio Camargo – baseada em arroubos autoritários típicos do bolsonarismo – definitivamente não condiz com o cargo que ocupa. Não é este homem, com esta postura que reproduz o racismo e envergonha nossa história de resistência, que irá questionar minha realidade enquanto mulher negra. Está mais do que na hora de devolver a Fundação Cultural Palmares ao povo, ao qual ela deveria servir”, disse Talíria Petrone.