Funaro afirma à PF que Temer orientou distribuição de verba desviada
Operador financeiro negocia acordo de delação premiada e complica ainda mais a situação do presidente da República
atualizado
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A pressão sobre o presidente Michel Temer (PMDB) aumentou nesta terça-feira (20/6), quando foi divulgada a informação de que o operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro se encontrou ao menos três vezes com o peemedebista. Segundo reportagem publicada no site da revista Veja, Funaro contou, em depoimento prestado à Polícia Federal no último dia 14, que mantinha um relacionamento próximo com o presidente e confirmou ser o responsável pela arrecadação de recursos para campanhas do PMDB.
O primeiro encontro teria ocorrido na Base Aérea de São Paulo. Embora Funaro não precise a data, ele conta que o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) estava no local. Hoje, tanto Funaro quanto Cunha estão presos em decorrência da Operação Lava Jato.Embora Michel Temer tenha negado ter se encontrado com o operador financeiro, Funaro, que negocia um acordo de delação premiada com a Justiça, detalhou as vezes em que se reuniu com o presidente. Preso no Complexo Penitenciário da Papuda, Funaro disse ainda, segundo o site de O Globo, que Temer orientou a distribuição de R$ 20 milhões desviados dos cofres públicos para campanhas eleitorais.
De acordo com o operador financeiro, a segunda ocasião em que ele esteve com Temer foi em 2012, durante as eleições municipais. A reunião ocorreu em Uberaba (MG) e teve a participação de Eduardo Cunha e do executivo Ricardo Saud, do grupo JBS. Saud é um dos delatores da Operação Lava Jato.
O último encontro, contou Funaro à PF, foi uma reunião de apoio à candidatura de Gabriel Chalita (PMDB) para a prefeitura de São Paulo, também em 2012. O evento ocorreu na Assembleia de Deus do bairro Bom Retiro, com a presença dos bispos Manoel Ferreira e Samuel Ferreira.
Eleições
Ainda de acordo com a reportagem de Veja, Funaro confirmou à Polícia Federal ter arrecadado recursos para as campanhas do PMDB em 2010, 2012 e 2014. O operador calcula que, nesse período, conseguiu R$ 100 milhões para o PMDB e partidos aliados. Parte dos recursos foram arrecadados em operações do FI-FGTS: segundo Funaro, a aplicação dos recursos seguia a orientação de Temer.
Na oitiva com a PF, Funaro contou que apresentou o empresário Joesley Batista, dono da JBS ao ex-ministro do governo Temer e ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Na época, Geddel era vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal (CEF).
Funaro ainda acusou Geddel de ter recebido comissões referentes a operações financeiras que beneficiavam a JBS na Caixa. O operador financeiro disse que também repassou recursos ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco. Os pagamentos, contou, eram feitos em espécie. Funaro se comprometeu a dar os detalhes à Polícia Federal.
Propina na Odebrecht
No mesmo depoimento, Lúcio Funaro disse que Michel Temer e Eduardo Cunha participaram do acerto de propinas sobre ao menos um contrato da Petrobras com a Odebrecht.
Um dos delatores da Odebrecht, Márcio Faria, afirmou à Procuradoria-Geral da República que Temer presenciou, em 2010, quando candidato a vice-presidente da República, uma reunião na qual se acertou pagamento de propina de US$ 40 milhões ao PMDB.
O valor era referente a 5% de um contrato da empreiteira com a Petrobras. Segundo Funaro, a confirmação de que o presidente participou do encontro foi repassada por Eduardo Cunha.
O contrato PAC SMS, no valor de US$ 825 milhões, era referente à manutenção de ativos sucateados da estatal em nove países do mundo, entre eles a Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).
Antes de a carta-convite da licitação ser apresentada à Odebrecht, segundo o delator, um ex-gerente da Diretoria Internacional da estatal (comandada pelo PMDB), Aluísio Telles, procurou a empreiteira para negociar 3% de suborno sobre o valor a ser pago.
Sem abertura de inquérito
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao analisar o caso, não pediu a abertura de inquérito contra Temer sob o argumento de que a Constituição diz que o presidente da República, no exercício de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos às suas funções. Tem, portanto, uma imunidade temporária. Os demais envolvidos, no entanto, serão alvos de investigação.
Faria disse que a propina ao PMDB foi paga em espécie, no Brasil, e em conta no exterior. Acrescentou que, durante as negociações, o partido concordou em reduzir para 4% sua cota, permitindo que o PT ficasse com 1%. Os recursos ficaram como crédito para uso dos então senadores Delcídio Amaral (MS) e Humberto Costa (PE).
O presidente Michel Temer afirmou, por meio de nota divulgada à época em que se revelaram as delações da Odebrecht, que “jamais tratou de valores” com Márcio Faria. (Com informações de Veja, Agência Estado e O Globo)