Frota sobre transa: “Achava que não fazia o tipo de Bolsonaro”
Hoje crítico do presidente, o deputado disse que não entendeu o significado da frase, e foi pego de surpresa com a declaração
atualizado
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O deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) ironizou a frase dita pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), em um vídeo publicado nas redes sociais do parlamentar. O mandatário do Planalto mandou Frota “fechar a matraca” porque queria “continuar transando” com ele. Ao Metrópoles, o deputado afirmou que achava que “não fazia o tipo” de Bolsonaro e ressaltou não ter entendido o teor da declaração.
Confira o vídeo:
Fecha essa Matraca puta que pariu, eu quero continuar transando com vc, disse Bolsonaro. Estou postando porque a Bia Kicis disse que não estava no dia e que não tinha visto. Podem conferir ela, entre eu e ele, ainda prestando atenção na conversa e com um leve sorriso. Está de óculos. pic.twitter.com/cVbIl0sl6j
— Alexandre Frota (@alefrota77) November 1, 2019
“[A frase] é uma coisa que até hoje a gente não entendeu. ‘Eu quero continuar transando com você’. Primeiro eu achava que não fazia o tipo do presidente. Depois tem aquela tese de que ele é homofóbico etc. Eu fiquei muito surpreso com isso”, justificou. E completou – com ironia: “Eu realmente já ouvi de tudo na vida, mas essa me pegou de surpresa. Eu sou apaixonado pela minha mulher, pela minha família, pelos meus filhos. Isso é uma coisa inconcebível”.
Frota explicou que publicou o vídeo para comprovar que estava falando a verdade na CPMI das Fakes News nesta semana, quando teve o depoimento invalidado pela ex-colega de partido, Bia Kicis (PSL-DF). Segundo o tucano, Bia negou que estava presente quando o presidente da República o teria repreendido por ter pedido a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz em plenário. “Mas dá para reconhecê-la nas imagens”, justificou.
Para o deputado, Bolsonaro ficou “chateado” porque ele incentivou a prisão de Queiroz: “Bolsonaro sofre de uma coisa chamada ‘filhotismo’. Mexeu com o filho dele, é capaz de mexer na Coaf, na Polícia Federal, na Receita Federal. De fazer acordos com pessoas que a gente nunca imaginaria. Usa e abusa do poder, coisa que criticava antes. Eu atribuo à fala dele a vontade real de esconder algo, de não deixar que a Justiça e a equipe de investigação cheguem ao filho dele, por exemplo”.
Frota rebateu ainda o ataque que recebeu de um dos filhos do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ainda na CPMI das Fake News. O “filho 03” disse que o ex-correligionário está mais promíscuo hoje do que quando era ator pornô.
“Eduardo me ataca, me chama de ator pornô, mas o pai fala que quer continuar transando comigo. Ele já deu uma declaração uma vez que não tinha problema nenhum fazer pornô, e não tem mesmo. Não sei por que veio com esse ataque retrógrado de um garoto de 15 anos de idade, que ainda não tirou a fralda”, rebateu Frota.
Bolsonarismo
Após ter publicado as imagens e manter as constantes críticas ao governo, Frota tem sofrido ameaças nas redes sociais. No entanto, afirmou que não vai parar de falar o que pensa da nova gestão do Executivo. “Eu estou cagando e andando para os bolsonaristas. Não tenho medo deles. Eles não me afetam em nada, muito pelo contrário, eu gosto do embate com eles. Eles não são conservadores, são conversadores. Quando eu encontro com eles parecem o ‘Salsicha’ do Scooby Doo.”
Frota deixou o PSL e migrou para o PSDB após discordar da gestão Bolsonaro. O posicionamento contrário às medidas adotadas pelo governo continuam, apesar de o deputado reconhecer que fez campanha para o presidente e votou nele nas eleições passadas. Porém, garante que, “se soubesse que votar no Bolsonaro estaria votando no Olavo de Carvalho”, não teria mantido o voto. Para o tucano, “o que segura Bolsonaro no poder ainda é a economia”.
“Esse governo não tem postura e vai entrar neste caminho [da direita radical] sem volta. O povo brasileiro esperava um equilíbrio, que a fila de desempregados diminuísse. Mas ainda não aconteceu. Se a economia não andar, Bolsonaro terá um grande problema. O que segura ele [na Presidência] é a economia, que está engatinhando”, avaliou.
Caroneiro
Questionado sobre o rompimento com Bolsonaro, Frota assumiu ao Metrópoles que “surfou na onda” e trabalhou com a imagem dele durante as eleições, porque era o seu candidato. “Era nele em quem eu acreditava, mas não acredito mais. É melhor ser caroneiro do que fura fila”, disse Frota, em uma clara crítica à antiga possível nomeação de Eduardo à Embaixada dos Estados Unidos. “Embaixador da Disney”, cutucou.
O deputado mostrou ainda mágoa ao falar sobre a campanha eleitoral do presidente. Segundo ele, a divulgação do vídeo ocorreu “porque o momento pedia”. “Mas ainda tenho outras coisas guardadas”, contou à reportagem. Frota explicou que a relação entre os dois começou em 2013, quando começou a trabalhar pela candidatura de Bolsonaro ao Planalto. “Trabalhei intensamente, apesar de ele não reconhecer e não dizer um obrigado”, retrucou.
Filhotismo
As críticas a Bolsonaro incluem os filhos dele. Para o deputado, Eduardo, o senador Flávio (PSL-RJ) e o vereador Carlos (PSC-RJ) “só atrapalham o governo”. Isso porque Bolsonaro “não sabe ser presidente e pai ao mesmo tempo”. “A cadeira ficou grande para Bolsonaro e ele perdeu a rédea dos filhos. Eles interferem, indicam cargos, humilham ministros, pedem saída dos ministros, como foi com Gustavo Bebianno e Santos Cruz, apoiaram o desastre chamado Ernesto Araújo [ministro das Relações Exteriores] e apoiaram Ricardo Vellez [ex-ministro da Educação]”.
Por isso, segundo o deputado, Bolsonaro “é uma usina de problemas” e o Congresso “não vai engoli-lo”.
“Devolveu a verba da Noruega que era destinada à Amazônia, rompeu com a Alemanha. Não quer ir à posse do novo presidente da Argentina. Tem cabimento? Ele tem se mostrado um cara que não é diplomático. Colocar à força o filho dele, passar por cima de diplomatas. Eles tinham um plano e colocaram em prática. Mas graças a Deus estamos lá e esse Congresso não vai engolir o Bolsonaro”, finalizou.