Fome de poder: PT quer Presidência e maiores bancadas no Congresso
Apesar dos escândalos desde 2003, partido aumentou número de filiados, mantém militância ativa e tem 24% da preferência da população
atualizado
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Ganhar a Presidência da República e fazer uma bancada com pelo menos 70 deputados federais e 10 senadores. A meta foi traçada pelo Partido dos Trabalhadores e é considerada possível pelos seus principais dirigentes. O partido pretende usar a “injustiça” da prisão de seu principal líder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tanto para motivar a militância quanto para impulsionar o voto em seus representantes para o Congresso Nacional.
Estamos trabalhando para crescer e assegurar o que já temos
Ricardo Berzoini, um dos coordenadores da campanha petista à Presidência da República
O PT chega às urnas em 2018 com 2,2 milhões de filiados, número bem maior do que em 2002, quando tinha pouco mais de 400 mil integrantes registrados na Justiça Eleitoral. A legenda é ainda a que tem mais deputados federais. A bancada petista na Câmara conta hoje com 61 parlamentares. No Senado, são nove senadores.
Segundo líderes do partido, a sigla conta com importantes trunfos, capazes de manter a fome de poder da legenda apesar de sucessivos escândalos, desde o primeiro ano do governo Lula. Os principais são: o peso histórico e político; os 2 minutos e 23 segundos que o PT terá em cada bloco do horário eleitoral; as 188 inserções na TV; a força da militância; a capilaridade conseguida nas redes sociais; e sua relação com movimentos populares.
Popularidade
Mesmo com seu principal líder preso, após ser condenado em segunda instância pela investigação da Lava Jato e impedido pela Lei da Ficha Limpa de seguir na disputa pelo Palácio do Planalto, o PT experimenta também o maior índice de aprovação da população.
Pesquisa recente do Datafolha aponta que o partido é querido por 24% dos brasileiros, percentual atingido após o início da campanha. Trata-se do melhor índice de desempenho do PT desde maio de 2014, quando obteve 23% da simpatia do eleitor.
O segundo lugar na preferência dos ouvidos no levantamento é dividido entre PSDB e MDB. As duas legendas atingiram, na pesquisa, 4% de aprovação – uma distância considerável do índice obtido pelo primeiro colocado. Partidos como PDT, PSB e PSol tiveram 1% dos votos. As demais siglas somadas alcançaram 4%.
Este modelo de pesquisa é realizado pelo Datafolha desde 1989. O PT é o partido preferido dos brasileiros desde fevereiro de 1999. Teve seu melhor desempenho em abril de 2012, no primeiro mandato de Dilma Rousseff, quando foi mencionado por 31% dos entrevistados.
Militância
A militância é o grande trunfo do PT para estas eleições. Um dos dirigentes do partido chegou a observar que, em fases boas, ela fica mais “frouxa”. No entanto, em momentos como o atual, quando Lula está preso e a sigla tenta reverter o impeachment que tirou Dilma Rousseff da Presidência, essas pessoas estão envolvidas e motivadas. “A militância está muito estimulada, indignada com a injustiça”, observou Teixeira.
A militância é um fator que acaba tendo maior efeito principalmente diante do menor volume de recursos investidos pelos partidos. A proibição de doações de empresas para as campanhas tirou bastante dinheiro da disputa, que é travada em patamares mais modestos, se comparada às últimas eleições.
“Para deputados federais, não estamos ainda com campanhas nas ruas. Nem nossa e nem de outros partidos. O que percebemos é que todos estão deixando o material gráfico para ser distribuído na reta final, ou seja, nas duas semanas que antecedem o primeiro turno”, observou Berzoini.
Diante disso, os petistas acreditam na vantagem de se ter um grande fator motivador do voto nestas eleições: o clamor popular em torno da libertação de Lula, mote que todos os candidatos às eleições proporcionais estão levando para a campanha. “A vida piorou muito nos últimos anos e a volta do PT ao poder significa retomar aquele ciclo de desenvolvimento e prosperidade que o país experimentou com Lula”, considerou Teixeira.
Apostas
Na estratégia do PT de ganhar terreno no Congresso, uma das principais bancadas a se recuperar é a de São Paulo, que diminuiu bastante em 2014. Os paulistas na Câmara caíram de 16 para 10 deputados federais, impacto das denúncias do Mensalão e da Lava Jato. A meta é começar a recuperar esse território, voltando, pelo menos, ao patamar de 16 deputados.
Para isso, pelo menos três nomes fortes do PT lançaram-se pela primeira vez na disputa. O ex-presidente nacional da legenda Rui Falcão, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha e o ex-ministro da Previdência Carlos Gabas, que ficou conhecido por dar voltinhas de moto secretas por Brasília, levando Dilma Rousseff, então presidente da República, na garupa.
No Paraná, a aposta do PT é que os deputados Zeca Dirceu e Enio Verri consigam se reeleger. Também acreditam na candidatura da atual presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, a uma vaga na Câmara. Gleisi saiu da disputa por sua reeleição no Senado Federal, e o partido optou por apoiar o senador emedebista Roberto Requião, com chances reais de se reeleger. Embora seja do MDB, ele tem sido uma das principais vozes fora do PT críticas à Lava Jato e em favor de Lula.
Em estados onde o PT não elegeu deputados federais em 2014, a intenção é também ganhar terreno. É o caso de Rio Grande do Norte e Pernambuco. O partido pretende eleger pelo menos um deputado no RN e dois ou três em PE.
Dinheiro extra
A aposta em Pernambuco é na candidatura da Marília Arraes. Irmã de Eduardo Campos – candidato do PSB à Presidência da República em 2014 e que morreu em plena campanha, em acidente de avião ocorrido no litoral de São Paulo –, Marília Arraes esteve no centro da negociação do acordo entre PT e PSB para as eleições deste ano.
Ela já havia anunciado que disputaria o governo de Pernambuco, contra o atual governador, Paulo Câmara (PSB), o qual tenta a reeleição. No entanto, a direção nacional do PT costurou um acordo envolvendo as chapas aos governos de Pernambuco e Minas Gerais. Pelo trato, o PSB rifou a candidatura de Márcio Lacerda à governadoria mineira, e o PT retirou o suporte a Marília Arraes para dar apoio a Câmara.
Marília não obteve aprovação dentro do partido para prosseguir na disputa pelo governo estadual, mas conseguiu, como recompensa, que os dirigentes petistas aprovassem um um reforço extra de recursos do fundo partidário para sua campanha à Câmara dos Deputados.
Ex-BBB
O PT também investe na candidatura do ex-participante do programa global Big Brother Brasil Ilmar, que ficou conhecido como “Mamão” durante a atração. Ilmar Mamão é candidato a deputado federal por Mato Grosso do Sul.
Eliminado do programa na 11ª semana, ele se notabilizou por expor suas posições políticas gritando “fora, Temer” e “volta, Dilma”. Ao sair, chegou a dizer ter recebido mais votos que o senador tucano Aécio Neves em Minas Gerais. Conforme admitiu, a decisão de participar do BBB era alavancar seu nome na política.
Senado
O partido pretende aumentar numericamente sua bancada no Senado, hoje com nove representantes. Mesmo não acreditando que terão hegemonia na Casa, os petistas acreditam haver um campo mais fértil no Senado para alianças políticas.
“Ninguém terá hegemonia no Senado”, observou um dos dirigentes reservadamente. “Haverá no Senado uma equivalência de forças políticas, com bancadas numericamente parecidas, do PT, PSDB e PMDB”, destacou.
A grande aposta para o Senado Federal é a ex-presidente Dilma Rousseff, candidata por Minas Gerais. Dilma é apontada como favorita pelas pesquisas já realizadas
Já em Santa Catarina, o PT investe na candidatura ao Senado de outro estreante na política: o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina Lédio Rosa de Andrade, recém-filiado ao partido.
Ele obteve bastante destaque no estado após a morte do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Luis Carlos Cancellier de Olivo, que se suicidou depois de ser preso pela Polícia Federal durante a Operação Ouvidos Moucos. A apuração investigava suspeitas de desvio de recursos dos cursos de educação a distância. Amigo de infância de Cancellier, o desembargador Lédio Rosa saiu em defesa do ex-reitor.
Em Santa Catarina, o PT tem chances reais de levar o governo local pela primeira vez, com a candidatura de Décio Lima. O partido também aposta que conseguirá eleger a ex-senadora Ideli Salvatti para a segunda vaga no Senado.
Em São Paulo, o PT apoia a candidatura de Eduardo Suplicy; no Rio Grande do Sul, endossa a reeleição do senador Paulo Paim. No Rio de Janeiro, acredita em Lindbergh Farias; em Pernambuco, crê na recondução de Humberto Costa. E, no Pará, investe na eleição de José Geraldo ao Senado.