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Fernando Haddad se surpreendeu com documentos militares

Petista comentou arquivos da ditadura sobre sua militância no movimento estudantil. “Essa fase da minha vida estruturou o resto”, diz

atualizado

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1 de 1 haddad - Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-ministro da Educação Fernando Haddad mostrou-se surpreso com a existência de arquivos militares sobre sua militância no movimento estudantil na década de 1980. “Não imaginava que fôssemos acompanhados desta forma por eles”, afirmou o petista em entrevista telefônica, referindo-se aos agentes secretos da ditadura.

Documentos inéditos publicados neste domingo (19/08) pelo Metrópoles revelam a ação dos espiões militares sobre as atividades políticas na Universidade de São Paulo e na juventude do PT. Presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito, Haddad foi identificado pelos militares quando participava de atos públicos em favor da Assembleia Nacional Constituinte e de discussões internas do partido.

Quase três décadas e meia depois dos fatos relatados pelos militares, o petista recorda-se bem daquele período. “Eu acabara de entrar para o PT e era crítico às tendências que se organizavam no movimento estudantil. Nunca me filiei a nenhuma delas”, diz o ex-ministro.

Haddad questionava o pensamento “compartimentado” das correntes políticas que disputavam espaço na política universitária. Algumas eram remanescentes da luta contra a ditadura e tinham como referências externas líderes como os soviéticos Leon Trotsky e Joseph Stalin. “Minha crítica era dentro de uma concepção libertária de sociedade. O que eu via nessas organizações não era o caminho da emancipação, era o caminho da servidão”, acrescenta o petista.

Segundo a própria definição, desde 1983 ele se alinhava com novas formas de organização, mais “fluidas” do que as correntes tradicionais do movimento estudantil.

Neste contexto, aos 21 anos, o estudante que trabalhava na loja de tecidos do pai tornou-se presidente de um dos centros acadêmicos mais prestigiados do país. Encabeçava a chapa “The Pravda”, nome que juntou os títulos dos jornais “Pravda”, soviético, e “The New York Times”, americano. “Vi surgir neste grupo uma faísca de pensamento crítico. A ideia era buscar uma sociedade que negasse a bipolaridade”, explica.

O ambiente universitário e as discussões políticas desta época, em grande parte, formataram o futuro de Haddad. “Essa fase de minha vida, sem dúvida, estruturou o resto”, afirma o ex-ministro. Ele, então, aproximou-se da linha teórica da Escola de Frankfurt.

O estudante partiu das ações libertárias da turma do “The Pravda” e do aprofundamento na Teoria Crítica alemã para traçar seus estudos no mestrado, em economia, no doutorado, em filosofia.

Terminados os estudos na USP, Haddad afastou-se das atividades partidárias, morou no exterior e só voltou à militância política no início da década de 2000. Ficou uns 15 anos recolhido aos próprios assuntos. “Este período de reclusão era uma necessidade espiritual. Coincidiu que o PT não governava São Paulo, nem o estado nem o país. Então, pude tirar este tempo”, diz.

Finanças
Quando começou a colaborar com o movimento estudantil no centro acadêmico, a primeira tarefa do filho de comerciante foi organizar as finanças da gestão. Desde 1981, ele ajudava o pai na Mercantil Paulista, loja da família na rua 25 de março. Foi atraído para o CA pelo presidente que o antecedeu, Eugênio Bucci. “O CA era uma zona, mas como eu estava acostumado no comércio, aquilo era quase uma brincadeira de criança para mim”, lembra Haddad.

Eleito para o XI de Agosto em outubro de 1984, seis meses depois da derrota da emenda constitucional das diretas já, ele assumiu o debate público pela convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva. Atos públicos de até 800 pessoas, segundos os registros militares, foram realizados no Largo de São Francisco, sede da Faculdade de Direito da USP.

“Acredito que aquela mobilização tenha contribuído para garantir um traço mais progressista dos constituintes”, avalia o ex-ministro da Educação que foi, também, prefeito de São Paulo (2013-2016).

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