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Família e ministros resistem a Mourão e governo espera por Bolsonaro

Assessores avaliam que clima de indefinição é reforçado pela falta de canal direto do presidente com os grupos político e militar

atualizado

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Romério Cunha/VPR
Mourão
1 de 1 Mourão - Foto: Romério Cunha/VPR

O Planalto vive um momento de impasse. As previsões iniciais de que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) estivesse em condições plenas para o exercício da Presidência 48 horas após a cirurgia de reconstituição do intestino, ocorrida no dia 28 de janeiro, não se confirmaram. O vice-presidente Hamilton Mourão, que chegou a assumir o comando do governo durante a operação cirúrgica de Bolsonaro, está isolado em seu gabinete – só às terças-feiras ele coordena reuniões de balanço com ministros.

Há uma resistência, especialmente dos filhos de Bolsonaro, para que ele, ainda internado no Hospital Albert Einstein, permita que Mourão assuma temporariamente o governo. No Palácio, os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, se posicionam também contrários a uma interinidade do vice.

Um ministro disse que “realmente” o presidente está sendo “poupado” de boa parte das atividades de governo, mas se queixa de “especulações” de que o presidente estaria “desligado” da função. Esse ministro reclamou que setores da imprensa e da política tentam fazer “intriga” entre Bolsonaro e Mourão quando questionam o motivo de o vice não assumir temporariamente o governo.

O clima de indefinição no Planalto é alimentado pela falta de um canal direto permanente tanto do grupo político quanto do dos militares com Bolsonaro, avaliam assessores do governo. Fora a equipe médica e de enfermeiros, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e o filho do presidente e vereador, Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), são os únicos que ficam boa parte do dia e da noite no leito do hospital. A família conta com apoio de um ajudante de ordens, que permanece à disposição do presidente numa sala ao lado, e de toda a estrutura de segurança.

No dia 31, quando reassumiu oficialmente a Presidência, Bolsonaro chegou a ter um encontro no hospital com seu assessor de Assuntos Jurídicos, Jorge Antonio de Oliveira Francisco. No dia seguinte, 1º de fevereiro, ele teve videoconferência com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno Ribeiro, seu conselheiro e assessor mais próximo. “O governo não está parado. A presença do líder é importante, mas coisas estão andando”, disse um outro auxiliar direto de Bolsonaro à reportagem.

O auxiliar afirmou que o presidente falou por telefone recentemente com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e quer falar também com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Um interlocutor de Bolsonaro no Congresso relatou, porém, que a equipe médica orientou o presidente a não utilizar celular. Na manhã desta sexta, os seguidores do presidente no Twitter receberam uma foto em que ele aparece sorrindo. “Nas últimas horas tive o prazer de voltar a comer. Ontem pela noite um caldo de carne e hoje uma boa gelatina”, destacou o texto. “Estou feliz apesar de não ser aquele pão com leite condensado kkkk.”

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse ao Estado que tinha viagem marcada para São Paulo, mas o encontro com Bolsonaro foi suspenso. Há oito dias, a equipe de auxiliares do Planalto se desdobra para informar que o governo está sendo tocado pelos ministros, e que Bolsonaro está lúcido, com plena consciência para tomar decisões, que utiliza o celular para receber e dar notícias e conversar com seus ministros. A própria conta do presidente no Twitter tem informado que ele acompanha as questões de governo. A sala reservada pelo Hospital Albert Einstein para despachos do presidente com seus assessores, no entanto, não está sendo utilizada pelo presidente.

Na semana passada, Bolsonaro foi informado de disputas entre ministros e grupos aliados do Planalto por cargos. Ele ouviu de ministros próximos que o apetite por funções em órgãos federais nos estados era capitaneado pelo grupo de Onyx Lorenzoni. O presidente determinou que fossem suspensas todas as nomeações. Por decisão dele, os novos ocupantes das funções deveriam passar por um pente-fino da equipe dos ministros da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz, e pelo ministro Augusto Heleno Ribeiro.

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