Facada travou busca de Jair Bolsonaro por votos no Nordeste
Antes de sofrer atentado, presidenciável tinha agenda marcada na região para tentar reverter rejeição acima de 50% apontada nas pesquisas
atualizado
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Na semana seguinte ao ataque sofrido em Juiz de Fora (MG), Jair Bolsonaro (PSL) pretendia visitar o Nordeste brasileiro. Entre 11 e 13 de setembro, Recife (PE), Maceió (AL) e Salvador (BA) eram as cidades programadas na agenda do presidenciável. O atentado com faca impediu o militar da reserva de fazer campanha corpo a corpo justamente na região onde não consegue decolar nas pesquisas.
Restam então duas semanas para o candidato conquistar a confiança nessa parte do país, equivalente a 26,6% do eleitorado e responsável por 39,2 milhões dos 147,3 milhões de votos dos brasileiros. Os levantamentos, até o momento, apontam para uma dificuldade e um bloqueio para o ex-paraquedista do Exército Brasileiro conseguir saltar entre esses eleitores.
Na pesquisa Datafolha mais recente, divulgada nessa quinta-feira (20/9), Bolsonaro atinge na região 17% de intenção de votos estimulados – aqueles nos quais o consultado responde após ver uma lista com o nome dos candidatos. É o menor índice do presidenciável do PSL nas cinco regiões do país, perdendo para Fernando Haddad (PT), com 20%, e Ciro Gomes (PDT), 18%. No Centro-Oeste, onde tem maior percentual, por exemplo, ele chega a 36%. Na consulta do Ibope, Jair Bolsonaro tem 16% no Nordeste, abaixo de Ciro (PDT), com 17%, e Haddad (PT), 31%.
Efeito Lula e problemas no segundo turno
Para Marcus Ianoni, professor adjunto do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ) o baixo desempenho de Bolsonaro no Nordeste tem a ver com dois fatores. Em primeiro lugar, a força de Haddad e Ciro Gomes na região. O segundo ponto, segundo ele, é a concentração de pobreza em território nordestino e o bom desempenho do petista com os eleitores de baixa renda e com os que não se declaram brancos.
“Haddad está crescendo no Nordeste por ser um representante do PT de Lula, que, quando governou, fez muito pela região e atraiu a preferência do eleitorado de lá, sobretudo a partir das eleições de 2006. Ciro foi governador do Ceará, tendo sido bem avaliado pelo que realizou”, analisa Marcus Ianoni. “O melhor desempenho de Haddad está no eleitorado de baixa renda e nos eleitores que se declaram não brancos. No Nordeste, a proporção de votantes com esse perfil supera a média nacional”, acrescenta.
Ianoni argumenta também que a impossibilidade de Bolsonaro fazer campanha corpo a corpo e falar diretamente com os eleitores atrapalha o desempenho. “A condição de, no momento, a região ser governada [em sua maioria] por políticos progressistas [de esquerda] dificulta o crescimento dele”, acrescenta o professor.
Pós-doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) e professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o cientista político Leonardo Avritzer destaca as dificuldades que Bolsonaro pode vir a ter no segundo turno. Ele reforça a forte penetração do petismo no Nordeste do país, especialmente em cidades de população pequena e difíceis de se fazer campanha, e a falta de estrutura do partido do militar, o PSL.
É muito difícil ganhar eleição no Brasil sem o Nordeste. Aécio Neves [presidenciável do PSDB em 2014] é a prova disso. Ele teve menos de 20% de votos em todos os estados de lá e não conseguiu ganhar. Bolsonaro vai depender dos votos em outras regiões com eleitorado grande, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Não está claro se ele vai atingir um percentual alto nesses estados. Tudo aponta que terá dificuldades no segundo turno
Leonardo Avritzer, cientista político
Rejeição nordestina
A rejeição do deputado federal no Nordeste é a maior entre as cinco regiões do país, segundo o Datafolha. Do total pesquisado, 51% dos entrevistados nordestinos dizem que não votariam nele de jeito nenhum. Nacionalmente, esse número é de 44%. No Sudeste e Centro-Oeste, por exemplo, essa margem é de 40%. A consulta do Ibope é semelhante: 56% não pretendem referendá-lo como presidente nas urnas em 7 de outubro.
Nos estados nos quais o presidenciável é mais desaprovado, Bolsonaro também perderia para todos os concorrentes no segundo turno, de acordo com os dados do Datafolha. Contra Fernando Haddad (PT), o resultado seria de 50% para o petista x 30% do pesselista; Ciro Gomes (PDT) marcaria 56% sobre 27% de Bolsonaro; Marina Silva (Rede) teria 50% x 29% dele; e Geraldo Alckmin (PSDB) levaria por 45% x 27%.
Palanque enfraquecido
Numa tentativa de emplacar a candidatura do militar da reserva país afora, o PSL lançou 13 candidatos a governador, cinco deles no Nordeste (Alagoas, Ceará, Maranhão, Piauí e Sergipe). No entanto, nenhum dos aspirantes lançados pela sigla estão entre os dois mais bem posicionados nas pesquisas.
Em Alagoas, Josan Leite (PSL) tem 5% na consulta do Ibope feita em setembro. Ele está atrás de Renan Filho (MDB), que seria reeleito com 65%, de acordo com a última pesquisa Ibope feita em setembro. No Ceará, Camilo Santana (PT) caminha para vencer no primeiro turno, com 64%, segundo o Ibope. Lá, Hélio Góis (PSL) tem 2% e pode alcançar o segundo colocado, General Theophilo (PSDB), que soma 4%.
“Estamos fazendo eventos em todas as cidades do interior de Alagoas. Carreatas, caminhadas, adesivagem. Estamos levando o nome dele [Bolsonaro]”, argumenta Josan Leite, que não sabe explicar a rejeição do presidenciável no estado.
No Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) é o favorito contra Roseana Sarney (MDB). Eles somam, respectivamente, 43% e 34%. Cenário difícil para Maura Jorge (PSL), oscilando entre 3% e 5%, e também extremamente complexo para Fábio Sérvio (PSL), no Piauí, onde ele é o quinto colocado nas pesquisas, com 2%, distante do líder Wellington Dias (PT), 47%.
Em Sergipe, João Tarantella (PSL) estagnou com 1% de intenção de voto. Ele terá duas semanas para tentar colar nos líderes, Valadares Filho (PSB) 23% e Eduardo Amorim (PSDB) 17%. Missão dura para Bolsonaro e seus aliados do Nordeste.
Conheça os candidatos do PSL no Nordeste: