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Facada em Bolsonaro atingiu em cheio a campanha de Alckmin

Na última semana, candidato do PSDB teve de mudar a estratégia de marketing duas vezes. Atentado dificulta planos de 2º turno para o tucano

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1 de 1 Michael Melo/Metrópoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Quando Adélio Bispo de Oliveira esfaqueou o deputado federal Jair Bolsonaro, no dia 6 de setembro, mal sabia ele que estava mudando os planos eleitorais não apenas do candidato à Presidência da República pelo PSL, alterava também os dos seus adversários. No dia do atentado ao presidenciável, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que a facada desferida contra o militar aposentado “atingiu em cheio o Estado democrático brasileiro”. Se considerarmos essa analogia, a parte tucana da democracia do país foi uma das mais atingidas pelo ataque.

Após o atentado a Bolsonaro, todos os candidatos ao Palácio do Planalto precisaram baixar o tom, em “respeito” ao adversário. Na verdade, para não ficarem mal diante da opinião publica, eles se mostraram solidários e mandaram votos de melhoras ao deputado do PSL. Com isso, Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), em briga direta por uma vaga no segundo turno, passaram a contabilizar o prejuízo da facada. No entanto, quem mais perdeu com o ato foi o tucano Geraldo Alckmin (PSDB).

Ataques
Pouco antes de o candidato do PSL ser atingido pela faca, Alckmin começava a crescer no gosto dos direitistas, seu antigo eleitorado. Pregando, desde o início da campanha, que o horário eleitoral seria imprescindível para seu crescimento nas intenções de voto, o tucano investiu tudo na propaganda e, tendo o maior tempo de TV entre os presidenciáveis, começava a ganhar frutos com a estratégia. Em seu primeiro programa, no dia 31 de agosto, ele criticou diretamente Bolsonaro ao dizer (veja abaixo) que “não é na bala que se resolve” as questões brasileiras.

A propaganda fez tanto efeito que o adversário de Alckmin foi ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) solicitar a retirada do material do ar, pedido negado pelo ministro Sérgio Silveira Banhos. Assim, o tom crítico e direto do ex-governador de São Paulo foi mantido até o programa do dia 6 de setembro – por falta de tempo hábil para a troca da gravação, quatro horas após o atentado, ainda foi transmitido um horário eleitoral do tucano que dizia “para o Bolsonaro, é normal uma mulher ganhar menos que um homem, mesmo os dois fazendo o mesmo trabalho”.

No entanto, conforme o Metrópoles apurou, após inúmeras reuniões, incluindo discussões quentes entre os coordenadores de campanha, o político do PSDB resolveu pedir ao TSE para retirar as inserções da propaganda política que criticavam o adversário. À época, Alckmin chegou à conclusão de que era “inadequado” seguir com a artilharia pesada diante da situação. O discurso de ataque foi, então, trocado pela cautela, esperando a evolução do quadro de saúde do candidato do PSL.

Tanto que no horário eleitoral seguinte, no dia 8, o presidenciável do PSDB entrou no ar nomeando o atentado de “ato vil e covarde”. “Não é na bala nem na faca que vamos ter um país melhor”, afirmou. No entanto, com a melhora do candidato do PSL, a equipe de Alckmin voltou para o confronto. Isso ocorreu quando, dois dias após ter sido esfaqueado, Bolsonaro divulgou uma fotografia em que simulava uma arma com as mãos, ainda internado em um leito de unidade de terapia intensiva (UTI) – era a hora de retomarem a “guerra”, acreditaram eles.

Nessa segunda-feira (10/9), as pesquisas mostraram crescimento de Jair Bolsonaro depois da facada. Foi então que Geraldo Alckmin afirmou: “os brasileiros já têm problema demais, não podemos ter um presidente que seja mais um problema”. E completou: “uma coisa é a solidariedade a quem foi vítima de um atentado, a outra são os destinos do país, é escolher quem vai ser presidente, unir o Brasil, fazer mudanças de que o Brasil precisa. O povo quer governo que funcione”.

Outra troca de estratégia
Todavia, mal deu tempo de Alckmin esquentar o discurso de enfrentamento. Na noite dessa quarta-feira (12), Bolsonaro voltou à sala de cirurgia e precisou ser operado com urgência, para a equipe médica “solucionar aderência nas paredes intestinais do paciente”. Era o sinal de que o candidato do PSL não estava tão bem assim de saúde e não iria voltar às ruas antes da votação do primeiro turno. Ascendeu novamente a luz vermelha no ninho tucano e, para não ser considerado “insensível”, Geraldo Alckmin mais uma vez parou de atacar o adversário.

O ex-governador de São Paulo até deixou de fora a proposta de liberação do porte de armas no campo, no capítulo sobre segurança pública em seu programa de governo, divulgado nessa quinta-feira (13/9). Vale lembrar: entre os candidatos com chances reais de chegarem a eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin é o único que disputa a mesma fatia do eleitorado do adversário. Pesquisas mostram como brasileiros que votaram em Alckmin, em eleições passadas, agora trocaram o tucano pelo discurso do militar reformado do Exército.

Não podendo atacar diretamente o deputado federal, ainda sem data para receber alta hospitalar, Geraldo Alckmin tenta então investir na mensagem de que precisa chegar ao segundo turno e, assim, “impedir que o PT volte ao poder”. No entanto, como não consegue emplacar, o Centrão (formado por PP, PRB, PR, Solidariedade e Democratas) já está pensando em deixar de apoiá-lo e começar a pedir votos para Ciro Gomes. Há dois meses, antes de se aliar com o candidato do PSDB, o bloco de partidos flertou com o pedetista.

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