Executivo da Engevix revela suposta conta de propinas a Dirceu e Lula
Juiz federal Sérgio Moro tirou, nesta sexta (1º/12), sigilo sobre depoimento de Gerson Almada, ex-vice-presidente da empreiteira
atualizado
Compartilhar notícia
O ex-vice-presidente da Engevix Gerson Almada afirmou à Polícia Federal saber de uma conta em Madri, na Espanha, administrada pelo lobista Milton Pascowitch, abastecida por propinas de contratos da Petrobrás, supostamente em benefício do ex-presidente Lula (PT) e do ex-ministro José Dirceu (PT). Ele ainda disse ter feito contratos dissimulados com o fim de pagar supostas vantagens indevidas a Dirceu. O depoimento, de junho, teve o sigilo levantado nesta sexta-feira (1º/12), pelo juiz federal Sérgio Moro.
Gerson Almada falou nos autos da denúncia do Ministério Público Federal sobre propinas de R$ 2,4 milhões das empreiteiras Engevix e UTC para o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil – Governo Lula). O petista teria recebido os valores durante e depois do julgamento do Mensalão – ação penal em que o petista foi condenado.
A acusação da força-tarefa da Lava Jato foi ajuizada em 2 de maio, mas Moro ainda não a recebeu. Gerson Almada pediu para falar antes de o magistrado decidir se coloca ou não os investigados no banco dos réus. Além do executivo e de Dirceu, são acusados Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão do ex-ministro; João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT; e Walmir Pinheiro Santana, ex-executivo da UTC.O executivo da Engevix compareceu à Polícia Federal espontaneamente no dia 4 de julho deste ano com o fim de colaborar com as investigações. O depoimento dele estava em sigilo até esta sexta-feira, 01, quando o juiz federal Sérgio Moro o retirou.
Almada confessou que firmou contratos dissimulados com a empresa de comunicação Entrelinhas com o fim de pagar propinas ao ex-ministro José Dirceu.
Ele afirma que “o objeto dos contratos, anexados aos autos, nunca foi prestado à Engevix” e que, mediante o fornecimento das notas fiscais pela Entrelinhas, a empreiteira pagou de 2011 a 2012, o valor de R$ 900 mil.
Almada ainda disse que mantinha uma conta corrente com o lobista Pascowitch desde 2005 para pagar propinas a agentes públicos, políticos e partidos, dentre os quais, especificamente, José Dirceu.
De acordo com o ex-vice-presidente da Engevix, o próprio lobista sugeriu que os pagamentos fossem feitos a Dirceu.
Gérson Almada fez questão de constar em seu depoimento que “é muito dificil uma empresa estrangeira ingressar no mercado de petróleo brasileiro como fornecedora e, por conta disso, buscaram pessoas com ligações políticas para facilitar o seu ingresso e que a decisão, na época, em adquirir o equipamento se deu para reforçar os laços com José Dirceu, objetivando o favorecimento da Engevix nos contratos com a Petrobras”.
Almada afirma que, no início de 2014, Milton Pascovitch teria dito que “iria viajar para Paris e dali, para não deixar rastro, viajaria de trem para Madri/Espanha para olhar a conta que ele administrava para pessoas do PT”.
De acordo com o executivo, ele entendeu que as pessoas seriam Lula e Dirceu porque o lobista mantinha contato intenso desde 2008 com o ex-ministro.
Em relação a Lula, “entendeu naquele sentido porque, quando da assinatura do contrato entre a Ecovix – Engevix Construções Oceânicas S. A. e a PNBV Petrobras Netherland B.V., Milton Pascowitch justificou comissão pedida no sentido de que parte seria destinada para a aposentadoria do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva”.
Segundo o executivo, “a Ecovix firmou contrato com a PNBV no ano de 2009 ou 2010 para o fornecimento de 8 cascos replicantes para FPSO – Floating Production Storage and Offloading no valor de R$ 3,5 bilhões de dólares, cujo valor de comissão em favor de Milton Pascowitch seria de 0,5%; que o declarante não detém elementos de informação e provas de que parte dessa comissão de 0,5% teria sido destinada ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva”.
Ele afirma não ter provas sobre a conta administrada por Pascowitch em suposto benefício dos petistas, mas entregou documentos às autoridades sobre o suposto pagamento de US$ 10 milhões para o lobista, nos Estados Unidos, em 2014.
O que dizem os citados
A reportagem entrou em contato com a defesa do ex-presidente Lula. O espaço está aberto para manifestação.
O advogado de Dirceu, Roberto Podval, afirmou que ainda terá acesso ao depoimento, “mas, se for verdade, a colaboração de Milton Pascowitch deve ser revista”.
Théo Dias, que defende Pascowitch, disse que as afirmações não tem “nenhum sentido”. “Em seu próprio depoimento, Almada afirma não ter prova do que diz.”
A reportagem tenta contato com a Entrelinhas. O espaço está aberto para manifestação.