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Exclusivo: PF investigou família Alcolumbre por contrabando em 1981

Dois tios do presidente do Senado estavam entre os suspeitos de comércio ilegal de ouro, tantalita e torianita, metal altamente radioativo

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Daniel Ferreira/Metrópoles
davi alcolumbre
1 de 1 davi alcolumbre - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

A última eleição para a presidência do Senado atraiu os olhos dos brasileiros para o Amapá. Mais precisamente, a disputa interna no Congresso levou para a cúpula do poder federal um jovem político do estado.

Com 41 anos, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) surpreendeu o país ao vencer o colega Renan Calheiros (MDB-AL) e chegar ao topo do Legislativo. De imediato, despertou interesse dos brasileiros por sua família e pelo Amapá.

O Metrópoles fez uma pesquisa sobre a atuação dos Alcolumbres no estado nas últimas décadas. No acervo do Arquivo Nacional, a reportagem localizou um documento confidencial que faz referência a uma investigação da Polícia Federal (PF) sobre dois integrantes da família.

Reprodução/Arquivo Nacional

Em 1981, os irmãos Salomão e Alberto Alcolumbre foram listados entre os empresários suspeitos de fazer contrabando de minérios do Amapá – na época ainda um território federal. Segundo o relatório Informação nº 011/81/SI/SR/DPF/PA, de 19 de outubro de 1981, inclui os dois entre “pessoas não autorizadas” a comercializar as pedras.

Os contrabandistas transportavam minérios em “grande escala”. Levavam ouro, tantalita e torianita para Belém, São Paulo, Rio de Janeiro e Caiena, na Guiana Francesa, de acordo com o documento. Usavam aviões e não passavam por fiscalização da Receita Federal nem do Departamento Nacional de Pesquisas Minerais (DNPM).

(Photo by DeAgostini/Getty Images)

A tantalita é um mineral valorizado no mercado internacional pela aplicação nas indústrias eletrônica e de vidros, devido a sua resistência e por aumentar a refração. Na composição, tem nióbio e tântalo. O Brasil possui mais da metade das reservas mundiais do produto, localizadas principalmente nos estados de Roraima e Amapá.

Photo by De Agostini Picture Library/De Agostini/Getty Images

Formada por tório, urânio e óxido de chumbo, a torianita é um mineral raro e acentuadamente radioativo, fiscalizado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear e com as maiores reservas mundiais no Brasil. É rara e usada na indústria nuclear. Tem alta densidade e um recipiente de 250ml pesa 2,5kg.

Nascido em 1977, Davi Alcolumbre era criança quando a Polícia Federal investigou as atividades de seus tios. Logo, não se pode fazer qualquer ligação entre o presidente do Senado e o contrabando de minérios do Amapá.

Irmãos de Júlia Alcolumbre, mãe de Davi, Samuel e Alberto já morreram. Segundo o site Porta Retrato, de Macapá, o pai dos dois, Isaac – falecido em 1971 –, foi um próspero comerciante que comprava borracha, farinha, peixe, carne-seca, peles de animais, ouro e “qualquer outro produto que ele achasse viável comercialmente”. Era conhecido como “rei do ouro”.

Os Alcolumbres são judeus que migraram do Marrocos para o Brasil no início do século 19. No Amapá, construíram vasto patrimônio e entraram para a política. Até a eleição de Davi para o Senado, em 2014, a família era aliada, no estado, ao ex-presidente José Sarney (MDB).

Por uma iniciativa do atual presidente do Senado, desde 2009, quando exercia mandato de deputado federal, o aeroporto de Macapá tem o nome de seu tio Alberto. Salomão morreu em 2011, aos 65 anos, de infarto. Era segundo suplente do então senador Sarney.

Histórico de autuações
O Metrópoles procurou a sede da Polícia Federal em busca de informações sobre o desfecho da investigação de 1981. A assessoria da PF em Brasília repassou as perguntas para a superintendência em Belém. Até a conclusão deste texto, as questões não foram respondidas.

Pelo histórico de autuações pela PF, conclui-se que o contrabando de minérios se manteve ativo no Amapá nas últimas quatro décadas. Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo no dia 27 de dezembro de 2008 registra que a primeira apreensão de torianita no estado foi feita em 2004.

Em fevereiro de 2008, uma carga de 1,1 tonelada foi apreendida no estado. Uma das dificuldades para o combate ao comércio ilegal na época era a inexistência, no Brasil, de instalações adequadas para guardar o minério radioativo.

No final daquele ano, a Polícia Federal tinha um inquérito sobre contrabando desse produto. Outros cinco haviam sido encerrados com o indiciamento de intermediários, por danos ambientais e nucleares, sem identificar os destinatários, segundo a Folha de S.Paulo.

Dez anos depois, o Batalhão Ambiental da Polícia Militar do Amapá flagrou uma embarcação com 1.338 quilos de tantalita no porto de Santana, próximo a Macapá. Segundo reportagem do G1 de 22 de maio de 2018, um homem foi preso nessa operação.

Davi Alcolumbre também não quis se manifestar sobre as suspeitas de envolvimento dos tios com contrabando de minérios. Como deputado, ele apresentou um projeto de lei que agravava as penalidades de contrabandistas que, em suas práticas ilegais, usassem transporte aéreo, marítimo ou fluvial. A proposta foi arquivada.

Estado vulnerável
Os fatos tratados nesta reportagem demonstram que, há quase quatro décadas, contrabandistas escoam cargas de minérios raros, ilegalmente, para fora do Brasil. Elevado à categoria de estado em 1991, o antigo território federal fica distante da capital da República, na fronteira com a Guiana Francesa.

Nessas condições e com áreas de difícil acesso, o estado fica mais vulnerável às práticas ilegais como o contrabando de pedras. Também tem pouca influência no poder federal.

Com a chegada de Davi Alcolumbre à presidência do Senado, porém, o Amapá ganha um representante de peso na cúpula política do país. Se o senador tiver interesse, essa é uma oportunidade rara para se criar condições e estrutura para o combate ao contrabando no estado.

Nessas circunstâncias, espera-se que o parlamentar tenha postura diferente das atitudes tomadas por alguns de seus parentes nos últimos 10 anos. Nesse período, integrantes da família Alcolumbre acumularam R$ 1 milhão em multas por descumprimento da legislação ambiental.

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