Ex-presidente Lula toma posse como ministro da Casa Civil em meio a protestos
Centenas de militantes contrários e a favor ao governo fazem ato em frente ao Palácio do Planalto
atualizado
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como ministro chefe da Casa Civil, na manhã desta quinta-feira (17/3). A solenidade ocorreu no Palácio do Planalto e atrasou 36 minutos. O novo ministro chegou a Brasília por volta das 9h em um jato fretado. Também foram empossados o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG), na Secretaria de Aviação Civil (SAC), e o novo ministro da Justiça, Eugênio.
Dilma Rousseff entrou no salão do Planalto ao lado de Lula. Os dois foram aplaudidos pelos convidados. Após o Hino Nacional, tocado no início da cerimônia, os presentes entoaram o grito “não vai ter golpe”. Lula foi o primeiro a assinar o termo de posse. Abraçou Dilma e foi aplaudido. Quando a presidente ia iniciar o discurso, houve uma confusão entre militantes.
O deputado federal Major Olímpio (SDD-SP), interrompeu por uns instantes o evento, gritou “isso é uma vergonha” e deixou o local. Na saída, afirmou que foi à posse dizer que “é inadmissível” colocar o ex-presidente Lula como ministro.
“Fui empurrado e agredido por pessoas que estavam participando da cerimônia. É uma vergonha usar o ministério para salvo conduto e para se safar da justiça. É uma vergonha. A presidente não manda em nada. Não coordena nada. Eu vim para dizer em nome do povo brasileiro que é inadmissível colocar o Lula como ministro por medo de um juiz”, afirmou o parlamentar ao deixar o Planalto.
O ex-ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, que assumiu a chefia de gabinete da Presidência, teve um problema com o voo e só poderá chegar a Brasília depois das 11h. O aviso foi dado por Dilma.
“Como o ministro Jaques Wagner só usa avião de carreira, ele teve um problema para chegar aqui”. A presidente também pediu para que o novo ministro da Justiça trate como uma das prioridades a segurança dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Ao falar de Lula, Dilma foi aplaudida. Gritos de “o povo não é bobo abaixo a Rede Globo” também marcaram a fala da presidente. “Além de grande líder político, é amigo de lutas e de conquistas. Conto com a identidade que ele tem com o povo desse país. Conto com sua incomparável capacidade de olhar nos olhos do nosso povo e entendê-los. Pelos brasileiros, nós estamos juntos outra vez”, disse.
O senador pernambucano Humberto Costa avaliou de forma positiva a volta de Lula para o governo. “Ele tem livre trânsito com os movimentos sociais e conhece bem os parlamentares no Congresso. Tenho certeza de que vai cumprir a função de recompor a base”, declarou. A cerimônia terminou por volta das 11h15.
Confira trechos do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff:
“Queridos amigos e amigas, todo mundo sabe que as dificuldades costumam criar grandes oportunidades. As circunstâncias atuais me dão a magnifica chance de trazer para o governo o maior líder político desse país. Seja bem-vindo, ministro Lula”
“A gritaria dos golpistas não vai nos tirar do rumo e nem colocar o povo de joelhos”
“O Brasil não pode se tornar submisso a uma corporação que invade as prerrogativas da Presidência da República, o que farão com as prerrogativas do cidadão?”
“Esse documento (termo de posse), foi distribuído para toda imprensa. Nós queremos saber quem autorizou o vazamento dos grampos e por que foi divulgado quando ele não continha nada que possa levantar qualquer suspeita”
“Interpretação desvirtuada, investigações baseadas em grampos ilegais, não favorecem a democracia nesse país. Repudio todas as versões sobre esse fato. Convulsionar a sociedade brasileira viola direitos e abre precedentes gravíssimo. Os golpes começam assim”.
“Fica nítida a tentativa de ultrapassar o Estado de democrático de direito, de cruzar a fronteira tão cara por nós, que lutamos e resistimos, a fronteira de um estado de exceção”
Sem Temer
O vice-presidente Michel Temer não compareceu à posse conjunta. A justificativa dada por assessores de Temer é que a posse de Mauro Lopes “afronta” a decisão da convenção nacional do PMDB de não assumir novos cargos no governo Dilma durante o prazo de 30 dias, dentro do qual a sigla deve definir o desembarque da gestão petista.
Para prestigiar a cerimônia do ex-presidente, deputados, sindicalistas e convidados formavam, por volta das 9h desta quinta, uma fila na entrada principal do Palácio do Planalto. Nos arredores, há ruas bloqueadas e manifestações pró e contra o governo. A Polícia Militar acompanha o protesto e confrontos entre os grupos já foram registrados.
Termo de posse
Na cerimônia, Dilma falou sobre a divulgação das gravações de conversas entre ela e o ministro Lula. No diálogo, ela diz que está mandando o termo de posse para o ex-presidente “só usar em caso de necessidade”.
“Não há Justiça quando delações são tornadas públicas de forma seletiva para execração de alguns investigados e quando depoimentos são transformados em fatos espetaculares. Não há Justiça quando leis são desrespeitadas e a Constituição aviltada. Não há Justiça para os cidadãos quando as garantidas constitucionais da própria presidente da República são violadas”, disse.
Responsável pelos processos da Operação Lava Jato, o juiz federal Sérgio Moro, divulgou nessa quarta-feira (16/3) o teor desta e de outras conversas do ex-presidente que, segundo a Justiça do Paraná, teve suas ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal.
Ainda nessa quarta, o Palácio do Planalto negou que a assinatura do termo de posse do ex-presidente Lula como ministro-chefe da Casa Civil tenha sido antecipada para garantir a ele foro privilegiado de modo imediato, e que o caso de necessidade se referia ao caso de o ex-presidente não poder comparecer na posse.