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Ex-ministros da Cultura divulgam manifesto conjunto contra Bolsonaro

Titulares da pasta nos governos Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer condenaram a “demonização” da classe artística e de projetos culturais

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Marcos Santos / USP Imagens
Ex-ministros Marcelo Calero, Juca Ferreira, Francisco Weffort e Marta Suplicy, Luiz Roberto Nascimento da Silva lançam manifesto
1 de 1 Ex-ministros Marcelo Calero, Juca Ferreira, Francisco Weffort e Marta Suplicy, Luiz Roberto Nascimento da Silva lançam manifesto - Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Em encontro inédito, cinco ex-ministros da Cultura divulgaram um manifesto contra as políticas culturais do governo Bolsonaro na manhã desta terça-feira (02/07/2019) na USP (Universidade de São Paulo). Sem propostas mais detalhadas, condenaram a “demonização” da classe artística e de projetos culturais e, sobretudo, o fim do Ministério da Cultura, que passou a ser uma secretaria subordinada ao Ministério da Cidadania desde a posse do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL).

Estavam na mesa Luiz Roberto Nascimento Silva (ministro na gestão de Itamar Franco, entre 1993 e 1994); Francisco Weffort (ministro de Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002); Juca Ferreira (ministro duas vezes, de Lula, entre 2008 e 2010, e de Dilma, em 2015 e 2016); Marta Suplicy (ministra de Dilma, entre 2012 e 2014); e Marcelo Calero (ministro por sete meses de Temer, em 2016). Eles primeiro se reuniram em sala fechada para redigirem o manifesto, que logo depois foi entregue em uma folha de papel sulfite aos jornalistas. Assim começa o documento: “Nós, ex-ministros da Cultura que servimos ao Brasil em diferentes governos, externamos nossa preocupação com a desvalorização e hostilização à cultura brasileira. Reafirmamos a importância da cultura em três dimensões básicas como expressão da nossa identidade e diversidade, como direito fundamental e como vetor de desenvolvimento econômico, contribuindo decisivamente para a geração de emprego e renda.”

A parte que condena mais claramente o fim do Ministério da Cultura diz: “A extinção do Ministério é um erro. A existência tem garantido um olhar à altura da relevância da cultura e da arte na vida brasileira. Mesmo com recursos limitados, a pasta foi capaz de defender, formular, fomentar, criar e inovar a relação do Estado com a sociedade no plano da cultura, em respeito às tradições brasileiras desde o Império. A arte e a cultura brasileira, além de sua relevância interna, têm contribuído para uma imagem positiva no exterior. O interesse efetivo por diversas manifestações e criações culturais brasileiras é razão de orgulho e ativo importante da afirmação do país no conjunto das nações.”

Calero disse da importância de se reafirmar a cultura como política de Estado. “E reafirmá-la como vetor de desenvolvimento econômico e social.” As falas nem sempre foram em uníssono. Marta falou da importância de se ter o Estado como sustentação. “Fizemos com esse documento um afunilamento de percepções desse retrocesso civilizatório que estamos vivendo.” Ela chamou o fim do MinC de erro crasso: “Estamos sendo asfixiados”. Luiz Roberto Nascimento Silva disse que gostaria que o governo atual interpretasse as colocações não apenas como manifesto, mas como ato colaborativo não partidário. Juca Ferreira discordou: “Da minha parte, é crítica sim e defesa da Cultura. Colaboração seria demais.” Luiz Roberto respondeu. “Colaboração não na dimensão política.”

A reportagem questionou o grupo dos cinco sobre a necessidade do diálogo em um País já polarizado o bastante. Um “armistício cultural”, chamando integrantes do próprio governo para estarem naquela sala de forma que a reunião de cinco experientes nomes da gestão cultural, com o que fizeram de certo e de errado, fosse aproveitada para além de um manifesto. Juca foi incisivo: “A sua pergunta tem um erro de origem. Parece que há um belicismo das duas partes, mas não é assim.” Ele falou das perdas que o setor sofre por parte do governo e de posturas que impediriam o diálogo. Marta voltou ao assunto: “Me sinto falando com uma parede (o governo). Eles não entendem nem qual é o conceito de cultura.”

O secretário de Cultura de Bolsonaro, Henrique Pires, estava coincidentemente participando de um seminário na Biblioteca Brasiliana da mesma USP (leia mais aqui), no mesmo horário. Questionado sobre o encontro a alguns metros dali, ele respondeu: “Se eles produzirem algum documento e nos entregarem, vamos receber e ler com atenção.” O que há é um manifesto.

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