Ex-marqueteiro do PT sobre Caixa 2: “Alma do sistema eleitoral brasileiro”
Em primeira entrevista desde que foi preso, em 2016, João Santana afirmou que a prática “não é apenas uma unha encravada”
atualizado
Compartilhar notícia
O ex-marqueteiro do PT João Santana afirmou nesta segunda-feira (26/10) que a prática de Caixa 2 “não foi apenas uma unha encravada” no país. Segundo ele, o recebimento de dinheiro público de forma ilícita “sempre foi a alma do sistema eleitoral brasileiro”. O publicitário foi preso em 2016, no âmbito da Operação Lava Jato, e teve uma delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Santana, que foi detido após confessar o uso de Caixa 2, afirmou que sabia da existência dos esquemas de corrupção. Ele chegou a acusar jornalistas de receber dinheiro ilícito em campanhas eleitorais.
“Quando você vive um sistema de ruína moral, todo mundo é cúmplice e vítima. A imprensa não sabia do Caixa 2? Sabia. Antes, jornalistas tiravam licença para trabalhar em campanha e ganhar em três meses o que não ganhavam em três anos”, disse o ex-marqueteiro do PT.
Questionado sobre a necessidade de participar dos esquemas, já que que foi responsável por oito campanhas presidenciais vitoriosas e já tinha acumulado riquezas, Santana citou a ambição. “A questão não era o dinheiro. Era a ânsia de vencer. Entra também a história da ambição. O ser humano não se contenta com pouco. Quanto mais tem mais quer ganhar”, falou.
O publicitário contou que está cumprindo o regime semiaberto e, agora, já pode trabalhar com marketing político. “A perda da liberdade e a falência empresarial, tudo isso formam um coquetel tão amargo. Só quem bebe pode saber disso. Essa queda da fama para a infâmia é um buraco tão profundo que nem sei se tem fundo”, afirmou.
Santana elegeu presidentes, incluindo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006, apesar do escândalo do Mensalão, e Dilma Roussef (PT), em 2010 e 2014. No exterior, comandou campanhas vencedoras em quatro países, incluindo a eleição de Hugo Chávez em 2020, e Nicolás Maduro em 2013, na Venezuela.
Em 2016, foi acusado, junto de sua mulher, Mônica Moura, de participação em esquema de corrupção envolvendo contratos ilícitos da Odebrecht e da Petrobras que teriam beneficiado o PT. Os dois foram condenados a 7 anos e 6 meses de prisão por diversos crimes de lavagem de dinheiro.
Ambos tiveram as penas substituídas após fecharem acordo de delação premiada, homologado pelo STF. O casal admitiu, em mais de uma ocasião, o uso de caixa 2.