Esplanada vazia desanima vendedores ambulantes
Movimento abaixo do esperado no dia em que o Senado vota a instauração do processo de impedimento da presidente da República decepciona quem foi à Esplanada para faturar
atualizado
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O dia prometia para Adailton Pereira, 56 anos. Comerciante autônomo, ele vende bandeiras do Brasil, chapéus customizados e camisetas que imitam o design da Seleção Brasileira de futebol. Nesta quarta-feira (11/5), ele se dirigiu às 9h30 para Esplanada com o objetivo de vender seus objetos aos manifestantes à favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A ideia era boa, afinal, é nesta quarta que o Senado vota pela abertura do processo de impeachment da presidente na Casa. Caso o pedido seja aprovado, Dilma será afastada do cargo por até 180 dias. Uma grande vitória para aqueles que ocupavam as ruas há meses pedindo a saída da presidente.
Mas o que ocorreu foi o contrário. Até o meio da tarde, por volta das 16h30, Adailton havia vendido apenas duas camisetas de R$ 25 (cada uma). “Fiquei muito surpreso. Para mim, hoje é um dia especial. Mas todo mundo já sabe o resultado, né? Talvez por isso tenham desanimado”. Mesmo assim, ele promete ficar até à noite no gramado próximo do Congresso Nacional.”Pode ser que apareçam durante a votação”, explica.
Vidal de Oliveira, 56 anos, é mais cético. Há 30 anos, ele mantém uma barraquinha em que vende flores próximo à Catedral. Mesmo sabendo que o movimento seria fraco nesta quarta-feira, mas resolveu trabalhar. “Eu já sabia que não ia dar muita gente aqui. Você acha que eles iriam sair da casinha chiques dele para protestar pelo que já conseguiram?”. Ele também estava nesse mesmo ponto durante o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, que ocorreu há 24 anos. “Essa situação é muito diferente. Antes, era o povo todo junto na rua, agora é um contra o outro.”
As ruas vazias não foram suficientes para desanimar o Palhaço Pirulito, 58 anos. No ofício há 28 anos, ele se orgulha de pedir a saída de um presidente pela segunda vez. “Eu que sou palhaço nunca vi tanta palhaçada quanto nesse governo da Dilma. Sou um palhaço coxinha de coração.”.
Ele também é um palhaço de contradições. Apesar do nome, vende outra guloseima: algodão-doce. E na placa em que escreveu palavras de ordem, como “Fora Dilma”, há uma foto em que aparece abraçado ao Lula enquanto segura um cartaz com os dizeres “Fora Collor”. “Essa foto ficou bem famosa. Saiu na Veja”, garante.
Sobre as ruas vazias, o palhaço é categórico. “O pessoal é trabalhador, não vai perder um dia de serviço. Mas assim que der 18h, vai vir uns 40 mil. Pode esperar”.