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Entenda o que a reeleição de Trump pode significar para o Brasil

Segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, vitória do atual presidente norte-americano fortaleceria discurso e política de Bolsonaro

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Alan Santos/PR
Bolsonaro cumprimenta Trump durante jantar
1 de 1 Bolsonaro cumprimenta Trump durante jantar - Foto: Alan Santos/PR

O cenário das eleições dos Estados Unidos ainda é incerto e, apesar de as pesquisas apontarem uma vantagem de Joe Biden, a reeleição de Donald Trump não pode ser descartada. Com uma vitória do republicano, o alinhamento do governo Bolsonaro ao atual ocupante da Casa Branca tende a se aprofundar. Isso fortaleceria o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que mistura populismo e conservadorismo.

O pleito desta terça-feira (3/11) definirá não só os rumos da maior potência econômica, como também a linha de interação dos EUA com o resto do mundo. Segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, a hipótese de vitória de Trump aponta para a manutenção das relações econômicas com o Brasil, e prevê impactos positivos e negativos para o país.

Entre os favoráveis, se Trump permanecer na Casa Branca pelos próximos quatro anos, é de que haverá maior chance de um acordo de livre comércio entre os dois países ser fechado e de uma possível entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – temas que têm sido foco do diálogo entre Bolsonaro e o atual presidente norte-americano.

De acordo com o cientista político Márcio Coimbra, coordenador de pós-graduação em relações institucionais e governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, em um cenário com a vitória do republicano é provável que os acenos feitos por Trump a Bolsonaro sejam cumpridos.

“Na economia, ele tende a seguir a mesma linha. Já deu muito resultado. A gente pode ter grandes chances de partir para um acordo de livre comércio entre Brasil e EUA. Existe uma conexão entre o governo Bolsonaro e o Partido Republicano”, disse Coimbra.

Já a agenda ambiental, principalmente no que diz respeito à proteção da Amazônia, deve ser afetada negativamente em caso de uma vitória de Donald Trump. Isso porque essa não é uma prioridade na pauta do presidente norte-americano e, ao contrário de Biden, que certamente intensificaria as pressões sobre o tema com Bolsonaro, o republicano não pressionaria o Brasil por questões ambientais.

Durante o primeiro debate presidencial das eleições americanas, Biden chegou a dizer que a comunidade internacional deveria trabalhar para oferecer um fundo de US$ 20 bilhões ao Brasil para proteger a floresta amazônica. O democrata ressaltou ainda que, se ela não estiver protegida, o país enfrentará consequências econômicas significativas.

Alinhamento ideológico

Apesar da manutenção do panorama econômico, os especialistas apontam para um fortalecimento do discurso de Bolsonaro, que mantém um alinhamento ideológico com o republicano. Para Coimbra, com uma vitória de Trump, o atual presidente norte-americano viria com “muito ímpeto” de aprofundar uma guerra comercial com a China e aumentar as pressões contra a Venezuela – e certamente cobraria o apoio do Brasil.

“Quando a gente tem uma situação de reeleição, o que geralmente acontece é um segundo mandato com um presidente mais solto. Ele não tem a necessidade de se reeleger. Não tem as mesmas amarras. Isso significa que ele vai ter muito ímpeto de travar uma guerra comercial com a China. A Venezuela e Maduro [também] podem colocar as barbas de molho, porque ele pode acentuar as pressões sobre o regime, com a ajuda do Brasil”, avalia Coimbra.

O professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas também avalia a reeleição de Trump como um reforço ao discurso ideológico de Bolsonaro e prevê um “apoio mútuo” entre o presidente e o republicano. “Se houver reeleição, é mais ou menos a continuidade do que vem acontecendo. Relacionamento preferencial. Aproximação pessoal muito forte. Avanço de algumas pautas como a OCDE. Ele legitima o discurso [de Bolsonaro]. É como se fossem dois colegas que falam a mesma língua”, declarou.

Para o professor do Instituto de Ciência Política e da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Bertholini, o maior impacto de uma possível vitória de Trump “é o fortalecimento das bases de Bolsonaro no Brasil”. Ele afirma que o presidente brasileiro pode usar a reeleição do republicano como “engajamento”, tendo em vista o alinhamento ideológico entre os apoiadores mais fiéis do militar da reserva com o atual presidente norte-americano.

“A pauta do governo [Bolsonaro] pensa o tempo todo em ter retorno eleitoral, no futuro, da base de apoio atual do presidente. Isso é uma forma de acenar para a militância. Do mesmo jeito funciona a lógica com Trump. Isso reforça as conexões com a base mais fiel”, disse Bertholini.

Direitos humanos e meio ambiente

Ainda com base no alinhamento ideológico entre Trump e Bolsonaro, os especialistas avaliam que haverá “baixa prioridade” em relação às questões ambientais e de direitos humanos. Nos Estados Unidos, o presidente norte-americano tem sofrido críticas por deixar de lado temas referentes às minorias, como o racismo. E, no Brasil, o governo tem adotado a mesma linha, o que acontece também com pautas do meio ambiente.

“A pauta de direitos humanos é muito cara aos EUA. O Brasil sempre teve uma pauta de direitos humanos muito alinhada com os EUA. Esse seria mais um ponto de fortalecimento entre os dois governos, especialmente em relação à Venezuela”, avaliou Coimbra, da Mackenzie.

Caldas, da UnB, também avalia que Trump adotou uma posição conservadora e não “se mostrou solidário às manifestações” de direitos humanos, o que, segundo ele, indica que esse tema não terá prioridade nos EUA nem no Brasil. Ele ainda cita a questão ambiental como um ponto negativo da reeleição do republicano. “Em relação a essas pautas, é um apoio mútuo. Há uma compreensão das pautas mútuas. Não são prioridades na agenda de nenhum dos dois”, finalizou.

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