Enfermeira que perdeu a irmã para Covid diz à CPI que há uma “rede de culpabilidade”
A CPI realiza uma audiência pública destinada a colher o relato de vítimas da Covid-19 e familiares que perderam entes para a doença
atualizado
Compartilhar notícia
Representante do Amazonas, a enfermeira Mayra Lima, de 38 anos, disse, nesta segunda-feira (18/10), que a irmã dela morreu por causa das complicações da Covid-19 em meados de janeiro do ano passado e deixou quatro crianças, entre elas um casal de gêmeos de 1 ano.
“Minha irmã morreu não por culpa de uma pessoa, mas por uma rede de culpabilidade que precisa realmente ser identificada e resolvida essa situação”, afirmou a enfermeira à CPI da Covid-19.
Em janeiro, Manaus viveu um colapso no sistema de saúde com falta de oxigênio. À época, o governo enviou à capital amazonense uma comitiva para difundir o tratamento precoce, com medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19.
A enfermeira comentou que diversos familiares foram infectados com o novo coronavírus e ela faz terapia até hoje por sequelas da Covid.
“Quando me formei há 15 anos, tinha o sonho de ajudar as grande calamidades, atender pacientes em situação de guerra, hoje falo que vivi uma guerra. Atendi pacientes sem proteção nenhuma, perdemos ótimos médicos obstetras, perdemos colegas para a depressão, para o suicídio. Peguei Covid duas vezes”, declarou.
Lotada na maternidade Balbina Mestrinho, Mayra relatou falta de equipamentos de proteção individual (EPI) na unidade de saúde. “Situações que poderiam ter sido resolvidas com um pouco de bom senso e de responsabilidade dos gestores”, disse.
Segundo a enfermeira, a maternidade registrou 82 óbitos de profissionais de saúde.
A CPI realiza, na manhã desta segunda-feira, uma audiência pública destinada a colher o relato de vítimas da Covid-19 e familiares que perderam entes para a doença. Haverá uma pessoa de cada região do país presente.