Embaixador do Brasil na França é cotado para substituir Araújo
Luís Fernando Serra é benquisto no Planalto por defender fortemente o governo. Ele criticou duramente homenagens a Marielle Franco na França
atualizado
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O diplomata Luís Fernando Serra, embaixador do Brasil na França, é um dos mais cotados para assumir a chefia do Palácio do Itamaraty. Ele pode chegar ao cargo após o pedido de demissão do chanceler Ernesto Araújo.
Alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Serra é benquisto no Palácio do Planalto por defender fortemente o governo no exterior. O senador Flavio Bolsonaro (Republicanos-RJ), um dos filhos do presidente, foi relator da sabatina de Serra na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Serra conhece o presidente Bolsonaro desde 2018, quando era embaixador na Coreia do Sul. Então candidato à Presidência da República, Bolsonaro visitou o país naquele ano. Em 2019, foi indicado pelo presidente para chefiar a embaixada na França.
Polêmica com Marielle
Em duas ocasiões, Serra centralizou polêmicas envolvendo a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. Em julho do ano passado, ele cancelou a participação em evento que reuniu acadêmicos em Paris ao descobrir que a parlamentar seria homenageada.
À época, a prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo (Partido Socialista), comunicaria a inauguração de um jardim com o nome de Marielle.
Antes disso, o embaixador foi alvo de críticas ao responder uma carta da senadora francesa Laurence Cohen, que preside o grupo interparlamentar de amizade França-Brasil, na qual ela questionava o governo brasileiro sobre as investigações relativas ao assassinato de Marielle.
Serra respondeu que era com “profunda consternação” que observava “que o assassinato de Celso Daniel e o ataque à vida de Bolsonaro não tiveram o mesmo eco na França que o assassinato de Marielle, que foi até objeto de uma mobilização da Assembleia Nacional”.
Ele é tido, embora não tão claramente quanto Araújo, como alinhado às ideias do professor on-line de filosofia, o ex-astrólogo Olavo de Carvalho, espécie de guru da ala mais ideológica do governo Bolsonaro.
Esse perfil desperta resistência no Congresso, porque seria similar demais ao do chanceler demissionário, o que poderia fazer apenas a crise na diplomacia brasileira se estender.
Crise na diplomacia
Nesta segunda-feira (29/3), o ministro das Relações Exteriores, chanceler Ernesto Araújo, não resistiu às pressões de líderes do Congresso, que reclamavam do desempenho da pasta durante a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, e pediu demissão.
Após ser duramente criticado pelos embates diplomáticos com a China, e pela incapacidade de conseguir desfecho mais rápido nas negociações para a compra de insumos médico-hospitalares com países como a Índia, Araújo não conseguiu resistir à cobrança dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Ligado à ala mais fortemente ideológica do governo Bolsonaro, o chanceler era ministro desde janeiro de 2019. O mais recente imbróglio envolvendo o ministro foi um embate com a senadora Kátia Abreu (PP-TO).