Em votações, Baleia tem mais semelhanças com rival Lira que com aliado Maia
Nove candidatos concorrem à presidência da Câmara dos Deputados. Baleia Rossi e Arthur Lira são os nomes mais fortes para assumir o cargo
atualizado
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O deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) apresentou mais semelhanças, durante as votações em plenário com o principal rival na disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do que com o aliado e atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Baleia e Lira disputam, nesta segunda-feira (2/2), a sucessão da presidência da Casa. O parlamentar paulista, presidente nacional do MDB, tem o apoio de Maia, enquanto o alagoano, líder do Centrão, recebe as bênçãos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Baleia Rossi votou junto com Rodrigo Maia em 72,3% das vezes. Em relação a Arthur Lira, o presidente do MDB atuou de forma semelhante em 89% das votações.
Esses dados foram levantados pela plataforma Inteligov, startup de monitoramento de dados dos poderes Executivo e Legislativo, a pedido do Metrópoles. A empresa analisou as votações em que os parlamentares tiveram a mesma posição.
Um pouco mais distante do atual presidente da Casa, mas, ainda assim, parecido, Arthur Lira votou igualmente com Rodrigo Maia (que, como presidente, só vota quando há empate) em 60,9% das 412 votações computadas.
O cientista político Lucas de Aragão, sócio da empresa Arko Advice, avalia que os dois candidatos têm apoiado, concomitantemente, às principais pautas reformistas do país.
Ele cita, como exemplo, as reformas trabalhista e da Previdência, bem como o teto de gastos e o marco do saneamento. Um outro levantamento feito pela Arko Advice mostra, inclusive, que Baleia e Lira votaram, em 2020, junto com o Executivo em 77,8% e 70,6% das vezes, respectivamente.
Lucas de Aragão, no entanto, aponta diferenças: “O Lira, hoje, está governista, enquanto o Baleia se posiciona de maneira mais independente”, diz o especialista, em conversa com o Metrópoles.
“Não acho que o Baleia seria uma ameaça às reformas, mas, com o Lira ganhando, o governo tem um sinal de força que gera um otimismo inicial”, complementa o cientista político.
Para o pesquisador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da FGV Eduardo Grin, as semelhanças dos dois candidatos com o governo federal, inclusive, fragilizam o discurso de Baleia Rossi, que se declara como independente em relação ao presidente Jair Bolsonaro.
No entanto, uma possível vitória do emedemista expande as chances de diálogo com a esquerda, que não conseguiu emplacar um nome forte para tentar suceder o presidente Rodrigo Maia nestas eleições.
“A vitória do Baleia Rossi manteria os partidos de esquerda em uma linha de maior possibilidade de diálogo; dá para ter ao menos uma relação civilizada, pois com o Lira não vai ter conversa. O Baleia Rossi é sensível a questões de direitos humanos, por exemplo”, afirma Grin.
Já o estrategista político no Senado Federal e coordenador de pós-graduação em relações institucionais e governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Márcio Coimbra, difere da ideia mais corrente e diz que a eleição de Baleia Rossi será melhor para Bolsonaro.
“O Lira é mais um politico de ocupação de espaços, e o Baleia, de bastidores e consenso. Então, para o Bolsonaro governar, ele teria muito mais diálogo e facilidade com o Baleia, pois o Lira vai cogovernar juntamente com o Bolsonaro, ocupando espaços, ministérios”, relata.
Diretor do Instituto de Ciência Política (Ipol) da Universidade de Brasília e novo decano de Pós-Graduação, Lúcio Rennó, por sua vez, diz que o comportamento pregresso deles tem importância relativa agora, pois não representam mais a si ou mesmo aos partidos, mas a grupos maiores.
“Não há dúvida de que Baleia e Lira são dois políticos bem pragmáticos, que agem em seus grupos. Mas, apesar de votarem de maneira parecida, eles chegam a essa disputa vinculados a projetos distintos”, diz.
Para Rennó, porém, independentemente de quem ganhe, a Câmara estará menos combativa ao presidente Jair Bolsonaro. “Teremos uma postura de menos embate com o Planalto no dia a dia. Não sem embates, mas com menos intensidade”, avalia.