Em solenidade no TSE, Torquato Jardim evita comentar mudanças na PF
Ministro da Justiça disse que não participou da decisão de trocar diretor-geral da corporação, mas um aliado dele assumirá o cargo
atualizado
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Após a polêmica troca de comando da Polícia Federal, anunciada nesta terça-feira (27/2), o ministro da Justiça, Torquato Jardim, se esquivou de discutir as mudanças. “Melhor não [comentar]. Não participei da decisão. Agora é com Segurança Publica”, afirmou, nesta noite, durante cerimônia de posse do ministro Luís Roberto Barroso como efetivo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A substituição de Fernando Segovia pelo delegado Rogério Galloro na Direção-Geral da PF foi um dos primeiros atos de Raul Jungmann ao assumir como ministro da Segurança Pública, nesta terça: a posse foi pela manhã e a destituição de Segovia, à tarde. Jungmann, que antes respondia pela pasta da Defesa, terá a incumbência de coordenar os atos relativos à intervenção federal na área se segurança do Rio de Janeiro, bem como supervisionar os trabalhos da PF, que passa a integrar a força-tarefa interventora.
Sua decisão de trocar a direção da Polícia Federal foi uma demonstração de força: em uma só canetada ele se livrou do constrangimento de ver um subordinado despachar diretamente com o presidente da República, Michel Temer, como Segovia fez com o ministro Torquato Jardim, titular da pasta que coordenava a PF até a criação do Ministério da Segurança Pública.O ministro da Justiça, por sua vez, não teria se esforçado pela manutenção do ex-número 1 da PF: Rogério Galloro foi braço-direito de Leandro Daiello, um dos mais longevos diretores-gerais da Polícia Federal e antecessor de Segovia no posto. Também era o preferido de Torquato Jardim no processo de substituição de Daiello. Assim, o ministro da Justiça, sem precisar agir diretamente, se livrou de um “problema” e garantiu um aliado no posto mais alto da Polícia Federal.
Neste contexto e com a expectativa de reduzir rumores sobre interferências na PF a favor do grupo político de Michel Temer, não teria sido difícil para Jungmann conseguir o aval do presidente à destituição do agora ex-diretor-geral. O próprio Fernando Segovia deu margem a tais rumores, após conceder entrevista no qual deu a entender que inquérito contra o presidente tendia a ser arquivado pela corporação por falta de provas.
O agora ministro titular do TSE Luís Roberto Barroso também teve participação nessa narrativa. Após a desastrosa declaração de Segovia sobre um iminente arquivamento do inquérito sobre o chamado Decreto dos Portos, Barroso, que relata o caso no Supremo, deu um puxão de orelha em Fernando Segovia, determinando que ele se abstivesse de tecer novos comentários sobre a investigação. Na posse desta terça (27), o ministro também se esquivou de comentar o caso.
Barroso no TSE
A solenidade no TSE contou com a presença de autoridades como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB); o ministro da Educação, Mendonça Filho, e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli.
O ministro Luiz Fux, presidente do TSE, elogiou Barroso e disse estar animado com as contribuições do amigo. O também ministro da Corte Admar Gonzaga ecoou o sentimento: “O ministro Barroso traz toda a sua bagagem acadêmica e estamos empolgados com a sua chegada”.
Luís Roberto Barroso é ministro substituto do TSE desde 2014. Eleito em sessão no STF em 1º de fevereiro, ele assume a vaga de Gilmar Mendes, que deixou a Corte Eleitoral no início do mês. À imprensa, após a solenidade, ele disse: “Tenho muito prazer em tomar posse no TSE e espero contribuir. Estou empenhado em melhorar a qualidade política no Brasil”.