Em meio a apagão, Alcolumbre quer que Bolsonaro vá ao Amapá
Em encontro com mandatário do país, Alcolumbre pediu o fim do racionamento de energia e medidas de socorro ao estado
atualizado
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Após novo apagão geral, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (Democratas-AP), pediu, em reunião com o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que o mandatário do país visite o Amapá para avaliar a situação do estado. O encontro ocorreu nesta quinta-feira (19/11), no Palácio do Planalto.
Alcolumbre pede que o chefe do Executivo federal adote medidas emergenciais de socorro à população do estado, que enfrenta calamidade pública após o apagão. Entre as ações em pauta, o senador pediu que seja extinto o fim do racionamento de energia e propôs, também, o pagamento de auxílio emergencial aos atendidos pela falha elétrica.
Durante o encontro, Alcolumbre afirmou para Bolsonaro que já conversou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a possibilidade do pagamento do benefício. De acordo com o senador, o chefe da pasta sinalizou que “há ferramentas disponíveis” para atender aos amapaenses.
Segundo a assessoria de imprensa de Davi Alcolumbre, Bolsonaro teria manifestado a intenção de visitar Macapá (AP) já neste sábado (21/11). A viagem, contudo, ainda não está confirmada.
A interrupção no fornecimento de energia elétrica no Amapá já dura 17 dias, oscilando entre blecautes, racionamentos e rodízios de energia. Ao todo, 13 dos 16 municípios do Amapá enfrentam problemas dessa natureza.
Afastamento
Mais cedo, o juiz federal João Bosco, da Justiça Federal no Amapá, decidiu afastar as diretorias da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema (ONS) até que sejam concluídas as investigações sobre os apagões ocorridos no estado.
Segundo a decisão o objetivo do afastamento é proporcionar ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Polícia Federal maior isenção e eficácia na apuração dos fatos que levaram aos blecautes.
O magistrado considerou o apagão “o maior e mais prolongado na história do país”.
“[As falhas] têm atingindo drasticamente a população amapaense, sobretudo as classes mais carentes, diante de um pavoroso cenário de crise retratado pelo comprometimento na prestação de outros serviços essenciais, como o fornecimento de água potável, serviços de comunicação (internet e telefonia), serviços de saúde, segurança pública, dentre outros, tudo potencializado pelo avanço do contágio por coronavírus na capital do estado e em municípios contíguos, onde se concentram a maior parte da população”, anotou João Bosco na decisão.
Veja a decisão completa:
Decisão – Afastamento diretoria da ANEEL.pdf by Metropoles on Scribd
Duras críticas
Ao determinar o afastamento das diretorias da Aneel e do ONS, o juiz criticou as respostas dadas pelos órgãos para a solução do problema.
“É de destacar, finalmente, que essa sucessão de erros, condenáveis negligências, mostram o lado triste de uma face oculta do Estado Brasileiro que, ao não se planejar e ao não se organizar adequadamente para o futuro, figurando demasiadamente conivente com a corrupção (promiscuidade entre interesses econômicos e políticos), está nos conduzindo ao ‘neocolonialismo’, e não ao papel de uma grande Nação que poderíamos vir a ser”, frisou.
João Bosco ressaltou as dificuldades de sobrevivência no estado. “A demora na solução do problema tem repercutido sensivelmente em diversos setores da economia do estado-membro do Amapá, como, por exemplo, na atividade comercial desenvolvida por médios e pequenos empreendedores, ocasionando, inclusive, o desabastecimento de alguns produtos alimentícios perecíveis, diante da impossibilidade de conservá-los, com incalculáveis prejuízos patrimoniais e mesmo morais ao povo do Amapá”, ponderou.
Decisão extrema
O juiz determinou o afastamento provisório das diretorias, sem prejuízo da remuneração, pelo prazo de 30 dias, a contar da notificação oficial da decisão.
A medida é considera extrema, sobretudo pelo fato de os diretores serem escolhidos pelo Poder Executivo e chancelados pelo Poder Legislativo. O próprio juiz reconheceu a complexidade da decisão.
“Embora a medida extrema do afastamento provisório não deva se justificar em ‘meras conjecturas’, não tem sentido exigir a prova cabal, exauriente, de que o agente, mantido no exercício da função, acarretará prejuízo ao descobrimento da verdade”, explicou.
A decisão ocorre após o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentar à Justiça ação popular. Na peça, o parlamentar argumentou que “relatórios do governo federal indicam que os órgãos que fiscalizam o setor elétrico sabiam da condição dos equipamentos e dos riscos de um apagão”.
“Documentos do Ministério de Minas e Energia, do Operador Nacional do Sistema e da Agência Nacional de Energia Elétrica indicam que a subestação atingida, a subestação Macapá, operava no limite da capacidade há cerca de dois anos”, afirmou.
Versão oficial
Em nota, a Aneel informou que “respeita a decisão da Justiça, mas ações como essa acabam gerando ruído e prejudicando os trabalhos em um momento em que todos os esforços deveriam estar concentrados no restabelecimento pleno do fornecimento de energia”.
E continua: “Todos os esforços, no atual momento, estão concentrados na normalização do fornecimento de energia no Amapá. Os geradores que vão suprir emergencialmente o estado já estão em Macapá. Equipes da Aneel, inclusive, integram a comitiva do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que vai acompanhar o andamento dos trabalhos com vistas à plena normalização do atendimento”.
A Aneel ainda não foi formalmente notificada sobre a decisão, mas afirmou que irá recorrer. “A Agência informa que, assim que for notificada, vai interpor o recurso cabível para reverter a decisão”, comunicou.
O Metrópoles questionou as assessorias de imprensa do ONS e do Ministério de Minas e Energia sobre a decisão da Justiça Federal. Os órgãos não responderam até a última atualização desta reportagem. O espaço continua aberto.