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Em livro, Mandetta acusa Bolsonaro de negacionismo

Ao relembrar últimos dias da gestão, ex-ministro da Saúde afirma que presidente não deu atenção a dados da pandemia de Covid-19

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Ministro Luiz Henrique Mandetta fala sobre acordo com a China
1 de 1 Ministro Luiz Henrique Mandetta fala sobre acordo com a China - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Dos problemas enfrentados pela gestão no Ministério da Saúde nas ações de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta aponta o que na opinião dele foi o principal deles: a postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Segundo Mandetta, se o presidente liderasse a adoção de protocolos estabelecidos pela pasta para preparar o sistema público de Saúde e a população, o Brasil certamente não estaria entre os países com o maior número de vítimas da doença.

“Poderia ter sido diferente, para melhor”, disse Mandetta, que lança nesta sexta-feira (25/9) o livro Um paciente chamado Brasil, no qual relata, em primeira pessoa, os últimos 87 dias de sua gestão na pasta.

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Ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta
O ex-titular do Ministério da Saúde criticou a politização feita sobre a obrigatoriedade, ou não, da vacinação para a Covid-19
O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta
Luiz Henrique Mandetta disse nesta quarta-feira (21/10), em conversa com o Metrópoles, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) caiu em mais um erro ao desautorizar o atual chefe da pasta, general Eduardo Pazuello, e politizar a vacina contra o novo coronavírus
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O ex-titular do Ministério da Saúde criticou a politização feita sobre a obrigatoriedade, ou não, da vacinação para a Covid-19

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Luiz Henrique Mandetta disse nesta quarta-feira (21/10), em conversa com o Metrópoles, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) caiu em mais um erro ao desautorizar o atual chefe da pasta, general Eduardo Pazuello, e politizar a vacina contra o novo coronavírus

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No período, passou a ser a principal voz na defesa do isolamento social como forma de atenuar efeitos da pandemia, ao contrário do que defendia o presidente. Com isso, ganhou popularidade, provocou ciúme de Bolsonaro e deixou o governo credenciado para as discussões sobre eleições de 2022 em seu partido, o DEM.

O livro, segundo ele, foi escrito na quarentena de seis meses imposta a ministros que deixam o governo, “para que as pessoas entendam que, por mais bem-intencionadas que sejam seus trabalhos, a política é necessária.” Ao analisar as decisões políticas, faz mea-culpa e critica a Organização Mundial de Saúde (OMS) por relutar em classificar a Covid-19 como emergência sanitária mundial.

O foco principal das críticas, no entanto, é Bolsonaro, descrito como alguém em negação diante do agravamento da doença. “Primeiro ele negou a gravidade da Covid-19, falando que era só uma ‘gripezinha’. Depois ficou com raiva do médico, ou seja, de mim. Depois partiu para o milagre, que é acreditar na cloroquina”, escreve.

Mandetta relata que, antes mesmo do primeiro caso no país, tentou por diversas vezes apresentar dados, projeções e medidas de prevenção a serem tomadas. Mas, segundo ele, o presidente “sempre arranjava um jeito de não participar”. Nas reuniões ministeriais, afirma, não tinha espaço para falar.

Segundo o ex-ministro, Bolsonaro só viu os dados em uma ocasião, na reunião no Palácio do Alvorada, em 28 de março. Naquele dia, o país registrava 92 óbitos por Covid-19. Mandetta diz que apresentou três projeções — que estimava de 30 mil a 180 mil óbitos por covid-19 no país.

Na ocasião, diante dos ministros militares, Mandetta chegou a perguntar se o presidente estava preparado para ver caminhões do Exército carregando cadáveres, como havia acontecido na Itália.

“Depois de eu ter ficado por uma hora e meia oferecendo todos os elementos que provavam a gravidade do problema, ele mostrou que não estava nem um pouco convencido.” Naquele dia, Bolsonaro disse: “Infelizmente, algumas mortes terão. Paciência”. No dia seguinte, o presidente foi a Taguatinga e provocou aglomeração ao circular pelo comércio local.

Mandetta diz que naquela reunião, os demais ministros já estavam convencidos de que o presidente não deveria seguir pelo caminho da negação.

Mas, como exemplo de que o governo negligenciou medidas de prevenção, relata que o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, participou da reunião 10 dias depois de ser diagnosticado com Covid-19 — ignorando o protocolo que estabelece quarentena de 14 dias.

O Brasil registrou na quinta-feira (24/9) mais de 139 mil óbitos por Covid-19 — o que aproxima o país da estimativa mais pessimista feita pelo ministério da Saúde em março.

Onyx é acusado de gravar deputados

No livro, Mandetta acusa o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, do que ele chamou de “pecado mortal” na política. Mandetta afirma que, em 2016, quando Onyx era deputado e relator das “10 medidas contra a corrupção”, ele lhe confessou ter gravado parlamentares durante uma reunião na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Segundo Mandetta, na ocasião, Onyx era pressionado por parlamentares para alterar o texto original, proposto por procuradores da Lava Jato — e era este o teor das conversas supostamente gravadas.

O clima era de articulação pela substituição de Onyx na relatoria. Mandetta escreveu que Onyx lhe mostrou a gravação e fez ameaças aos parlamentares de que, se a pressão continuasse, iria vazá-la para a imprensa.

Mandetta relata que contou isso a Maia, e o presidente da Câmara recuou de tirar Onyx da relatoria. Dias antes, Onyx havia sido flagrado em gravação articulando a saída de Mandetta do ministério. Procurado, Onyx não respondeu.

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