Em giro árabe, Bolsonaro tentará mostrar que não prioriza Israel
Em sua maior viagem, presidente passará por 3 países árabes, levando 8 ministros e 120 empresários. Objetivo é atrair dólares do petróleo
atualizado
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A explícita simpatia do presidente Jair Bolsonaro (PSL) por Israel é uma fonte constante de preocupação para o agronegócio e outros setores do mercado financeiro. Buscando desfazer o clima de desconfiança e melhorar a relação, a diplomacia brasileira costura desde o início do ano um giro do chefe do Executivo pelo mundo árabe, que vai se concretizar na semana que vem. Após passar por Japão e China, o presidente desembarca nos Emirados Árabes, no Catar e na Arábia Saudita acompanhado de seus principais ministros e de uma comitiva de 120 empresários. O principal compromisso será a participação em uma conferência conhecida como “Davos no Deserto”.
A visita da comitiva brasileira aos países árabes coroa um esforço diplomático que passou pelo recuo na promessa bolsonarista de instalar a embaixada brasileira em Israel na cidade de Jerusalém, cidade que é palco de uma disputa territorial entre israelenses e árabes. Com essa polêmica superada (por enquanto), Bolsonaro chega ao mundo árabe levando na bagagem 18 projetos de concessões e privatizações do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), com valor total de R$ 1,3 trilhão.
O objetivo é atrair investimentos dos fundos soberanos dos países árabes para o Brasil. Os Emirados Árabes contam com US$ 1 trilhão em ativos, dos quais US$ 5 bilhões já estão investidos por aqui. O fundo do Catar administra US$ 300 bilhões; o dos sauditas, US$ 850 bilhões.
Bolsonaro tem encontros marcados com os chefes de Estado de todos os países visitados, mas o evento considerado o mais importante da agenda é uma cúpula econômica que acontecerá em Riad, capital da Arábia Saudita, entre 29 e 31 de outubro. Bolsonaro foi convidado para fazer a abertura do evento, que tem ainda a presença confirmada do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
O evento ocorre desde 2017 no país e é apelidado de “Davos no Deserto”, uma referência à famosa cúpula econômica europeia. No ano passado, foram fechados acordos que somaram US$ 50 bilhões na cúpula, apesar de um forte boicote relacionado ao assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, um crime pelo qual o Estado saudita é apontado como principal suspeito.
“Esta visita vai servir para divulgar as oportunidades de investimentos no Brasil e servirá também para um intercâmbio maior entre nossos exportadores e potenciais exportadores para a região”, explica o secretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e África do Itamaraty, embaixador Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega. Ele afirma que o relacionamento com os países árabes é uma preocupação da diplomacia brasileira. “Assim como intensificar as relações com Israel é um objetivo da nossa política externa, fazer o mesmo com os países árabes também é. Compramos 33% do petróleo que importamos da Arábia Saudita e temos uma relação forte no agronegócio”, enumera.
Turismo na Arábia Saudita
A Arábia Saudita é o principal parceiro comercial do Brasil naquela região. Em 2018, as relações comerciais entre os dois países movimentaram US$ 4,4 bilhões, com saldo negativo de US$ 218,6 milhões para o Brasil (muito por causa da compra de petróleo).
O país é um dos mais fechados do mundo e apenas neste ano anunciou que vai passar a conceder vistos para turistas, incluindo brasileiros. Até agora, a Arábia Saudita só concede vistos para quem vai a negócios ou para peregrinos muçulmanos que visitam a cidade sagrada de Meca.
De acordo com o embaixador, porém, o destino ainda continua distante para os brasileiros. “Mas teremos melhorias em breve. Estamos negociando com os sauditas um acordo para que não seja necessário o visto e, também, com companhias aéreas para facilitar o trânsito. Não temos ainda nenhum voo direto do Brasil para a Arábia”, afirma Nóbrega. “Então, estamos ainda na fase de facilitar o turismo, antes de incentivá-lo”, completa.
A viagem
Bolsonaro decola no próximo dia 21 de outubro. Ele passará pelo Japão entre os dias 22 e 24, segue para a China, onde fica até o dia 26, e parte para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, onde permanece até 28 de outubro. A visita a Doha, no Catar, será apenas no dia 28, e a estadia na Arábia Saudita vai até 30 de outubro. Será a viagem internacional mais longa já realizada por Bolsonaro desde a posse como presidente da República.
Vão acompanhar o presidente estes ministros: das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; da Economia, Paulo Guedes; do Meio Ambiente, Ricardo Salles; da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes; da Casa Civil, Onyx Lorenzoni; da Defesa, Fernando Azevedo e Silva; da Cidadania, Osmar Terra; e das Minas e Energia, Bento Albuquerque.