Em evento da Frente Agropecuária, aliados põem panos quentes em crise
Para presidente da FPA, problemas do governo é “fato periférico”. Para deputada, não será preciso demitir também ministro do Turismo
atualizado
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Após mais um dia turbulento para o Palácio do Planalto, aliados do presidente Jair Bolsonaro (PSL) aproveitaram evento da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA) em Brasília para pôr panos quentes da crise provocada pelo embate entre o presidente e o ex-secretário-geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno.
Eles quiseram dar um tom festivo à noite, que marca a posse da nova composição da FPA, também conhecida como bancada ruralista ou do boi. O evento conta com a presença do próprio Bolsonaro; do vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB) e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS), que presidiu o colegiado na última legislatura.
O novo presidente da frente, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), minimizou os impactos da crise. Para ele, a reforma da Previdência, por exemplo, será pouco afetada pelo entrevero. “Tem alguns fatos que são determinantes, outros que são periféricos. E esse é um fato periférico”, ponderou.
Em seu discurso, Bolsonaro desviou das polêmicas. A única aproximação do presidente da crise que afeta seu governo foi ao falar sobre o entrosamento de sua equipe. “Graças a Deus tivemos a sorte de ter podido escolher uma equipe de 22 ministros bem capacitados e que se entendem”, ressaltou.
Ele se referiu aos auxiliares do primeiro escalão como “soldados e amigos na busca por soluções e dias melhores”. Bolsonaro também elogiou as ministras da Família, Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, e da Agricultura, Tereza Cristina. “São duas mulheres que valem por 10”, afirmou.
Longe da crise, Bolsonaro focou na defesa da aprovação das reformas, como a da Previdência. “Com essas reformas, deslancharemos”, ressaltou. Bolsonaro estendeu a mão à bancada ruralista. “Contem com alguém na Presidência que não vai mais atrapalhar vocês, mas ajudar. Trabalhando pela segurança jurídica para vocês poderem plantar”, ressaltou o presidente.
Crise termina em Bebianno
O deputado Alceu Moreira (na foto em destaque, à frente, à direita de Bolsonaro) acredita que o ex-ministro Bebianno tem poder ofensivo, mas que muitos seguimentos seguirão apoiando Bolsonaro e sua agenda de reformas. “Como ele (Bebianno) é da política, ajuda a contaminar o peso geral, não tenha dúvida. Mas para a frente ele não tem nenhuma consequência”, concluiu.
Já a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), por sua vez, disse não acreditar que a crise no governo se estenda. Ela refuta, por exemplo, a queda do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também envolvido no suposto esquema de desvio de verbas públicas em campanhas de laranjas pela sigla. “Ele [Álvaro Antônio] tem uma relação mais afetuosa com o presidente. O Bebianno já teve essa relação. A situação deles é diferente”, avaliou.
Segundo a parlamentar, ainda que é preciso haver um muro entre a “casa” [família] do presidente e o Palácio do Planalto, se referindo à interferência dos filhos de Bolsonaro no governo. “Foi um episódio ruim, desagradável, mas que serviu para aprender com o tropeço e sair andando mais forte”, defendeu, ao comentar o desenvolvimento entre Bebianno e o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), que o chamou de mentiroso, após o ex-ministro afirmar que havia conversado com Bolsonaro durante a crise das candidaturas laranja.
Nesta terça-feira (19/2), áudios de WhatsApp comprovaram que Bebianno e o presidente trocaram mensagens sobre o assunto. “O Carlos tem que entender que ele é muito grande por ser filho do presidente. Qualquer coisa que ele falar, por menor que seja, terá repercussão”, acrescentou.
Reforma da Previdência
A proposta da reforma da Previdência será apresentada nesta quarta-feira (20). Bolsonaro levará pessoalmente o texto ao Congresso Nacional e fará um pronunciamento na rede de rádio e TV.
Sobre o conteúdo da proposta, Alceu adota um tom moderado. “Como presidente da frente, tenho que fazer o papel de magistrado, de mediador. Não dá para eu começara emitir opinião sobre hipóteses. Quando tivermos a proposta, a frente se reúne e aquilo que é interessante para o campo nós teremos um discurso para ser feito ao governo e à sociedade”, destacou.
Comedido, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) avaliou como a crise pode atrapalhar o cronograma de reformas do Planalto. “Qualquer turbulência política afeta a vida do governo no Congresso. Quanto mais expostos está o governo e quanto maior a sua impopularidade, mais difícil é sua articulação”, disse ao Metrópoles.