Em crítica a Dallagnol, Bolsonaro cita pastor de Michelle e primo de Aras
Presidente acusa ex-procurador da Lava Jato de tráfico de influência para tentar emplacar nome na Procuradoria-Geral da República
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) acusou nesta quarta-feira (15/12) o ex-procurador da República Deltan Dallagnol de tráfico de influência e disse que vai mostrar indícios na tradicional transmissão ao vivo pelas redes sociais realizada às quintas-feiras. Segundo o mandatário, o ex-coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato teria agido para indicar um nome de interesse dele à Procuradoria-Geral da República (PGR).
“Vou mostrar na live o tráfico de influência do Dallagnol. Olha só, hein, pessoal. É bom gravar aí, tá? Naquela operação… Na Vaza Jato, aquela troca de mensagens lá, tem uma onde o Vladimir Aras, que é primo do Aras (tem nada a ver um com o outro), pergunta para o Dallagnol: ‘Você conhece o pastor da primeira-dama?’. ‘Conheço’. Depois ele pergunta lá na frente: ‘Dá pra marcar uma audiência com ele?’. ‘Dá’. Daí ele retorna: ‘Já telefonei, pode ligar pra ele’. Sabe o que o Vladimir Aras e o Dallagnol queriam? Via minha esposa, colocar um nome na PGR de interesse deles da Lava Jato”, disse Bolsonaro a apoiadores na manhã desta quarta.
Em seguida, Bolsonaro afirmou que alguns integrantes da Lava Jato votaram em Fernando Haddad (PT) no segundo turno das eleições de 2018. “Você sabia que no segundo turno a maioria do pessoal da Lava Jato votou no Haddad? Nada contra, é direito deles. Mas não era o pessoal que tava combatendo a corrupção do PT? E tá lá na troca de mensagens o interesse também, tá ok?”
As declarações de Bolsonaro foram dadas a apoiadores no “cercadinho” do Palácio da Alvorada e divulgadas por um canal no YouTube simpático ao presidente.
No domingo (12/12), Bolsonaro pediu para que seus seguidores assistissem e compartilhassem um documentário, de autoria do jornalista Kim Pain, com críticas a Dallagnol.
Em vídeo, o chefe do Executivo federal afirmou que Dallagnol, em 2019, quando se falava muito da escolha do novo procurador-geral da República, teria ligado para o Palácio do Planalto pedindo uma conversa com o presidente. De acordo com o ex-procurador, no entanto, ocorreu o contrário.
“Eu jamais pedi reunião com ele ou liguei para ele, nem antes nem depois da indicação do PGR que acabou com a Lava Jato [Dallagnol aproveitou para criticar o procurador-geral Augusto Aras]. Interlocutores do Planalto me procuraram em 2019 para saber se eu aceitaria me reunir com ele, mas eu recusei”, disse.
Carreira política
Na última sexta-feira (10/12), o ex-coordenador da Lava Jato se filiou ao Podemos em cerimônia realizada em um hotel de Curitiba (PR). Ele ainda não afirmou a qual cargo pretende ser candidato em 2022. O ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro, que também está filiado ao Podemos e deve lançar candidatura ao Palácio do Planalto, esteve na solenidade.
Em seu discurso, Dallagnol reclamou de algumas decisões da Justiça e de alteração de leis que, segundo ele, “amarraram” o trabalho de procuradores.
“Nós vimos aprovação de regras que amarram o trabalho de procuradores e de juízes na investigação e no processamento de pessoas poderosas. Nós vimos passar regras que esvaziam as colaborações premiadas. Nós vimos passar regras que amarravam e impediam as prisões preventivas da Lava Jato”, disse o ex-procurador do Ministério Público Federal (MPF) na ocasião.